'É hipócrita dizer-se cristão e expulsar um refugiado’, diz Papa Francisco

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Em Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado, Pontífice pede cuidados a menores vulneráveis e exige políticas de longo prazo.
Publicado em: 21/10/2016 - 17:45
Créditos: Filipe Domingues/ Jornal O SÃO PAULO
“A hipocrisia é o pecado que Jesus mais condena”, afirmou o Papa Francisco em audiência com um grupo de luteranos, na quinta-feira, 13. “Não é possível ser cristão sem viver como cristão”, acrescentou. “É um comportamento hipócrita dizer-se cristão e expulsar um refugiado, ou aquele que precisa da minha ajuda.” O comentário, com a forte linguagem característica de seu pontificado, foi feito na mesma data em que o Vaticano divulgou a mensagem do Papa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado.
 
No documento, intitulado “Migrantes menores de idade, vulneráveis e sem voz”, o Papa Francisco chama a atenção, primeiro, para a gravidade da questão migratória em todo o mundo. Afirma que acolher quem foge de conflitos e perseguição é “uma dinâmica necessária”. Segundo, pede um cuidado especial aos menores de idade, “principalmente àqueles sozinhos”. O Pontífice diz que as crianças e adolescentes são “três vezes vulneráveis, porque menores, porque estrangeiros e porque indefesos”.
Para o Papa, que considera a questão migratória uma emergência dos tempos de hoje, “entre os migrantes, os menores são o grupo mais vulnerável, porque são invisíveis e sem voz”. São eles as maiores vítimas do tráfico de pessoas, da prostituição e do trabalho forçado. “A precariedade os priva dos documentos, escondendo-os dos olhos do mundo; a ausência de adultos que os acompanhem impede que a sua voz se faça ouvir”, escreveu. “Os menores migrantes acabam facilmente nos níveis mais baixos da degradação humana.”
 
Como responder  ao problema?
Na Mensagem, o Pontífice aponta para três necessidades: a proteção dos migrantes e refugiados, a sua integração no país que os acolhe e a adoção de soluções de longo prazo que possam garantir uma vida de qualidade onde quer que se estabeleçam.
“O baixo nível de alfabetização, o desconhecimento das leis, da cultura e, frequentemente, da língua dos países que os acolhem” tornam os menores ainda mais suscetíveis à manipulação. Para o Papa, é preciso mais “rigor e eficácia” no combate às redes de exploração, contando, inclusive, com a colaboração dos próprios migrantes.
 
A integração dos estrangeiros, afirma o Pontífice, não pode prescindir de políticas adequadas de acolhimento, assistência e inclusão. Sem isso, “em vez de favorecer o inserimento social dos menores migrantes, ou programas de repatriação seguros e assistidos, procura-se somente impedir a entrada dos migrantes, favorecendo, assim, o recurso a redes ilegais”.
 
Acordos de longo prazo
Dado o aspecto global do problema, a implantação de soluções duradouras para a questão migratória exige “procedimentos nacionais e planos de cooperação entre os países de origem e aqueles que os recebem”. Para o Papa Francisco, é preciso eliminar as causas que levam os menores a emigrar de maneira forçada, como guerras, a violação dos direitos humanos, a corrupção, a pobreza, e os desequilíbrios e desastres ambientais. “Isso requer, como primeiro passo, o esforço de toda a comunidade internacional para extinguir os conflitos e as violências que constringem as pessoas a fugir”, exortou.
 
Um dos grandes desafios é, justamente, encontrar um equilíbrio entre os interesses de cada país e o direito dos migrantes de serem acolhidos de forma humana. “O direito de os Estados gerirem os fluxos migratórios e salvaguardarem o bem comum nacional deve se conjugar com o dever de resolver e regularizar a posição dos migrantes menores de idade, no pleno respeito da sua dignidade e procurando ir ao encontro das suas exigências, quando estão sozinhos, mas também das exigências de seus pais, para o bem de todo o núcleo familiar”.
 
Reportagem publicada no Jornal O SÃO PAULO - Edição 3124 - De 19 a 25 de outubro de 2016.