Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta

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15º Bispo Diocesano
3º Arcebispo
1º Cardeal
(1944-1964)

Lema: IN SINV IESV "No Seio (Coração) de Jesus"

BIOGRAFIA

Nascido em 16 de julho de 1890, na cidade de Bom Jesus do Amparo, fazenda Quinta do Lago, no estado de Minas Gerais. Era filho de João de Vasconcelos Teixeira da Motta e Francisca Josenias dos Santos Motta. Concluiu seus estudos primários na fazenda da Prata, paróquia de Taquaraçu, distrito de Caeté, junto à Serra da Piedade. Em seguida, foi para Congonhas do Campo, onde estudou humanidades no Colégio de Matosinhos, dos irmãos maristas.

Em 1904, ingressou no Seminário Menor de Mariana. Desencorajado pelo diretor espiritual, voltou para a casa de seus pais e trabalhou com seus pais na fazenda. Em 1912, foi eleito vereador da câmara municipal de Caeté. Cursou até o segundo ano da faculdade de direito em Belo Horizonte (1910-1911). Em confissão ao padre redentorista Severino Severens, manifestou seu desejo de se tornar padre, sendo assim encorajado a voltar para o seminário.

O seminário maior o recebeu em 1914. Seus grandes objetivos eram o bem da Igreja e da pátria. Em seus estudos buscava a ciência de Deus, o belo, o útil. Recebeu a primeira tonsura em 20 de março de 1915 e 08 de abril do mesmo ano, as ordens menores. Em 10 de abril de 1917, recebeu o subdiaconato.



PRESBITERADO

Ordenado sacerdote em 29 de junho de 1918 pelo arcebispo de Mariana, dom Silvério Gomes Pimenta. Celebrou sua primeira missa na Matriz do Santíssimo Sacramento da paróquia de Taquaraçu, no dia 07 de julho de 1918. Ficou seis meses como vigário auxiliar nessa cidade. Sua primeira nomeação canônica foi para os cargos de capelão do Asilo São Luís da Serra da Piedade e de auxiliar do monsenhor Domingos Evangelista Pinheiro. Exerceu ainda seu ministério no Recolhimento de Macaúbas e nas paróquias de Caeté e Sabará, antes de ser chamado a dirigir o seminário da Arquidiocese de Belo Horizonte, onde permaneceu até 06 de agosto de 1932.



EPISCOPADO

Dom Carlos Camelo de Vasconcelos Motta, contando com 42 anos de idade, foi nomeado bispo titular de Algiza e auxiliar de Diamantina (MG), em 29 de julho de 1932,  o lema episcopal escolhido pelo novo bispo era In sinu Iesu  (No Coração de Jesus). Recebeu a sagração episcopal em 30 de outubro de 1932, na matriz de São José, em Belo Horizonte, sendo sagrante dom Antônio dos Santos Cabral, arcebispo metropolitano, sendo consagrantes dom Ranulfo da Silva Farias, bispo de Guaxupé e dom Antônio Colturato, bispo de Uberaba.

Em Diamantina, permaneceu durante dois anos. Visitou igrejas e capelas rurais; ordenou sacerdotes; fundou o Colégio Diamantinense; reformou a catedral e adquiriu o respeito e o prestígio de toda a população. Com o falecimento de dom Joaquim Silvério de Souza, dom Carlos passou a administrar a arquidiocese de Diamantina, como vigário geral, até o ano de 1934. No dia 19 de dezembro de 1935, foi nomeado vigésimo quarto bispo e segundo arcebispo de São Luís do Maranhão. Tomou posse no ano seguinte.  

Como arcebispo do Maranhão, instalou no palácio episcopal um colégio e o entregou aos cuidados dos irmãos maristas. Passou a residir numa casa simples, em um dos bairros mais modestos da capital maranhense. Ao longo dos oito anos (1936-1944) que permaneceu no Maranhão, fundou um leprosário, incentivou as obras das vocações sacerdotais, atraiu para sua arquidiocese congregações religiosas masculinas e femininas, promover a fundação de quatro departamentos da Ação Católica e realizou grandes reformas na Catedral de São Luís. Solicitou da Santa Sé a criação da diocese de Caxias, instalada em 22 de julho de 1939 e a prelazia de Pinheiro, criada em 13 de julho de 1940 e do qual foi administrador até 1944. Todo o dinheiro que recebia, destinava ao seminário e ao orfanato.

