Pode existir um bom apostolado sem a oração

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Fé e Cidadania
Publicado em: 08/02/2017 - 15:15
Créditos: Edição 3136, de 1º a 7 de fevereiro de 2017, do Jornal O SÃO PAULO, p. 05.

Fazer apostolado é um “espaço de vida” mais ou menos longo que nos é dado de realizar, mas, lentamente vai chegar o momento em que isto não será possível, pela idade, pela lucidez, pela capacidade física ou por outros motivos, mas sempre podemos e devemos ser apóstolos, cheios de amor pelo anúncio do evangelho. Quantas vezes temos ouvido falar e temos falado uma frase bonita de ser pronunciada e difícil de ser vivida: “O que importa não é o fazer, mas é o ser.” Santa Teresinha do Menino Jesus, que destas coisas entendia, diz: “Na Igreja minha mãe, serei o amor e assim serei tudo: sacerdote, missionária, apóstolo, mártir, profeta, doutor...”

Através da consciência do amor, podemos chegar a todos os continentes, em todos os lugares. E São João da Cruz, um mestre de fina espiritualidade, afirmava: “Vale mais um ato puro de amor, que todas as obras juntas”.

Há um texto deste místico e doutor da Igreja que diz: “Considerem aqui os que são muito ativos, e pensam abarcar o mundo com suas pregações e obras exteriores: bem maior proveito fariam à Igreja, e maior satisfação dariam a Deus – além do bom exemplo que proporcionaram de si mesmos - , se gastassem ao menos a metade do tempo empregado nessas boas obras em permanecer com Deus na oração (Cântico Espiritual 28). Santa Teresa de Ávila, por sua vez, proclamava: “Obras quer o Senhor!” São afirmações de místicos que sabem bem unir Marta e Maria, como irmãs que trabalham juntas. Mas o que é a oração? É água que fecunda o nosso agir, como fecunda o deserto. As obras são necessárias, e não podemos nos refugiar numa estéril “contemplação”, mas devemos sempre ter os olhos fixos na parábola mais bela do evangelho, que é a da videira: “Eu sou a videira, o Pai é o agricultor, e vós sois os ramos. O Pai poda a videira para que ela produza frutos e frutos abundantes.

Sem a oração , o apostolado é uma obra humana e, quando chegar a noite das obras, nos sentiremos inúteis e jogados de escanteio. Jamais o orante deveria se sentir inútil na Igreja. Ele sabe que sua oração silenciosa, sua oferenda da vida é agradável a Deus. Ele é fermento, sal e luz. O ato sublime do apostolado de Jesus é quando ele morre na Cruz, dando a vida por nós e sendo assim verdadeiramente missionário do Pai, que realiza tudo por amor e no amor. No entardecer da vida, não seremos julgados pelas obras, mas pelo amor. Esta reflexão me ajuda e quem sabe pode ajudar também os outros a nunca se sentirem inúteis. Quando não puderem mais fazer apostolado, serão sempre apóstolos.

 

Frei Patrício Sciadini, OCD

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