Mês missionário extraordinário

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02/10/2019 - 11:30

Nasci em Cerro Largo, região das Missões, no Rio Grande do Sul, na Diocese de Santo Ângelo, que foi uma das reduções missionárias dos Jesuítas com os índios Guarani. A cerca de 30 quilômetros do lugar onde nasci, está localizada Caaró, localidade onde foi martirizado São Roque González, no século XVII. Um pouco mais longe, correu o sangue de outros dois missionários mártires: Santos Afonso Rodriguez e João de Castilho. A paróquia local tinha sido criada em 1905 e entregue aos cuidados dos mesmos filhos da Companhia de Jesus, que, séculos antes, haviam vivido a epopeia missionária naquela região.

Meus pais, quando ainda jovens, participavam todos os anos da peregrinação paroquial a Caaró, prática que marcou a religiosidade deles e de muitos casais e famílias daquela região. Nos primeiros anos de minha infância cresci ouvindo hinos aos “três mártires rio-grandenses”, que minha mãe cantava enquanto trabalhava. Isso faz parte das lembranças de minha primeira infância, e ficou gravado no meu DNA religioso.

Em 1951, minha família migrou para o oeste do Paraná, onde passei boa parte de minha infância e juventude, até os primeiros anos de sacerdócio. Aquela região integrava a prelazia territorial de Foz do Iguaçu, que foi desmembrada e extinta, em 1959, dando origem às dioceses de Toledo e Campo Mourão. A área das duas dioceses havia sido território missionário entregue aos Missionários do Verbo Divino, já em 1925. O Pároco de minha família era um desses Missionários Verbitas, um homem muito dedicado e alegre, que atendia mais de 50 comunidades católicas espalhadas por um vasto território. Padre Aloísio Baumeister era o seu nome.

Ele marcou mais uma vez minha vida, quer pelo seu exemplo, quer pelo que falava nas suas pregações. Abriu-me um horizonte missionário e despertou em mim o desejo de ser padre missionário como ele. Mas ele teve a generosidade de me encaminhar para o “Seminário do Bispo” da recém-criada Diocese de Toledo, em 1962. Tornei-me padre diocesano, mas guardo uma imensa gratidão pelo testemunho missionário dele.

No Seminário Menor e na Diocese de Toledo, deparei-me novamente com a realidade missionária: o Bispo era um missionário italiano da Sardenha, da Congregação dos Oblatos de São José, dos Josefinos de Asti. Um homem generoso e empreendedor, dono de uma larga visão sobre a Igreja e o mundo. Ele trouxe para a sua diocese, durante o Concílio Vaticano II do qual participou, missionários fidei donum da Diocese de Cuneo, no Piemonte. Esses missionários do clero secular foram fantásticos pastores do povo e empreendedores dedicados. Eles me ensinaram muito durante todo o período de minha formação sacerdotal e também nos primeiros anos de exercício do ministério presbiteral.

Em 1975, já no fim do meu itinerário formativo para a ordenação sacerdotal, foi realizada a assembleia do Sínodo dos Bispos sobre a evangelização, do qual resultou a Exortação Apostólica pós-sinodal Evangelii Nuntiandi, documento que me inspirou e ainda inspira muito no serviço da evangelização. E o Papa João Paulo II, com suas viagens e visitas apostólicas, abriu os vastos horizontes do mundo para a missão da Igreja, como havia pedido o Concílio Vaticano II. Vivi e acompanhei de perto os muitos e variados momentos missionários da preparação e realização do Jubileu do ano 2000.

Não quero deixar de relatar que, ainda adolescente, li o livro sobre a vida de Santa Teresinha do Menino Jesus. Esta pequena e querida Santa, padroeira dos missionários, encheu também o meu coração de ardor missionário. Como Bispo, fui mandado para São Paulo, onde a Igreja nasceu de uma missão dos Jesuítas, em 1554. E aqui me encontrei de perto com os Santos José de Anchieta, Galvão e Paulina, Beata Assunta e Beato Mariano e tantos outros santos missionários, que fizeram e fazem ainda um grande bem à Igreja! Devo reconhecer que o tema missionário me acompanha desde a infância e me fascina.

E qual é a sua história missionária? Não quer contar para outros durante este “Mês Missionário Extraordinário”?

Cardeal Odilo Pedro Scherer
Arcebispo Metropolitano de São Paulo
Publicado em O SÃO PAULO, na edição de 02/10/2019