"Devemos resgatar a identidade católica de nossos centros educativos"

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A Arquidiocese de São Paulo realizou no dia 6, o Congresso Católico de Educação, no qual foi abordado o tema "Qual é a identidade e a missão dos educadores e instituições católicas?"
Publicado em: 10/05/2017 - 15:30
Créditos: O SÃO PAULO

"Qual é a identidade e a missão dos educadores e instituições de ensino?" Essa foi a pergunta que norteou o I Congresso Católico de Educação, realizado pelo Vicariato Episcopal para a Educação e a Universidade da Arquidiocese de São Paulo, em parceria com as Edições SM.

O evento reuniu educadores e dirigentes de instituições católicas de ensino no Centro Universitário Ítalo Brasileiro (UniÍtalo), em Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo, no sábado, 6. O Congresso também contou com a presença do arcebispo de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, e do bispo diocesano de Santo Amaro, Dom José Negri, além de especialistas da área da Educação.

Dom Carlos Lema Garcia, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo e vigário episcopal para a Educação e a Universidade, destacou que em São Paulo existe uma grande quantidade de instituições de ensino ligadas à Igreja Católica, desde creches até universidades, além de inúmeros professores católicos que atuam em vários âmbitos da educação, em escolas públicas e privadas. "Temos uma força transformadora muito grande em nossas mãos", afirmou.

"O principal objetivo do Congresso foi reforçar qual é o grande diferencial que nós, enquanto católicos, temos a oferecer às pessoas que continuam procurando as nossas escolas, as nossas universidades e os nossos professores", explicou, o Padre Vandro Pisaneschi, coordenador de pastoral do Vicariato. As principals conferências foram proferidas pelo professor Gabriel Perissé, pós-doutor em História e Filosofia da Educação, e pela Irmã Alba Rivas, da Congregação das Filhas da Caridade, no Equador, formada em Educação e Gestão Educacional e Doutrina Social da Igreja, e secretária geral da Conferência Interamericana da educação Católica (CIEC).

Também aconteceram oficinas com temas como "Ensino Religioso", "Escola em Pastoral", "Formação Integral", "Educação e Sociedade" e "Educação em Valores", coordenadas por especialistas de diversas áreas.

CONDUZIR A CRISTO

Irmã Alba apresentou um panorama da educação católica na América Latina. Ela destacou que as instituições educativas em geral estão reformulando tanto o seu papel social e funções quanto a própria missão à luz das novas realidades.

"Se percorremos nossas escolas, públicas e católicas, confessionais e não confessionais, poderíamos responder a essas perguntas: Percebe-se alguma diferença substancial entre elas? Poderíamos apreciar diferenças na atenção aos estudantes; diferenças na dedicação docente a determinadas atividades complementares; há algum sinal que recorde a essência da sua identidade? Essas diferenças justificam a presença das escolas católicas na sociedade e no sistema educativo? A presença da escola católica na sociedade tem um sentido?", indagou a religiosa.

Para a Irmã, a escola católica tem hoje uma plena significação, talvez mais do que nunca, somente e for capaz de voltar ao que é essencial de suas origens. "O coração da educação católica é sempre a pessoa de Jesus Cristo. Tudo o que acontece na escola católica deveria conduzir ao encontro do Cristo vivo."

Por fim, Irmã Alba apontou três possíveis espaços nos quais a educação católica é chamada a atuar: a formação da consciência moral, a educação no amor e na sexualidade, e o desenvolvimento da dimensão social e política da caridade.

EDUCADOR DO ENCONTRO

Para o Perissé, a primeira ideia importante é compreender que os professores são o núcleo vital de qualquer escola, projeto pedagógico ou plano para a educação. No entanto, o educador deve estar sempre à frente de seu tempo para não se tornar obsoleto. "Estamos na 'idade mídia' e muitos professores estão na 'Idade Média'", afirmou, destacando que os estudantes hoje são altamente influenciados pela tecnologia não só quanto ao seu uso, mas em tudo oque envolve o comportamento mental e a atitude da vida.

Nesse sentido, o Professor indica que é preciso repensar a avaliação, a didática e a dinâmica na sala de aula. "Nos tornamos 'aulistas', 'provistas' e 'notistas', reproduzimos novamente uma escola que não educa. Pode preparar para alguma coisa, mas não forma", salientou. 

Segundo Perissé, o professor deve se preocupar acima de tudo com o desenvolvimento que implica envolvimento, em outras palavras, o encontro, categoria que ele define como fundamental para a Educação. Porém, para ser um educador do encontr, é preciso primeiro se encontrar e compreender a própria missão.

EMERGÊNCIA EDUCATIVA

Ao recordar os 10 anos da realização da V Conferência Geral do Episcopado latino-Americano e do Caribe, em Aparecida (SP), Dom Odilo destacou o que o documento conclusivo do evento afirma: existe uma verdadeira emerg~encia educativa não só da educação católica, mas em modo geral. "Os fatores são muitos. Porém, o Documento de Aparecida fala de um claro reducionismo antropológico, uma compreensão distorcida, insuficiente e unilateral da pessoa humana", disse Dom Odilo.

O texto chama a atenção para o fato de a educação atualmente estar mais voltada para a vida econômica, esquecendo que a pessoa humana não é uma máquina que precisa apenas ser preparada para entrar no mercado. "A educação deve ser lugar de formação integral da pessoa humana, pela qual a pessoa aprende a se situar no tempo, na cultura, nas relações sociais e nas responsabilidades pessoais em relação a ela própria e à sociedade", enfatizou o Cardeal.

Segundo o Acebispo, a escola católica é chama da a uma profunda renovação. "Devemos resgatar a identidade católica de nossos centros educativos por meio de um impulso missionário corajosos e audaz, de modo que chegue a ser uma opção profética plasmada em uma pastoral da educação participativa", disse.

Dom Odilo reforçou ainda a necessidade de se reivindicar a liberdade de ensino e a não aceitar que seja excluída do processo educativo a proposta católica de educação. "A multiplicidade de propostas educativas assegura uma pluralidade de pensamento, de formação cultural, que permite à sociedade manter-se mais democrática a partir de contribuições que vêm de diversos âmbitos.

ESCOLA EM PASTORAL

Falando à reportagem, Padre Vandro reforçou que é preciso mudar a concepção de que existe na escola católica uma pastoral que seja quase que o único meio responsável por demonstrar os valores cristãos dentro da instituição. "A escola tem que estar toda em pastoral. Nas suas relações pessoais, na estrutura, no currículo, no projeto educativo, deve manifestar a sua vocação cristã e não esquecer que ela é parte integrante da Igreja. Nenhuma escola católica é apêndice ou anexo da Igreja, mas parte que colabora, e muito, na missão evangelizadora", disse.

O Coordenador de Pastoral destacou, ainda, que as instituições de ensino católicas precisam ter excelência acadêmica, mas sem abrir mão da excelência cristã. "Nós devemos ser reconhecidos porque nossos alunos passam efetivamente nas provas e exames, mas também porque eles saem das nossas escolas pessoas melhores, que fazem a diferença enquanto profissionais nas suas áreas, como pais de família e formadores de opinião."