Se alguém é cristão, é criatura nova

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17/04/2017 - 15:45

Queridos irmãos e irmãs, com fé e esperança percorremos com Jesus estes longos dias do caminho quaresmal. Tivemos a certeza de sua vitória sobre o pecado e a morte como vitória nossa também. O convite feito aos discípulos Pedro, Tiago e João, para que escutassem atentamente Jesus Cristo, Filho amado de Deus – “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o” (Mt 17,5), explicitado para nós na prática dos exercícios quaresmais da oração, do jejum e da penitência, e seu seguimento, nos preparou bem para celebrarmos o Tríduo Pascal.

Como a Samaritana, no seu diálogo com Jesus junto ao poço de Jacó, fomos levados a conhecer o dom de Deus manifestado na pessoa de Jesus: “Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele e ele te daria água viva” (Jo 4,10). Nosso encontro com a pessoa de Jesus Cristo, fonte de água viva, que nos inunda do seu amor e nos renova, provoca em nós o arrependimento de nossos pecados e nos leva a desejá-lo, a desejar sempre dessa água que sacia e salva: “A água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna”. Somos todos como a Samaritana, cuja vida Deus conhece por dentro e por fora, e, com a sua presença amorosa, sentimos confiança e podemos ter sede, sede dessa água, sede da sua Palavra, sede do seu amor, sede do seu perdão e dizer: “Senhor, dá-me dessa água...” (Jo 4,15).

Como cristãos, no nosso Batismo, fomos enxertados em Cristo, nos tornamos novas criaturas por sua graça, livres do pecado e destinados à vida nova que há em Cristo, a vida divina. O encontro de Jesus com o cego de nascença, o qual Ele envia para que vá se lavar na piscina de Siloé, e que então passa a enxergar, revela a divindade de Jesus “como luz do mundo” (Jo 8,12) e a nossa humanidade, sujeita à cegueira do pecado. Somos, por isso, convidados ao dom da fé em Deus, manifestado na pessoa de Jesus. Pergunta Jesus ao cego: “Acreditas no Filho do Homem”? Este responde: “Quem é Senhor, para que eu creia nele? “Tu o estas vendo; é aquele que fala contigo”. Exclamou o cego: “Eu creio Senhor” (Jo 9, 35-38). Também Marta e Maria, irmãs de Lázaro, o qual Jesus ressuscitou depois de quatro dias de falecido, nos dão um exemplo de fé e de renovação espiritual com a presença de Jesus em sua casa e em sua vida: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mas, mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, Ele te concederá...” Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês nisto?” Respodeu ela: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o Filho de Deus, que devia vir a este mundo” (cf. Jo, 11, 21-27).

São Paulo nos fala que: “Se alguém é cristão, é nova criatura. O que era antigo passou, chegou o novo. E tudo é obra de Deus que nos reconciliou consigo por meio de Cristo...” (cf. 2 Cor 5, 17-18). O Tríduo Pascal, que estaremos celebrando esta semana, nos lembra que na cruz, com sua humilhação, Paixão e Morte, Jesus reúne os dispersos e dá a todos a filiação divina, a qual nos abre as portas do céu.

Dessa forma, todos os batizados e a humanidade inteira, ferida pelo pecado e pela morte, é no agora da Ressurreição de Cristo chamada a se converter à lógica da cruz. “Cristo morreu por todos, e assim, aqueles que vivem, já não vivem para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Cor 5, 15). Crer em Jesus Cristo é assumir o comportamento de uma nova criatura, de alguém já ressuscitado com Jesus, que já possui a vida eterna e a testemunha mediante a fé e o amor para com todos.

Faço votos de abençoada Semana Santa e feliz Páscoa da Ressureição.

Dom Eduardo Vieira dos Santos
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Sé

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Ed. 3146/ 12 a 18 de abril de 2017