Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas

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11/08/2015 - 09:00

As palavras de Francisco na Bolívia continuam a ressoar em toda a América latina e alcançam o mundo inteiro. Não são palavras antiquadas, do século passado. São atuais, palavras do Papa latino-americano em terras latino-americanas para uma igreja com rosto latino-americano que não pode ter medo de sua história, de sua realidade presente e de sua missão. A nós todos, membros dessa Igreja, Francisco convoca para dizermos juntos e sem medo que queremos uma mudança real e verdadeira. Aliás, é preciso começar reconhecendo que precisamos dessa mudança porque as coisas vão mal, muito mal, diz ele.

E vão mal não apenas aqui, e a solução dos problemas globais nenhum país resolve por si mesmo. A questão não é mudar o governo, é mudar o sistema porque ele é insuportável.

O mundo vai mal porque existem muitos camponeses sem terra, muitas famílias sem teto, muitos trabalhadores sem direitos, muitas pessoas feridas na sua dignidade. Indicadores de que as coisas vão mal não são os índices econômicos, mas a realidade de vida das pessoas. Neste mundo, explodem guerras sem sentido e a violência fratricida se apodera até dos nossos bairros; e o solo, a água, o ar e todos os seres da criação estão sob ameaça constante. Todas essas exclusões e situações de calamidade estão ligadas entre si por esse sistema que impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza. É preciso mudá-lo porque não o suportam mais nem os camponeses, nem os trabalhadores, nem as comunidades, nem os povos, nem a natureza.

Palavras do Papa. A mudança das estruturas do sistema econômico que tanto mal causam à humanidade começa quando se vai além da preocupação de cada um em cuidar de si e do pequeno círculo da família e dos amigos. Para todos os que se perguntam: "o que posso fazer?" Responde o Papa: "podem fazer muito. Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas”.

E Francisco nos incentiva: Não se acanhem! Vós sois semeadores de mudança!? E isso porque, a partir dos movimentos populares, assumem as tarefas comuns motivados pelo amor fraterno que se rebela contra a injustiça social. A convocação para lutar contra a injustiça social não se ouve em todos os lugares. Há um silêncio a respeito, mas ele foi quebrado pela voz do Papa em visita a países da periferia.

Lembra que a Igreja não pode nem deve ficar alheia ao combate pela justiça social e aponta para um caminho bastante concreto de transformação que inclui três passos: colocar a economia a serviço dos povos, unir os povos no caminho da paz e da justiça, e defender a Mãe Terra. É tempo de transformar essas palavras em ações e fazê-las se tornarem programa de ação pastoral de todos os grupos e comunidades eclesiais.

Fonte: Edição nº 3063 do Jornal O SÃO PAULO – página 05