Beato Mariano de la Mata: um servidor de Deus na cidade de São Paulo

A A
Bênção do novo altar com relicário do sacerdote espanhol que atuou a maior parte da vida na capital paulista foi feita pelo Cardeal Scherer, na segunda-feira, 5
Publicado em: 13/11/2018 - 17:30
Créditos: Redação

Se Santo Agostinho de Hipona (354430), um dos padres da Igreja que viveu nos primeiros séculos do Cristianismo, é conhecido por seus escritos e por sua trajetória de conversão e vivência cristã, o Beato Mariano de la Mata Aparício (1905-1983) testemunha a fé cristã e mostra que a santidade é para ser vivida por todos, em diferentes épocas. 

Beatificado no dia 5 de novembro de 2006, na Catedral da Sé, em São Paulo, durante celebração presidida pelo representante do Vaticano, o Cardeal José Saraiva Martins, o Beato Mariano de la Mata tem seus restos mortais sepultados na Paróquia Santo Agostinho, no bairro da Liberdade, onde atuou até a sua morte, em 5 de abril de 1983.

“O Padre Mariano foi pobre com os pobres, humilde com os humildes e atento aos enfermos e anciãos, solícito com os alunos, os paroquianos e com os associados das Oficinas de Santa Rita, misericordioso com os penitentes, puro de coração, pacífico na comunidade dos religiosos agostinianos e na respectiva família, superando as dificuldades com a oração e o sacrifício, invocando a Virgem Maria sob o apelativo de Nossa Senhora da Consolação, em todos os momentos, até à hora de entregar a sua vida. Tanto no Brasil como na Espanha, a sua memória nos ajudará a dar glória e louvor a Deus e a seguir o seu exemplo”, disse o Cardeal José Saraiva Martins, durante a solenidade de beatificação. 

 

CONSOLO PARA OS DOENTES

Mariano nasceu em Barrio de la Puebla, em Palência, na Espanha, no dia 31 de dezembro de 1905. O menino cresceu num ambiente cristão e foi incentivado a ingressar na Ordem Agostiniana também pelo fato de três de seus irmãos terem abraçado a Ordem.

Em 29 de agosto de 1921, Mariano ingressou no seminário agostiniano de Valladolid, na Espanha, e realizou sua primeira profissão religiosa em 10 de setembro de 1922, ocasião em que fez os votos de pobreza, obediência e castidade. Após oito anos, em 25 de julho de 1930, foi ordenado sacerdote, e já em 21 de agosto de 1931, enviado em missão para o Brasil.

Em 1933, Padre Mariano assumiu o Colégio Santo Agostinho, em São Paulo, onde foi professor, secretário e ecônomo. Entre 1945 e 1948, foi superior da Vice-Província Agostiniana do Brasil. Em 1949, foi para o Colégio de Engenheiro Schmitt, em São José do Rio Preto (SP), sendo diretor por três anos e professor e conselheiro da Vice-Província até 1960. A seguir, transferiu-se novamente para o Colégio Santo Agostinho, em São Paulo, onde permaneceu até o fim da vida.

“De caráter firme, mas generoso, espontâneo, desprendido e muito sensível diante da dor, Padre Mariano terá a sua vida marcada pelo amor aos que sofrem. Verdadeiro mensageiro do amor, levará aos doentes o conforto da sua presença e da sua palavra de esperança. Não importavam as deficiências auditivas e visuais que o acompanharam durante muitos anos da sua vida. O amor era mais forte, a caridade o impelia. ‘A morte não espera’, dizia, a solidão aumenta a dor. Sem preocupações com horários, Padre Mariano saía pela cidade de São Paulo com o seu ‘fusca’, sem pensar nos riscos, enfrentando desafios, mas animado por uma alegria interior e levando um raio de esperança aos doentes e aos que precisavam do seu amor, assim como o incentivo da sua presença e da sua palavra às Associadas das Oficinas de Caridade de Santa Rita de Cássia.” 

O trecho acima faz parte da já citada biografia do Beato, que enfatiza a questão do cuidado e atenção que tinha para com os doentes e como estava sempre disponível para atender aqueles que pediam sua presença. 

O milagre aprovado pela Congregação para as Causas dos Santos e pelo Papa Bento XVI para a beatificação do Padre Mariano ocorreu 1996, em Barra Bonita (SP), com a cura do menino João Paulo Polotto, após um acidente na rua. 

 

FAMÍLIA AGOSTINIANA

O SÃO PAULO entrevistou Frei Cláudio de Camargo, Provincial dos Agostinianos no Brasil, ordem religiosa fundada no ano de 1244, na Itália. Segundo ele, os primeiros agostinianos vieram ao Brasil em 1899. 

Padre Mariano de la Mata chegou ao País com apenas 25 anos de idade e exerceu a maior parte de seu ministério em São Paulo, na Paróquia Santo Agostinho e no Colégio homônimo, no bairro da Liberdade. Segundo Frei Cláudio, Padre Mariano era de uma caridade sem tamanho e demonstrava sensibilidade e cuidado extremos com as pessoas necessitadas, sendo comum, por exemplo, vê -lo levar comida e cobertores àquelas em situação de rua que viviam na praça em frente à igreja-matriz da Paróquia, bem sua disposição em ministrar o sacramento da Unção dos Enfermos às que se encontravam com a saúde debilitada. 

Homem de oração e manifesto amor à Eucaristia e a Nossa Senhora da Consolação, dedicou-se integralmente às Oficinas de Caridade de Santa Rita (equipes de senhoras que confeccionam, costuram e distribuem enxovais e roupas aos recém- -nascidos e pobres) e, por esses e tantos outros motivos, era chamado de “mensageiro da caridade e do amor”. 

 

NOVO ALTAR

Na segunda-feira, 5, dia da memória litúrgica do Beato, estipulada em virtude da data de sua beatificação, houve uma celebração eucarística na Paróquia Santo Agostinho, presidida pelo Arcebispo Metropolitano de São Paulo, Cardeal Odilo Pedro Scherer, seguida de procissão e inauguração e bênção do novo altar com seu relicário.

Durante a homilia, Dom Odilo congratulou a comunidade paroquial pela oportunidade de ter convivido com o Beato Mariano de la Mata, bem como pelo fato de a paróquia abrigar seus restos mortais, testemunho de sua rica e permanente presença e atuação. 

“Hoje, nós estamos lembrando de um homem de Deus, que foi um sinal de Deus, aqui nesta igreja, neste pedaço de São Paulo, uma testemunha de Deus, um servidor de Deus, que com humildade, simplicidade de coração e com a sabedoria do Evangelho, ajudou tantas pessoas a se encantarem por Deus por meio de seu trabalho”. 

O Arcebispo Metropolitano lembrou ainda que Padre Mariano é reconhecido pela Igreja como um homem santo, embora ainda não tenha sido proclamado oficialmente por ela como tal. Ressaltou, também, que quando a Igreja canoniza alguém, essa pessoa não se torna santa a partir de então, mas confirma uma vida de santidade que culmina com o reconhecimento eclesial.  

 

DEVOÇÃO

Ao término da celebração, Dom Odilo fez a bênção do novo altar, acompanhado dos padres agostinianos concelebrantes. Perto deles estava o pequeno Tiago, um garoto de Alagoas, diagnosticado com câncer no cérebro, e que está em tratamento no Hospital A.C. Camargo, em São Paulo. Sua família, desde então, frequenta a Paróquia Santo Agostinho e pede a intercessão do Beato pela cura do menino, fato este que, se ocorrer de forma comprovadamente sobrenatural, poderá vir a ser o milagre necessário para que se tenha mais um santo na Igreja.