Rosa de Lima, a primeira santa da américa do sul

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No Peru, os 400 anos da morte de Santa Rosa de Lima
Publicado em: 24/08/2017 - 13:45
Créditos: Fernando Geronazzo

“Se os homens soubessem o que significa viver na graça, não se assustariam diante de qualquer sofrimento e padeceriam de bom grado qualquer pena, porque a graça é fruto da paciência”. Essas palavras foram ditas pela primeira santa canonizada na América do Sul, Santa Rosa de Lima, cujos 400 anos de morte estão sendo celebrados em 2017.  Padroeira do Peru, de toda a América Latina e das Ilhas Filipinas, Santa Rosa nasceu em Lima, no Peru, em 1586. Filha de uma família nobre de imigrantes espanhóis, chamava-se Isabel Flores y de Oliva, mas foi apelidada de Rosa por uma empregada de sua casa que dizia que ela era “bonita como uma rosa”. Quando sua família perdeu toda a fortuna e passou por grandes necessidades, Rosa, ainda adolescente, ganhava a vida trabalhando na lavoura e 
como costureira até a madrugada. Em meio a essa situação de grande pobreza, apareceu-lhe a oportunidade de se tornar muito rica por meio de um casamento, mas Rosa o rejeitou por fidelidade a Jesus Cristo, a quem desde cedo desejava seguir e consagrar toda a sua vida. “O prazer e a felicidade de que o mundo pode me oferecer são simplesmente uma sombra em comparação ao que sinto”, dizia. 


Leiga consagrada

Como ainda não havia ordens religiosas no Peru, Rosa se consagrou, como leiga, na Ordem Terceira Dominicana, tendo Santa Catarina de Sena com seu modelo de vocação. Nessa ocasião, assumiu definitivamente o nome Rosa de Santa Maria. Dedicada ao cuidado dos pobres e aos trabalhos ordinários de uma dona de casa – que é chamada a desempenhá -los quotidianamente - impôs-se um regime de vida austero, que se distinguia por uma extraordinária penitência. 

Aos 23 anos, Rosa passou a viver em uma espécie de eremitério, com um quarto de apenas dois metros quadrados, construído pelo seu irmão no quintal da casa de seus pais. Lá, ela vivia em oração e penitência, crescendo na união com Cristo, até falecer aos 32 anos, em 24 de agosto de 1617. Foi beatificada em 1667 e tornou-se a primeira santa da América Latina ao ser canonizada, em 1671, pelo Papa Clemente X, com a festa litúrgica marcada para o dia 23 de agosto. A devoção a Santa Rosa de Lima propagou-se rapidamente nos países latino-americanos, sendo venerada pelos fiéis como Padroeira dos jardineiros e dos floristas.


Mística

Para o Padre Luciano Andreol, Pároco da Paróquia Santa Rosa de Lima, em Perus, na Região Episcopal Brasilândia, o que mais chama a atenção na Padroeira é o fato de ter sido uma leiga que se consagrou totalmente ao serviço dos irmãos mais necessitados. Recordando os poucos escritos de Santa Rosa, o Sacerdote a define como uma mística, mesmo sem ter conhecido os místicos espanhóis de sua época, como São João da Cruz e Santa Teresa d’Ávila. “A maneira como Santa Rosa relatava as graças recebidas e os sofrimentos vividos nos últimos cinco anos de sua vida mostram que ela era uma das precursoras dos místicos”. Diante dos sofrimentos causados por uma enfermidade, Rosa afirmava que só podia explicar o que sentia com o silêncio.  “Eu não acreditava que uma criatura pudesse ser acometida de tão grandes sofrimentos. Meu Deus, podes aumentar os sofrimentos, contando que aumentes meu amor por ti”, escreveu. Contemplativa, Santa Rosa vivia uma profunda união com o “Amado”. “No seu relacionamento espiritual com Cristo, ela dizia ser a “rosa de Jesus”, completou Padre Luciano. Tal intimidade também se revelava quando unia seus sofrimentos à cruz de Cristo. “Todos sabemos - confiou-lhe Jesus - que a graça segue a tribulação; saibam que sem o peso das aflições não se alcança o vértice da graça; compreendam que tanto mais cresce a intensidade dos sofrimentos, tanto mais aumenta a medida dos carismas. Ninguém erre nem se engane; esta é a única verdadeira escada do paraíso, e sem a cruz não há outro caminho pelo qual subir ao céu”, afirmou.
 

400 anos

No Peru, os 400 anos da morte de Santa Rosa de Lima têm como tema “400 anos intercedendo por ti”, fazendo referência aos milhares de pedidos que foram levados à primeira Santa da América do Sul ao longo dos anos. As comemorações começaram em agosto de 2016, na Basílica do Santíssimo Ro sário do Convento de São Domingos, onde estão sepultados seus restos mortais. Ao longo do ano, as relíquias da Padroeira percorreram todo no Peru.  O Papa Francisco enviou o Cardeal Raúl Eduardo Vela Chiriboga, Arcebispo emérito de Quito, no Equador, como seu representante na celebração solene de conclusão do jubileu, no dia 30. A Paróquia Santa Rosa de Lima da Região Brasilândia se inspirou no tema das festividades do Peru para realizar a quinzena preparatória da festa da Padroeira, que será comemorada solenemente no domingo, 27. Em cada dia, um padre convidado reflete sobre as diversas realidades pelas quais Santa Rosa intercede: a realidade das famílias, da Igreja, dos leigos, dos noivos, dos casais, dos ministros, dos religiosos e do País. Na Arquidiocese, há quatro paróquias e uma comunidade com o título de Santa Rosa de Lima, que organizaram programações especiais para celebrar a Padroeira (confira no quadro acima).