Arquidiocese inicia construção da Igreja Santa Paulina em Heliópolis

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A Arquidiocese de São Paulo deu início à construção da igreja-matriz da Paróquia Santa Paulina, em Heliopólis, na zona Sul da Capital.
Publicado em: 05/10/2016 - 16:00
Créditos: Fernando Geronazzo / Jornal O SÃO PAULO - Fotos: Luciney Martins
A tarde do sábado, dia 1º, foi histórica para os católicos de Heliópolis, na zona Sul de São Paulo. Os fiéis da Paróquia Santa Paulina, na Região Episcopal Ipiranga, celebraram o lançamento da pedra fundamental de sua matriz paroquial, concretização de um sonho cultivado em uma história de mais de 30 anos da presença missionária da Igreja em um dos bairros mais populosos da cidade.
 
A cerimônia foi presidida pelo Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo metropolitano, e contou com a presença de Dom José Roberto Fortes Palau, bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, do Padre Pedro Luiz Amorim Pereira, pároco, e demais padres e religiosos.
 
Ao comentar o trecho do Evangelho proclamado durante o rito, no qual Jesus afirma que aquele que ouve a Palavra de Deus e a põe em prática é como quem constrói a casa sobre a rocha, Dom Odilo destacou que, assim como são necessários fundamentos profundos e sólidos para a edificação do novo templo, Jesus, “pedra angular”, é o fundamento firme para a vida do cristão. “O templo é apenas uma imagem daquilo que somos nós, pedras vivas da Igreja”, disse. 
 
A pedra fundamental foi colocada no local sob o qual será construído o altar da igreja. Sob a pedra, foi depositada uma caixa com objetos simbólicos oferecidos pelas comunidades que formam a Paróquia, além de um exemplar do jornal do dia, a edição semanal do O SÃO PAULO; um exemplar do folheto litúrgico do domingo, 2; uma moeda atual; uma lista com os nomes dos trabalhadores da obra do templo e a ata da cerimônia. Essa espécie de “cápsula do tempo”, como explicou o Cardeal, tem o objetivo de registrar o momento histórico do início da construção da igreja para as gerações futuras, caso um dia o local seja aberto.

 

O templo 

O novo templo terá 300 m2 e, de acordo com o Padre Pedro Luiz, ficará pronto antes da Páscoa do próximo ano. “Muitos missionários ajudaram a construir o que nós hoje temos enquanto Igreja. Mas essa sede paroquial é um presente da Arquidiocese de São Paulo. Somos gratos por olharem para nós com amor”, disse o Pároco no seu agradecimento, referindo-se à campanha de arrecadação de recursos iniciada no centenário da Arquidiocese, em 2008, para a construção da Igreja Santa Paulina.  

Presença missionária

Após a cerimônia nas obras da nova matriz, o povo seguiu em procissão pelas ruas do bairro em direção à Comunidade São José Operário, sede provisória da Paróquia, onde Dom Odilo presidiu uma missa. Na homilia, o Arcebispo afirmou que esse era um momento significativo não só para aquela Paróquia, mas para toda a Igreja em São Paulo.

Ao recordar que outubro é o mês das missões, Dom Odilo destacou que a Igreja em Heliópolis é uma comunidade missionária, mas acrescentou que ainda é preciso intensificar o trabalho para tornar o Evangelho de Jesus mais presente e, assim, atrair as pessoas para orientarem suas vidas para Deus.

Para o Cardeal, a construção da nova igreja tem um sentido missionário muito forte. “Que isso possa concretamente ajudar a crescer a Igreja aqui em Heliópolis. Que vocês, famílias católicas que vivem aqui, se sintam encorajadas e lembradas. Toda a Arquidiocese de São Paulo está lembrando de vocês e ajudando a construir a nova igreja”, afirmou. 
 
Dom Odilo ressaltou que o Evangelho tem uma força de transformação muito grande. “Por isso, não tenham medo de serem católicos e darem testemunho de Jesus Cristo e serem uma Igreja viva no meio deste povo. Que cada um de vocês seja também essa força missionária que, com a fé em Deus, consegue fazer grandes coisas”, exortou.
 

‘Cidade do sol’

A palavra Heliópolis, que em grego significa “cidade do sol”, dá nome à Cidade Nova Heliópolis, bairro que hoje possui uma população de aproximadamente 250 mil habitantes e nasceu naquela que já foi considerada uma das maiores favelas da América Latina. Sua origem se deve à iniciativa do próprio poder público que, em 1971, removeu 150 famílias da favela de Vila Prudente para a gleba de Heliópolis, construindo alojamentos provisórios para as mesmas.
 
