Moradores da Brasilândia buscam solução para desapropriações inesperadas

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As desapropriações irão acontecer para a construção do Hospital Brasilândia, cujas obras se iniciaram em setembro de 2015.
Publicado em: 20/07/2016 - 17:15
Créditos: Redação com Jornal O SÃO PAULO

Por Fernando Geronazzo

Representantes dos moradores da rua Augusto José Pereira, na Vila Cardoso, na zona Noroeste de São Paulo, e da Arquidiocese de São Paulo participaram de uma reunião com o prefeito Fernando Haddad (PT) no dia 6, em busca de esclarecimentos sobre as inesperadas desapropriações de 44 imóveis no bairro para a construção de um hospital municipal. Entre esses imóveis está a Igreja Nossa Senhora de Guadalupe, comunidade da Paróquia Nossa Senhora do Carmo, construída na década de 1970, durante a conhecida Operação Periferia, que expandiu a presença da Igreja pela cidade. As desapropriações irão acontecer para a construção do Hospital Brasilândia, cujas obras se iniciaram em setembro de 2015. Porém, os moradores foram informados anteriormente que esta não seria necessária. O representante comercial Rogério Marcelo Zillotti de Souza, 45, relatou ao O SÃO PAULO que somente foi informado que sua casa seria desapropriada em 3 de maio. Morador do endereço há 10 anos, Rogério é casado com Jucilene Albuquerque de Souza, que nasceu em uma casa nessa rua. “Recebemos a notificação verbalmente por uma agente da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb), sem nenhum documento. No primeiro momento, não deram nenhum esclarecimento e, no dia seguinte, a funcionária voltou com uma equipe para fazer avaliação dos imóveis. Inicialmente, eu não autorizei a vistoria na minha casa até que houvesse informações e documentações do que estava havendo”, contou o morador, que reuniu os vizinhos e formou uma comissão para buscar explicações junto ao poder público.

Alteração do projeto

Os moradores argumentam que foram pegos de surpresa com a notícia de que houve uma alteração no projeto inicial do hospital municipal devido a outro projeto: a construção de uma estação da linha 6 do Metrô no bairro. A Prefeitura alegou aos moradores que quando iniciou o projeto do Hospital não tinha o conhecimento de que havia a previsão da construção do metrô na mesma região. Rogério esteve entre os moradores que participaram do encontro com o Prefeito, acompanhado do Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, de Dom Devair Araújo da Fonseca, bispo auxiliar na Região Brasilândia, do Padre Zacarias José de Carvalho Paiva, procurador da Mitra Arquidiocesana de São Paulo, e do Padre Eduardo Bina, pároco da Paróquia Nossa Senhora do Carmo. Na reunião, Haddad esclareceu alguns detalhes sobre a mudança do projeto inicial e informou que as desapropriações são inevitáveis. Procurada pela reportagem, a Prefeitura de São Paulo explicou, por meio de nota, que as obras do Hospital Brasilândia passaram por alteração no projeto em atendimento à solicitação do Metrô, que precisa de parte da área para implantação da estação da linha. Por isso, o Governo do Estado fez convênio com a Prefeitura e repassou R$ 14,3 milhões para as desapropriações. A Prefeitura também confirmou que, inicialmente, o projeto não tinha desapropriações previstas, mas com a alteração, a área é necessária para a construção do bloco técnico do hospital, dar acesso à nova unidade, além das obras do metrô. O edital do convênio firmado entre os governos estadual e municipal foi publicado em 9 de julho no Diário Oficial do Município.

Obras

Ainda de acordo com a nota da Prefeitura, os trabalhos de fundações e alicerces do novo Hospital Brasilândia foram concluídos, sendo que no Bloco A e C está sendo construída a primeira laje, e o no Bloco B está sendo feita a terceira laje. “O novo hospital terá atendimento de primeiro mundo com abertura de 250 leitos, sendo 40 leitos de UTI; prontosocorro adulto e pediátrico; quatro salas de emergência; 39 leitos de observação; pronto-socorro com atendimento 24 horas; clínica médica; clínica cirúrgica; anestesistas; ortopedia; ginecologia; neonatologistas; ambulatório adulto e pediátrico; centro cirúrgico, três salas de obstetrícia; centro de diagnóstico e salas de emergência”, diz a nota. Rogério ressaltou que nenhum morador discorda da necessidade de haver um hospital e uma estação de metrô no bairro. “Quando começaram as obras do metrô por aqui, eu fiquei muito feliz. Assim como o hospital, mas, até então, víamos a placa do futuro hospital em outro local e sabíamos que não haveria desapropriações. A insatisfação dos moradores é com a maneira como as coisas foram conduzidas. De repente, quando as obras já começaram, batem na nossa porta e nos avisam que seriamos desapropriados”, afirmou.

Esperança

“A Arquidiocese de São Paulo foi notificada pela Siurb no dia 15 de maio sobre a desapropriação do imóvel da Comunidade. Fomos à Prefeitura, em primeiro lugar, para entender o que realmente estava acontecendo. Depois, para tentar buscar que não houvesse as desapropriações. No entanto, existe um projeto cuja boa parte já está sendo constru- ída e não temos muito o que fazer diante disso”, disse o Padre Zacarias, designado pelo Arcebispo para acompanhar o processo de desapropriação. Dom Devair explicou que Arquidiocese tem duas preocupações. “Em primeiro lugar, a desapropriação não foi dialogada anteriormente, nem foram discutidos os valores com os moradores e, por isso, eles se sentiram lesados enquanto não recebiam esclarecimentos. Em segundo lugar, nos preocupamos com a comunidade que existe ali e queremos garantir que não se perca o espaço celebrativo. Que as pessoas não sejam somente removidas e deixadas sem recursos, mas que possam comprar suas casas na região ou em outro lugar e, por isso, recebam os valores justos”. Segundo o Padre Zacarias, “o Prefeito ficou de encaminhar à Mitra Arquidiocesana e ao representante dos moradores um agente da Prefeitura para orientar sobre as questões mais práticas”, informou, dizendo, ainda, que Haddad garantiu aos participantes da reunião que as indenizações serão justas, no valor de mercado, e que a Prefeitura vai empenhar-se para encontrar um terreno para construção da nova igreja. Assim como Rogério, os demais moradores continuarão atentos ao desenrolar do processo de desapropriação. “Já sabemos que teremos que sair, mas esperamos que tudo aquilo que ficou firmado na conversa com a Prefeitura seja concretizado”, concluiu. 


Reportagem publicada no Jornal O SÃO PAULO -edição 3110 - De 14 a 19 de julho de 2016