No dia 13 de agosto de 1944, dom Carlos Carmelo foi designado como décimo quinto bispo e terceiro arcebispo da arquidiocese de São Paulo. No dia 07 de setembro de 1944, por meio de uma procuração outorgada ao monsenhor José Maria Monteiro, vigário capitular de São Paulo, tomou posse. Poucos conheciam dom Carlos. Quase ninguém se lembrava de sua participação no IV Congresso Eucarístico Nacional. No dia 16 de novembro do mesmo ano, chegou a São Paulo e foi recebido, ainda na catedral provisória, para ocupar pessoalmente o cargo de arcebispo metropolitano.

No consistório secreto de 24 de dezembro de 1945, o papa Pio XII elevou dom Carlos Carmelo à categoria de cardeal presbítero da Igreja de São Pancrácio. Em cerimônia realizada aos 18 de fevereiro de 1946, Pio XII impôs ao novo purpurado o chapéu e o anel cardinalício. Em 25 de março do mesmo ano, retornou de Roma e foi recebido em São Paulo, com grandes comemorações. Em 02 de agosto de 1977, tornou-se protopresbítero do colégio cardinalício. 

Assim como dom José Gaspar, dom Carlos Carmelo tinha grande preocupação com o ensino universitário católico. O cardeal criou uma comissão com o intuito de criar uma universidade católica em São Paulo. No início, as dificuldades para criar a universidade foram muitas. A Universidade Católica de São Paulo começou a funcionar num prédio situado na Avenida Higienópolis, em 18 de março de 1946. Em 13 de agosto do mesmo ano, no Palácio Pio XII, aconteceu a cerimônia de inauguração. Um decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra concedeu à instituição as prerrogativas de universidade livre. Era festa do Imaculado Coração de Maria, a qual foi consagrado à instituição e sua capela.

Dando continuidade aos seus projetos, o cardeal Motta requisitou às irmãs carmelitas o Mosteiro das Perdizes, a fim de que o espaço servisse de campus para a universidade. O pedido foi aceito pelas irmãs, que em 23 de dezembro de 1948, entregaram à Fundação São Paulo (mantenedora da Universidade) o edifício. O mosteiro foi transferido para a Avenida Jabaquara, onde está até hoje.

No dia 16 de maio de 1947, o cardeal Motta, comunicou através de telegrama a nomeação de dom Antonio Maria Alves de Siqueira, nascido em São Paulo em 14 de novembro de 1906, como bispo de auxiliar de São Paulo. Em maio de 1948, foi a vez do padre Paulo Rolim Loureiro, até então vigário geral da Arquidiocese ser nomeado bispo auxiliar.

Em 14 de outubro de 1952, o cardeal Motta participou de uma reunião, juntamente com 25 arcebispos brasileiros e o núncio apostólico Carlos Chiaro, no Palácio São Joaquim, residência oficial do arcebispo do Rio de Janeiro. Neste encontro, os bispos presentes criaram a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), escolhendo dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, seu primeiro presidente. O cardeal paulistano dirigiu a entidade pelo período de sete anos.

No ano de 1953, foi criada a Rádio 9 de julho, com autorização temporária para funcionar durante as comemorações do quarto centenário da cidade de São Paulo. Sua frequência alcançava a maioria dos estados brasileiros e diversos países da América Latina. Dom Antonio Ferreira de Macedo foi seu primeiro diretor, contando com a ajuda do padre redentorista Laurindo Rauber, grande comunicador com vasta experiência devido ao seu trabalho na Rádio Aparecida. Quando foram encerradas as comemorações do aniversário de São Paulo, o presidente da República, Café Filho, ofereceu a Arquidiocese duas emissoras de rádio, o que foi de pronto aceito pelo cardeal Motta. Para receber a concessão, o arcebispo fundou a Sociedade Comercial Rádio 9 de julho Ltda, composta pelo próprio arcebispo, quatro bispos auxiliares e dois padres, em julho de 1955. À concessão da Rádio 9 de Julho se deu pelo presidente Juscelino Kubitschek, no ano de 1956. A data escolhida para a inauguração da Rádio foi o aniversário de 80 anos do papa Pio XII, que fez questão de enviar uma mensagem para a primeira transmissão da emissora.

Dom Carlos nunca mediu esforços para que as obras de construção da catedral metropolitana fossem concluídas, obtendo recursos e agilizando a construção. No dia 25 de janeiro de 1954, mesmo sem as torres, inaugurou o templo como parte dos festejos dos quatrocentos anos de fundação da cidade de São Paulo. Estiveram presentes bispos, sacerdotes, grande número de fiéis, além do presidente da República Getúlio Vargas.

