Entrevista com Dom Tarcísio Scaramussa

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29/07/2008 - 00:00

Bispo auxiliar para a Região Episcopal Sé, dom Tarcísio Scaramussa foi nomeado por dom Odilo Pedro Scherer bispo referencial para o Setor Juventude e para a Dimensão Catequética da Arquidiocese de São Paulo. Entrevistado por Rafael Alberto, do Jornal "O são Paulo", ele aponta prioridades para estas áreas.

O São Paulo - Como o senhor recebeu a indicação para ser o bispo referencial da juventude em São Paulo? Como pretende conduzir esta nova missão?

Dom Tarcísio Scaramussa - Recebi este mandato nas proximidades da Jornada Mundial da Juventude. Era um momento no qual o tema Juventude estava na ordem do dia na Igreja, e no qual se recordava mais uma vez a opção preferencial pelos jovens. Pensei muito nestes dias sobre esta nova responsabilidade, e como dedicar-me de forma a ajudar a Igreja de São Paulo a concretizar este seu desejo de proporcionar aos jovens o encontro com Jesus Cristo, colocando-os no centro de suas atenções. Preciso ouvir muito e conhecer melhor a realidade, pois estou há pouco tempo na Arquidiocese. Procurarei fazer-me presente e disponível, acompanhando de modo especial a coordenação do Setor Juventude, que pretende “fortalecer as estruturas organizativas que acompanham os processos de educação na fé dos jovens e organizar uma articulação mais ampla que envolva todas as forças que trabalham com os Jovens”.

O São Paulo - Quais são os grandes desafios do Setor Juventude?

Dom Tarcísio Scaramussa - Os jovens precisam de orientação. Mas o que está acontecendo em nossa sociedade é que os adultos têm muita dificuldade para ajudar os jovens, e não raramente parecem muito desorientados! A Igreja também precisa reconhecer com humildade a dificuldade de acolher os jovens, de comunicar-se com eles, de falar suas linguagens. O papa fez referência a isso em sua mensagem aos jovens em Sydney, convocando os próprios jovens a assumirem a tarefa de evangelizar seus coetâneos.
A missão do Setor Juventude é, portanto, ajudar a Igreja na missão de evangelizar os jovens. O papa está indicando uma estratégia possível. Se houver ardor pastoral no coração dos pastores, as portas podem se abrir e as dificuldades vão aos poucos sendo superadas. O Setor Juventude é chamado a pensar a realidade dos jovens na sua integralidade, com atenção especial aos processos grupais de educação na fé dos jovens. Existem várias propostas de trabalho com os jovens, às vezes bem diferenciadas umas das outras num sadio pluralismo, mas nem sempre considerando todos os jovens e todos os aspectos importantes de seu desenvolvimento, e o Setor Juventude é uma referência de orientação e unidade.

O São Paulo - Na semana passada o senhor celebrou a Vigília. Como foi este primeiro contato com os jovens da Arquidiocese?

Dom Tarcísio Scaramussa
 - A vigília na Paróquia de Santa Cecília foi uma celebração em sintonia com a Jornada Mundial da Juventude, que se encerrava naquele exato momento em Sydney. Havia um bom número de grupos, pastorais e movimentos representados e buscando a mesma sintonia, manifestando-se de forma juvenil, com orações, cantos, danças, gestos simbólicos e muita alegria. Diria que foi um encontro significativo, precedido por reflexões sobre o tema da Jornada, por testemunhos de jovens que viveram a experiência de participar numa jornada, e que se concluiu com a celebração da Eucaristia, na qual renovamos nossa fé e disposição de ser discípulos missionários impulsionados pelo Espírito Santo. Não era um grande encontro de massa, mas um encontro qualificado com cerca de 300 jovens e vários adultos também em sintonia com eles, revelando grande sentido de identificação com a Igreja, espírito de comunhão e amor a Jesus Cristo. Senti-me acolhido e aceito pelos jovens, que manifestaram também sua gratidão pela dedicação e amor manifestados por dom Pedro Luiz Stringhini que os acompanhou nestes últimos anos.

O São Paulo - Em relação à dimensão catequética, da qual o senhor também se tornou bispo referencial em SP. Quais os desafios da catequese na cidade grande?

Dom Tarcísio Scaramussa- Penso que grande parte dos desafios da catequese na cidade grande se relacionam com a questão da inculturação do evangelho no contexto urbano. Isto significa viver a fé numa realidade de pluralismo e de mudanças constantes, fortalecendo a adesão pessoal a Cristo e a identidade católica, aprofundando e atualizando constantemente os fundamentos e motivações de fé. Num contexto de mudanças constantes, quem não se atualiza vai ficando à margem em curto espaço de tempo. É uma realidade inexorável. As mudanças acontecem em todas as esferas da vida, e as exigências de atualização e aperfeiçoamento também. O Documento de Aparecida diz que a catequese neste contexto precisa “levar em consideração a mutação dos códigos existencialmente relevantes nas sociedades influenciadas pela pós-modernidade e marcadas por amplo pluralismo social e cultural”. Para isso, é de “fundamental importância a catequese permanente e a vida sacramental, que fortalecem a conversão inicial e permitem que os discípulos missionários possam perseverar na vida cristã e na missão em meio ao mundo que os desafia”. A catequese permanente engloba todas as fases da vida, da infância à idade adulta, com atenção especial à família, com múltiplas propostas e metodologias, não descurando o mundo da comunicação e das novas tecnologias. Esses desafios implicam num cuidado especial dos padres e agentes de pastoral, para que possam contribuir significativamente no processo de educação da fé dos cristãos que vivem nesta grande cidade de São Paulo.

Fonte: Jornal "O São Paulo" - Arquidiocese de São Paulo - n.2708 de 29 de julho de 2008.