Ano da Misericórdia: Da propaganda à recepção

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Jubileu Extraordinário da Misericórdia
Publicado em: 23/11/2016 - 09:00
Créditos: Edição 3128, Jornal O SÃO PAULO, p. 06.

Cartazes, faixas e banners sobre o Ano Santo extraordinário da Misericórdia multiplicaram-se em muitas comunidades. Cartilhas populares, artigos científicos ou obras de referências foram publicadas. O hino do Ano Jubilar foi amplamente entoado de forma ordinária em Igrejas e assembleias. Em síntese, divulgou-se, ensinou-se e celebrou-se a misericórdia neste ano.

O Jubileu extraordinário da Misericórdia, da gestação à sua abertura, realização e encerramento, cumpriu um longo processo. Atos simbólicos, como jubileus específicos com sacerdotes, acólitos, crianças, religiosas, canonizações, a Jornada Mundial da Juventude e a inédita abertura do jubileu na Catedral de Bangui, na República Centro-Africana, delimitaram a tônica que se acredita que este ano quis imprimir à Igreja: A misericórdia ao alcance de todos, particularmente os sofredores e excluídos.

Doravante tem-se a missão de fazer com que aquilo que o Papa Francisco, citando São João XXIII, propôs com esse tempo, “uma Igreja dada mais ao remédio da Misericórdia que da severidade” (Misericordiae Vultus, 4), se perpetue nas ações concretas dos agentes de pastoral, das autoridades eclesiásticas e de todos os homens e mulheres de boa vontade. Estima-se que os atos e ações que revelem a misericórdia do Senhor sejam a ordem do dia, atividade ordinária entre crentes, e que isso convença os não crentes. Urge, portanto, a necessidade de migrar de uma mentalidade propagandista a uma ideia de recepção, apropriação contínua e ordinária da ação misericordiosa.

Nesse sentido, é oportuno refletir sobre os desdobramentos necessários para que se consume um ideário de efetiva recepção dos postulados da misericórdia na prática ordinária da pastoral da Igreja. Deve-se acentuar que a passagem pela Porta Santa, as orações a ela associadas e a caridade implicada nessa ação para lucrar “indulgências” precisam se transformar num compromisso de rezar pelos que sofrem e agir em favor dos indefesos (inclusive politicamente); Que iniciativas como as 24 horas para o Senhor se tornem no ordinário da vida dos fiéis na capacidade de perdoar, superar rivalidades, preconceitos ou bairrismos (tão aflorados nestes tempos); Que os jubileus específicos que puseram em foco inúmeras categorias de seres humanos ajudem a reconhecer que todos, homens e mulheres, por mais fortes que sejam, necessitam da misericórdia de Deus para serem melhores, mais humanos, mais solidários e mais compassivos uns para com os outros. Enfim, que o sentimento ou a ideia de misericórdia se torne palpável e comum na vida das pessoas.

 

Pe. Reuberson Rodrigues Ferreira, MSC é mestrando em Teologia pela PUC-SP e vigário da Paróquia São Miguel Arcanjo, na Arquidiocese de São Paulo.

As opiniões da seção “Fé e Cidadania” são de responsabilidade do autor e não refletem, necessariamente, os posicionamentos editorias do O SÃO PAULO.

 

Fonte da imagem: http://formacao.cancaonova.com/igreja/ano-da-misericordia/saiba-como-viv...