Era costume do cardeal Motta presidir reuniões mensais com o clero arquidiocesano, no salão da cúria metropolitana, onde informava sobre os vários e urgentes problemas da arquidiocese e fortalecia a unidade entre os padres.

Em 25 de janeiro de 1956, nascia o jornal O São Paulo, como transformação do periódico O Legionário, de 1929, que substituiu a A Gazeta do Povo, de 1905, primeiro jornal da Arquidiocese de São Paulo.

Com a mudança da capital brasileira para a região centro-oeste do país, esta recebeu o nome de Brasília, como sugestão do cardeal Motta ao seu amigo pessoal, o então presidente da República, Juscelino Kubitschek, a sede passou a se chamar Brasília. Dom Carlos celebrou a missa de inauguração da cidade em 03 de maio de 1957.

Em 30 de outubro de 1957, dom Carlos comemorou jubileu de prata de sagração episcopal. O arcebispo pediu que neste dia a verdadeira imagem de Nossa Senhora da Penha fosse levada solenemente para a catedral. A intenção era pedir à padroeira da cidade o fim da estiagem, pois havia meses não chovia. Era costume, nos séculos passados, por ocasião de calamidades públicas, trazer a imagem para a Antiga Sé. A primeira visita se deu em 1814. A segunda, por ocasião de uma grande seca, em 1846; a terceira, em 1869, por ocasião da guerra no Paraguai e depois em 1875.

No mesmo ano de 1957, no mês de dezembro, a câmara municipal de São Paulo conferiu ao cardeal Motta o título de cidadão paulistano, sob a proposta do vereador Dario de Lorenzo, aprovada com unanimidade pelos vereadores da época.

Uma preocupação que movia o coração do terceiro arcebispo de São Paulo era a escassez de vocações sacerdotais, bem como a formação acadêmica e espiritual dos seminaristas. Na cidade de São Paulo, não havia proteção suficiente para as vocações sacerdotais, tanto na ordem material, quanto na ordem espiritual.  Em 13 de setembro de 1957, o arcebispo convocou uma coletiva de imprensa, onde apresentou oficialmente os motivos para a realização do II Congresso Nacional das Vocações Sacerdotais, que se deu entre os dias 04 e 09 de novembro daquele ano. No ano de 1948, foi fundado o seminário menor metropolitano Imaculado Coração de Maria, na cidade de São Roque, sendo entregue aos cuidados dos padres da Arquidiocese de São Paulo.  

Em 19 de abril de 1958, a Bula “Sacrorum Antistitum” comunicava que o Papa Pio XII criava a Arquidiocese de Aparecida, separando-a da Arquidiocese de São Paulo (cidade de Aparecida) e da Diocese de Taubaté (Guaratinguetá, Potim, Roseira, Lagoinha). Por sediar um santuário mariano, a cidade de Aparecida estava ligada a Arquidiocese de São Paulo mesmo depois da criação da Diocese de Taubaté. Estabelecida a nova Arquidiocese, Dom Antonio Ferreira de Macedo, CSsR, bispo auxiliar de São Paulo, tomou iniciativas e medidas práticas para a instalação.

Com a morte de Pio XII, em 1958, o cardeal Motta publicou uma nota oficial pedindo que fossem realizadas cerimônias fúnebres em todas as Igrejas da Arquidiocese. Na catedral, o cardeal celebrou no dia 15 de outubro, missa pela alma do papa, onde se fizeram presentes os bispos auxiliares, o clero, autoridades civis e militares, bem como um grande número de fiéis. No mesmo dia, o cardeal partiu para Roma para participar do Conclave. Após a eleição de João XXIII, dom Carlos Carmelo retornou a São Paulo, trazendo consigo a benção do novo papa.

Dia 29 de novembro de 1958, o papa João XXIII, nomeou o cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta, administrador apostólico da nova Arquidiocese, tendo tomado posse dia 08 de dezembro de 1958, dia em que a arquidiocese foi instalada.

Em 06 de janeiro de 1959, o cardeal Motta abençoou o carrilhão de sinos da Catedral Metropolitana. Estavam presentes à cerimônia o presidente da República Juscelino Kubitschek, o governador do Estado Jânio Quadros, e o prefeito de São Paulo Adhemar de Barros. Grande número de fiéis tomou parte da celebração.

Dom Carlos Carmelo fazia questão de participar das celebrações de cunho político. No dia 12 de dezembro de 1959, após celebrar uma missa na catedral, recebeu de membros da Marinha Nacional a oferta de uma nova bandeira nacional para permanecer no templo. O cardeal abençoou a bandeira e proferiu um discurso patriótico e piedoso, mandando que o pavilhão nacional permanecesse ao lado do altar.

