A oração dos Salmos

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21/02/2014 - 00:00

Na Antiga Aliança, o rei Davi aparece como “o pastor que ora por seu povo e em seu nome, aquele cuja submissão á vontade de Deus, cujo louvor e arrependimento serão o modelo da oração do povo. Sua oração é adesão fiel à promessa divina, confiança cheia de amor e alegria naquele que é o único Rei e Senhor” (CIC 2579).

 

Ao rei Davi é atribuído o livro dos Salmos que o torna na tradição de Israel, e depois na Igreja, o “primeiro profeta da oração judaica e cristã”.

 

“Os salmos alimentam e exprimem a oração do povo de Deus como assembleia, por ocasião das grandes festas em Jerusalém e a cada sábado nas sinagogas...O Saltério é o livro em que a Palavra de Deus se torna oração do homem” (CIC 2587).

 

Na sua Catequese sobre o livro dos Salmos (Roma, 22 de junho de 2011), o Papa Bento XVI diz que “o saltério apresenta-se como um ‘formulário’ de orações, uma coletânea de cento e cinquenta salmos, que a tradição bíblica oferece ao povo dos fiéis para que se tornem a sua, a nossa oração, o nosso modo de nos dirigirmos a Deus e de nos relacionarmos com Ele.”

 

Os salmos reúnem as mais diversas experiências humanas, demonstrando, assim, que toda realidade humana pode tornar-se objeto de oração. Neles “entrelaçam-se e exprimem-se alegria e sofrimento, desejo de Deus e percepção da própria indignidade, felicidade e sentido de abandono, confiança em Deus e solidão dolorosa, plenitude de vida e medo de morrer”, afirma Bento XVI.

 

São diversos os gêneros literários dos salmos: hinos, lamentações, súplicas, individuais e comunitárias, cânticos de ação de graças, salmos sapienciais e outros gêneros. Entretanto, podemos dizer que dois grandes tons se destacam na oração sálmica: a súplica e o louvor. A súplica se realiza na certeza de que Deus sempre atende; e o louvor e ação de graças brotam justamente da experiência de uma salvação realizada.

 

Os salmos, diz Bento XVI, ensinam a rezar. “Neles, a Palavra de Deus transforma-se em palavra de oração – e são as palavras do salmista inspirado – que se torna também palavra do orante que recita os salmos.”

 

O saltério é dado “ao fiel precisamente como texto de oração, que tem como única finalidade tornar-se oração daqueles que os assumem e com eles se dirigem a Deus. Dado que são uma Palavra de Deus, quem recita os salmos fala a Deus com as palavras que o próprio Deus nos concedeu, dirige-se a Ele com as palavras que Ele mesmo nos doa. Deste modo, recitando os salmos aprendemos a rezar. Eles constituem uma escola de oração”.

 

Com eles aprendemos a dirigir-nos a Deus, comunicar-nos com Ele, a falar-lhe de nós com as Suas palavras; assim aprendemos também a conhecer a aceitar os critérios do Seu agir, aproximar-nos do mistério dos seus pensamentos e dos seus caminhos (cf. Is 55, 8-9).

 

O título que a tradição judaica deu aos salmos é tehilim, um termo hebraico que significa “louvores”. Este livro, complexo e diversificado, com seus diversos gêneros literários é acima de tudo um livro de louvores, que ‘ensina a dar graças, a celebrar a grandeza do dom de Deus, a reconhecer a beleza das suas obras e a glorificar o seu santo Nome. 

 

Ao ensinar-nos a rezar, os salmos ensinam-nos que mesma na dor, em meio ao sofrimento, a presença de Deus sempre gera estupor e consolação: “pode-se chorar, suplicar, interceder e lamentar-se, mas com a consciência de que estamos a caminhar rumo à luz, onde o louvor poderá ser definitivo”.