A população em situação de rua continua crescendo

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Situação da população de rua
Publicado em: 15/07/2015 - 09:00
Créditos: Jornal O Trecheiro, edição de junho de 2015, página 4

A rede de atendimento também cresceu e se diversificou, mas faltam moradias, oportunidades de trabalho e serviços de saúde para a saída das ruas e dos albergues

A Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE) apresentou os resultados do “Censo da População em Situação de Rua na cidade de São Paulo”, realizado neste ano, em reunião extraordinária do Comitê Intersetorial da Política Municipal para a População em Situação de Rua, com a presença de mais de 100 pessoas, na tarde do dia 20 de maio.

Os resultados dizem respeito à primeira fase do levantamento censitário, que procurou responder a duas perguntas: quantas pessoas estão em situação de rua e onde estão, isto é, sua distribuição espacial na cidade de São Paulo. Pessoas em situação de rua e organizações sociais expuseram dúvidas e questionamentos em relação ao processo de trabalho e resultados do censo. Ficou evidente a insatisfação dos presentes pela ausência de política pública efetiva que contemple a diversidade de questões postas pela situação de rua.

A segunda fase, que deve ser apresentada no 2º semestre, diz respeito ao perfil socioeconômico a ser feito por pesquisa amostral.

O jornal O Trecheiro esteve presente ao encontro e conversou com a equipe da FIPE.

Quem é a população em situação de rua?

Para a realização do censo, é primordial a definição de quem está em situação de rua. A FIPE vem utilizando, desde 2000, a mesma definição: “população em situação de rua é o conjunto de pessoas que por contingência temporária, ou de forma permanente, pernoita nos logradouros da cidade – praças, calçadas, marquises, jardins, baixos de viaduto – em locais abandonados, terrenos baldios, mocós, cemitérios e carcaça de veículos. Também são considerados moradores de rua aqueles que pernoitam em albergues públicos”.

Para Silvia Schor, coordenadora geral do censo, “a definição é a mesma, porque não muda o entendimento de que há grupos próximos, mas não caracterizados pela situação de rua”. É o caso das ocupações, que apresentam estrutura habitacional de certa permanência, mesmo que precária, e das instituições não conveniadas. O número de famílias nas ocupações fornecidas pela Secretaria Municipal de Habitação e o número de pessoas atendidas pela Cristolândia e Missão Belém foram registradas como informações complementares e não incluídas no total do censo, esclareceu ainda Silvia.

Como a realidade social e das instituições é dinâmica, “essa definição não é estática, ela captura as mudanças, porque os grupos crescem e os serviços aumentam e se diversificam”. Vale informar, também, que o “censo incluiu os pontos onde existiam barracas e as pessoas dentro delas”, comentou Silvia. Apesar de divergências que possam ocorrer, é fundamental a definição de pessoas em situação de rua, porque esses grupos apontam necessidades que devem ser atendidas por políticas públicas.

Pesquisar a população em situação de rua, portanto, continua sendo sempre um grande desafio, pela complexidade da situação de rua, pelos problemas que toca, agentes envolvidos, itinerância, tamanho da cidade, dentre outros aspectos.

Nem todos foram contados

Rinaldo Artes, estatístico que faz parte da equipe de coordenação do censo, desde 2000, fez referência ao censo do IBGE. “Sempre, há um grupo de pessoas que não é entrevistado. O número que o IBGE divulga está errado? Não. Se o IBGE que tem um exército de pessoas nas ruas não consegue contar todo mundo, algum tipo de erro é possível que tenha existido. Todo esforço que é feito pela FIPE na definição da metodologia: onde ir, como contar, como abordar é para minimizar esses erros. Que segurança a gente tem? Temos certeza que a ordem de grandeza é essa, um pouco mais, um pouco menos, mas é essa, 15 mil e não 25 mil”, concluiu Rinaldo.

Resultados

Entre 23 de fevereiro e 26 de março de 2015, o levantamento censitário contou 15.905 pessoas em situação de rua na cidade de São Paulo. Desse total, 8.570 pessoas encontravam-se nos serviços de atendimento (acolhidos) e 7.335 foram contados nas ruas e espaços públicos da cidade (moradores de rua).

Segundo a FIPE, a interpretação desse resultado pode ser feita, primeiramente, comparando-os com os números encontrados nos recenseamentos anteriores. A comparação com os dados anteriores possibilita avaliar a trajetória dessa população, ao longo do tempo.

Número de pessoas em situação de rua (2000/2015)

Em números absolutos, a população na cidade cresceu continuadamente entre 2000 e 2015, isto é, quase dobrou: a variação no período foi de 82,7%.

Maria Antonieta Vieira, da equipe de coordenação do censo, destacou que a população em situação de rua cresce a uma velocidade muito maior que a população paulistana. “Entre 2000 e 2015, crescimento anual da população da cidade foi de 0,7%, enquanto o total de pessoas em situação de rua crescia 4,1%”.

O crescimento foi mais acentuado principalmente no segmento de acolhidos. Em 2015, o número de acolhidos é aproximadamente o mesmo que o total da população em situação de rua em 2000.

Sintese dos levantamentos e censos realizados em São Paulo


Obs: A informação completa das fontes estão no facebook e no site da Rede Rua

Crescimento anual do número de moradores de rua

Com relação aos moradores de rua, no período de 2009/2015, percebe-se uma desaceleração do crescimento no Centro (0,6%) e maior crescimento no restante da cidade (3,3%).

Planejamento do trabalho de campo

Antes da ida às ruas para a contagem, há um extenso trabalho de estratégia, com o levantamento de informações sobre locais com presença de pessoas em situação de rua e dos serviços de acolhida; divisão da cidade em áreas; roteiros e mapas; formação e treinamento das equipes e estratégias de campo. Para isso, a FIPE contou com as equipes técnicas da Smads, Secretaria Municipal da Saúde e GCM, além de pessoas e instituições da sociedade civil, incluídos o MNPR, os comitês e fóruns que se dispuseram a participar e que conhecem a dinâmica e a rotina das ruas e dos serviços.

Número de Acolhidos por tipo de serviço

Dentre as pessoas que se utilizam dos serviços (8.570), a maioria (73,7%) é atendida pelo Centro de Acolhida geral. Ainda é pequeno (1.682) o número de pessoas atendidas pelo Centro de Acolhida especial (19,6%), como mulheres e idosos, bem como é muito reduzido (144 pessoas) o atendimento nas repúblicas (1,7%), programa voltado para a saída da situação de rua.