Em 20 de setembro de 1962, o cardeal celebrou uma missa na catedral, por ocasião de sua partida para Roma, onde participaria do Concílio Vaticano II. Durante a missa, o cardeal falou aos fiéis sobre seus deveres no Concílio.

Em janeiro de 1963, ocorreu a posse do governador do Estado de São Paulo, Adhemar Pereira de Barros. O cardeal de São Paulo e o senhor núncio apostólico se fizeram presentes. Em 03 de junho do mesmo ano, o papa João XXIII veio a falecer e dom Carlos teve que viajar para Roma, vindo a participar do conclave que elegeu o cardeal Giovanni Battista Montini, de quem a Arquidiocese de São Paulo havia recebido a visita anos antes, papa Paulo VI, em 22 de junho de 1963.

No dia 31 de maio de 1963, o cardeal Motta assinou o decreto de reorganização da arquidiocese de São Paulo em setores pastorais, nomeando para cada um deles um responsável: para o centro, dom Antonio Maria Alves de Siqueira; para o sul, dom Vicente Marchetti Zioni; para o norte, monsenhor José Lafayette A. da Silva; para o leste, monsenhor Romeu Alberti; para o oeste, monsenhor João Batista de Camargo; e para o interior, monsenhor Heládio Correa Laurini. O setor de Aparecida ficou sob os cuidados pastorais de dom Antonio Ferreira de Macedo.

Em 25 de abril de 1964, o cardeal arcebispo de São Paulo foi transferido para a sede arquiepiscopal de Aparecida, no Vale do Paraíba, que já era por ele governada desde sua criação. A transferência se deu devido a um pedido do próprio cardeal ao papa, tendo em vista sua idade avançada (74 anos) e seu estado de saúde debilitado. Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Motta foi portanto, o primeiro arcebispo de Aparecida.

Em Aparecida, o cardeal não descansou, mas impulsionou as obras do Santuário Nacional, cuja pedra fundamental foi por ele lançada, em 10 de setembro de 1946. O Santuário ganhara importância especial, já que Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi declarada padroeira do Brasil, pelo papa Pio XI, em 1930.

Faleceu no dia 18 de setembro de 1982. O arcebispo contava com 92 anos de idade, tendo dedicado 20 anos ao arcebispado de São Paulo, onde criou mais de 100 paróquias, e 18 anos ao arcebispado de Aparecida. Atualmente, seus restos mortais encontram-se sepultados na capela da Ressurreição, no Santuário Nacional de Aparecida.


BRASÃO E LEMA

Lema
IN SINV IESV
"No Seio (Coração) de Jesus"

Descrição: Escudo eclesiástico, partido: o 1º de sinopla, com cinco flores-de-lis de jalde postas em sautor - Armas dos Mottas; o 2º de sable com três faixas veiradas de argente e goles - Armas dos Vasconcelos. O escudo está assente em tarja branca, na qual se encaixa o pálio branco com cruzetas de sable. O conjunto pousado sobre uma cruz trevolada de duas travessas de ouro. O todo encimado pelo chapéu eclesiástico com seus cordões em cada flanco, terminados por quinze borlas cada um, tudo de vermelho. Brocante sob a ponta da cruz um listel de goles com a legenda: IN SINV IESV, em letras de jalde.

Interpretação: O escudo oval obedece as regras heráldicas para os eclesiásticos. Os campos representam as armas familiares do Cardeal. O Campo de sinopla (verde) representa: esperança, liberdade, abundância, cortesia e amizade. As flores-de-lis simbolizam: candura, castidade, pureza, poder e soberania, sendo de jalde (ouro) traduzem: nobreza, autoridade, premência, generosidade, ardor e descortínio. No 2º, o esmalte sable (negro) do campo simboliza: a sabedoria, a ciência, a honestidade, a firmeza e a obediência ao Sucessor de Pedro; as faixas veiradas representam as pontas de peles variadas que ornavam os mantos da nobreza, sendo que pelo seu metal argente (prata) simboliza a inocência, a castidade, a pureza e a eloqüência, virtudes essenciais num sacerdote; e, pela sua cor goles (vermelho), simboliza o fogo da caridade inflamada no coração do Cardeal pelo Divino Espírito Santo, bem como, valor e socorro aos necessitados. O listel tem com lema No Seio (Coração) de Jesus, sendo uma afirmação da confiança do cardeal na promessa de Jesus de que quem nEle espera jamais será confundido.