Em 1978, novos alojamentos provisórios foram implantados, dessa vez para 60 famílias removidas da favela Vergueiro. Paralelamente, teve início nessa região a ação dos grileiros que, além de ocuparem parte da área, começaram a comercializar os lotes. Em 1980, o poder público acabou cedendo às pressões do movimento popular e implantou programas para instalação de redes de água, esgoto, e de energia elétrica, iniciando o processo de urbanização da região. 
 
A presença da Igreja Católica junto aos moradores do Heliópolis existe desde a origem do bairro, por meio das pastorais da Favela e da Moradia. Sua área abrangia os territórios das paróquias Santa Edwiges e São João Clímaco. Em 1991, foi criada uma área pastoral no bairro, entregue aos cuidados dos missionários Xaverianos, que atuaram até 1997, auxiliados pelos Oblatos de Maria Imaculada e por seminaristas Camilianos. Em 1998, chegaram os missionários da Consolata, as Irmãzinhas da Imaculada Conceição e a Irmãs Franciscanas Angelinas. 
 
A Igreja local reunia-se nas casas e formava pequenas comunidades eclesiais de base. Moradora do Heliópolis há 32 anos, Josefa Benedita dos Santos, 65, participou ativamente do início da missão da Igreja no bairro. Ela contou à reportagem que sua casa de dois cômodos foi um ponto de referência da comunidade, onde eram feitos encontros e celebrados sacramentos. “Quantas vezes o padre atendia confissões sentado na minha cama, pois era o único espaço que havia para acolher as pessoas”, relatou Josefa, hoje coordenadora da Pastoral do Batismo.  

 

A Paróquia

Em 2002, começou a discussão sobre a criação de uma paróquia em Heliópolis para atender melhor a população e garantir maior autonomia jurídico-religiosa às comunidades locais. Os objetivos eram estar em uma área necessitada e de grande extensão populacional, o maior bolsão de pobreza da cidade de São Paulo; ampliar o trabalho de evangelização junto às famílias, ruas e núcleos de moradia; e favorecer a população por meio de atendimento paroquial e de projetos sociais. A padroeira escolhida foi Santa Paulina, canonizada naquele ano.
 
“Foi uma festa muito grande quando recebemos a notícia da criação de uma paróquia aqui justamente com o título de Santa Paulina”, relatou Josefa, recordando que quando ainda nem sonhavam com a canonização de Madre Paulina, sua presença já era forte no bairro por conta da atuação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição, congregação criada pela Santa.  
 
A Paróquia Santa Paulina foi fundada no dia 14 de dezembro de 2003, em celebração presidida por Dom Gil Antonio Moreira, então bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Ipiranga, quando Padre Ricardo Gonçalves de Castro, missionário da Consolata, foi nomeado o primeiro pároco. 
 

Casa aberta

No local onde será erguida a nova matriz-paroquial existia um imóvel antigo, onde já eram desenvolvidas atividades sociais da Paróquia. Maria Inês Lara Martins, 53, moradora do bairro há 22 anos, era uma das responsáveis pela obra social que acolhia crianças deficientes e necessitadas, oferecia cursos de costura e distribuía roupas e alimentos. 
 
“Era uma casa aberta para quem precisasse”, disse. Ela relatou, emocionada, que testemunhou muitas histórias de vida e superação no tempo dessa casa, que, segundo ela, era um lugar onde se compartilhavam momentos de alegria e de tristeza do povo. “Quantas vezes, por exemplo, depois de realizarmos uma festa com as crianças, tínhamos que preparar o espaço para acolher um velório de alguém da comunidade”, contou.
 

Unidade 

Padre José Lino Motta Freire, hoje pároco da Paróquia Santa Ângela e São Serapião, na Vila Morais, tinha apenas dois meses e meio de sacerdócio quando foi designado pároco para o Heliópolis, em 2010. Ele foi o primeiro padre do clero arquidiocesano a assumir a Paróquia e a residir no bairro, com a aquisição de uma residência paroquial. “Foi uma experiência magnífica! Com a ajuda de outros padres colaboradores, continuamos o trabalho de construir a unidade das comunidades eclesiais que aqui já existiam e fomentar a compreensão do que significa ser um território paroquial”.
 
Pároco desde 2012, Padre Pedro Luiz reforçou a importância da matriz-paroquial enquanto sinal da unidade eclesial no bairro. “Heliópolis surgiu de várias missões e, antes que se tornasse uma área pastoral e depois uma paróquia, havia comunidades que desconheciam a existência das outras. Por mais que uma das comunidades, a maior delas, ficasse definida como sendo a sede paroquial, ainda não é o que dá um sentido de uma comunhão eclesial, justamente porque é apenas um conglomerado de comunidades. Hoje, com o lançamento da pedra fundamental da nova matriz, pudemos mostrar que aqui é uma casa de todo mundo, um lugar para o qual chegamos juntos e daqui faremos uma caminhada em uma unidade maior”.
 

