Conselhos antigos sempre atuais ao estudante

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15/02/2018 - 11:00

Agora que começaram as aulas, parece um bom momento para transmitir uns conselhos vindos de boas mãos. Segundo o Cardeal Albino Luciani, em seu interessante livro “Ilustríssimos Senhores”, em 1427, os estudantes da Universidade de Siena pediram a São Bernardino um conselho para tornarem-se pessoas de valor. O Santo respondeu-lhes mencionando sete atitudes em relação ao estudo, que permanecem válidas ainda hoje. Vamos agrupá-las em três pontos. 

1) Estima e deleite: Ninguém vai estudar seriamente sem primeiro estimar o estudo. Não se pode considerar o estudo como um mal necessário, como quem se submete a uns anos de preparação intelectual para conseguir um emprego melhor no futuro e ganhar independência financeira. O estudo coloca-nos em contato com os grandes pensadores e estudiosos do passado. Permite-nos conversar com grandes mestres, como Pontes de Miranda, Oswaldo Cruz, Aristóteles etc., e entender o que ensinaram, admirá-los e surpreendernos com as conclusões a que chegaram. Para isso, precisamos aprender a apreciar seus escritos, suas obras, seus livros. 

2) Separação e silêncio: Sem isso não se estuda com seriedade. Se os atletas têm um regime de vida diferente, o estudante também precisa de um sistema semelhante de separação e silêncio. Separar-se das leituras frívolas, de devaneios intermináveis na internet, desligar o som. Ainda que pesquisas demonstrem o crescimento da produção de leite em vacas holandesas ordenhadas com música clássica no curral, o ser humano normalmente necessita de silêncio e concentração para estudar. Inclusive algumas bibliotecas de universidades europeias oferecem aos usuários um pequeno tampão de ouvido para garantir o silêncio completo durante suas pesquisas e estudos. 

Separação também significa dispor de um local apropriado e definir um horário exclusivo. Uma boa biblioteca ou uma silenciosa sala de estudos permite atingir um rendimento no estudo muito superior ao realizado em lugares barulhentos ou agitados. Se a cabeça está dominada por imagens desconexas ou um turbilhão de sons e ritmos fortes, como vão se sedimentar os novos conhecimentos? Para tirar maior proveito do estudo, meu caro amigo, experimente proteger seu ecossistema mental da agressão das imagens e sons estridentes e ensurdecedores. 

3) Equilíbrio, continuidade e moderação: Equilíbrio e medida são duas condições semelhantes à alimentação sadia: nem de mais, nem de menos. São igualmente prejudiciais para o estudo os extremos do adiamento e das viradas noturnas. Por um lado, existe a preguiça que adia continuamente e deixa acumular a matéria. Por outro, aqueles que deixam de propósito o estudo durante semanas, e depois embrenham-se em noitadas intermináveis para recuperar o tempo perdido. Costumo pensar que um estudante que vira a noite estudando não passa de um preguiçoso, precisamente porque, em seus desleixos e adiamentos, fugiu do estudo durante muito tempo, até não poder adiar mais, pela proximidade das provas. A indisciplina nos horários cansa, esgota, deixa o organismo fraco. Por isso, é preciso estabelecer um plano de estudo com um horário e um programa dividido por matérias. É melhor aprender um menor volume de matérias, mas bem assimilado, do que muitas coisas mal assimiladas.

Continuidade: A borboleta pousa numa flor e, sem deter-se, passa para outra e outra... A abelha, discreta, é mais operativa: para e suga todo o néctar de uma espécie determinada de flor; depois leva-o para a colmeia, a fim de produzir o mel substancioso. Você é um estudante-borboleta ou um estudante-abelha? Não bastam os desejos e os propósitos de início de ano: é preciso querer. Não apenas começar a querer, mas continuar querendo. Nem só continuar, mas saber recomeçar todas as vezes em que se parou por preguiça, por um fracasso, ou uma queda. 

Moderação: Não dar o passo maior do que a perna. Não querer abarcar excessivas atividades ao mesmo tempo: academia, Inglês, computação, cursinho para concurso e 35 créditos na universidade. Como me dizia aquele rapaz, bom músico: “Eu gostaria de estudar violino para tocar na orquestra sinfônica, mas devo estar disposto a renunciar a isso se atrapalhar meus estudos de Engenharia”. 

Continuam ainda bastante atuais os conselhos de São Bernardino aos estudantes de hoje. Vale a pena considerá-los. Feliz retorno às aulas!

 

Dom Carlos Lema Garcia
Bispo Auxiliar da Arquidiocese e
Vigário Episcopal para a Educação e a Universivade