Igreja viva

A Paróquia Santa Paulina já realiza as atividades comuns de uma paróquia: Catequese, liturgia, Batismo, grupo de jovens, Pastoral da Caridade, escola bíblica etc. Todas as sextas-feiras ainda há celebrações e visitas missionárias nas casas.
Dentre os desafios para a evangelização, o Pároco destacou a evangelização da juventude que, segundo ele, pode se perder muito facilmente em meio ao perigo das drogas e até da criminalidade. “Nos últimos anos, temos buscado dar a eles responsabilidades. Quem evangeliza os jovens são os próprios jovens. Estamos organizando, inclusive, um encontro querigmático [primeiro anúncio da mensagem cristã]. Temos que alcançá-los cada vez mais cedo para não os perder para outras coisas.” 
 
Douglas da Conceição, 24, estuda Engenharia Civil e atua há três anos na Pastoral da Liturgia. “Estamos ansiosos pela sede da nossa Paróquia. Aquele sonho que a comunidade tinha há tanto tempo agora começa a se realizar”. 
As amigas Vanessa Araújo Bezerra, 27, e Aline Aparecida Messias, 26, participam da Paróquia desde a infância e hoje estão na Pastoral da Juventude. Ambas cresceram testemunhando o desenvolvimento das comunidades desde o tempo dos encontros nas casas, e se alegram com o início das obras da matriz. “A construção da nossa sede-paroquial também mostra o quanto nosso bairro está crescendo e se transformando”, disse Vanessa.  
 
Padre Pedro Luiz também chamou a atenção para a generosidade do povo do Heliópolis. “É algo belo o despertar da consciência de que, mesmo não sendo a Paróquia mais rica da Arquidiocese, ainda conseguimos ajudar os outros. Hoje nós temos uma Pastoral de Caridade pela qual as pessoas conseguem tirar do pouco que elas têm para entregar cestas básicas a famílias que necessitam”. 
 

Família de fé

Dom José Roberto salientou ao O SÃO PAULO que, embora esteja sendo realizado um sonho antigo da construção de uma sede, o principal, que é a Igreja-comunidade, já existia. “Sabemos das dificuldades de se construir uma igreja, porém, mais difícil do que construir um templo é construir um povo. Aqui a comunidade já existe, está bem articulada”.
 
O Bispo afirmou, ainda, que a Paróquia Santa Paulina é a concretização daquilo que a Igreja no Brasil tem pedido para que as paróquias sejam: uma comunidade de comunidades, onde as pessoas se aproximem e se conheçam mais. “Em Heliópolis isso é bem visível”. Dom José Roberto acrescentou que a paróquia não é um conceito ou estrutura superada, mas precisa sempre se adaptar às novas realidades do mundo atual. “Sabemos que a paróquia é fundamental para o trabalho de evangelização e a experiência de fé. É na paróquia que formamos uma grande família”. 
 
Dom José Roberto recordou que os padres, religiosos e leigos que pregaram a Palavra de Deus em Heliópolis deram um testemunho pessoal e eclesial que deixou muitos frutos, tornando a comunidade uma verdadeira família de fé. “Agora, nós somos chamados a dar esse testemunho de fé para as gerações futuras”, completou. 
 

Comunidade de comunidades 

O tema da paróquia foi destaque pastoral na Arquidiocese em 2011 e 2012. Na ocasião, Dom Odilo publicou uma carta pastoral intitulada “Paróquia, torna-te o que tu és”, convidando a Igreja em São Paulo a refletir sobre a vida e missão da organização paroquial. 
 
“Na paróquia, a Igreja manifesta de maneira próxima e perceptível sua vida e sua missão; ela é uma comunidade organizada de batizados, de bens espirituais, simbólicos e materiais, de organizações e iniciativas que fazem a Igreja acontecer num determinado espaço e contexto”, afirmou o Cardeal na carta pastoral.
 
No mesmo documento, o Arcebispo ainda ressaltou que a paróquia é “comunidade de pequenas comunidades, famílias, pessoas, grupos, organizações e instituições, que testemunham a variedade, a riqueza e a beleza dos dons de Deus e estão a serviço da missão recebida de Cristo”.
 

‘Somos felizes’

“Moramos em Heliópolis. Somos felizes!”, disse a catequizanda Geovanna Araújo, 11, ao expressar em versos, no final da celebração, o sentimento dos paroquianos pela construção da nova matriz. E continuou: “Começando pela pedra fundamental, onde aqui, como crianças, vamos plantar nosso coração [...], buscando estar sempre unidos dentro desta grande comunhão, firmando