A corrupção é como um tumor dentro da sociedade

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Em entrevista exclusiva à Rádio Vaticano, Dom Odilo Pedro Scherer fala sobre a crise na política brasileira
Publicado em: 30/05/2017 - 12:30
Créditos: Redação

O Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, estando em Roma para participar da reunião da Congregação para o Clero, concedeu uma entrevista exclusiva à rádio Vaticano, explicando o que será feito na reunião e colocando sua palavra e visão de pastor sobre o difícil momento em que se encontra o Brasil.

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Sobre a reunião da Congregação para o Clero, Dom Odilo afirmou que esta “também acompanha os seminários, as vocações, as questões administrativas das paróquias, enfim, as questões administrativas ordinárias da vida da Igreja. Não do Vaticano, porque isso é até um outro departamento, mas da vida da Igreja.”  O Arcebispo explicou que há uma reunião plenária, com “três dias de trabalho, com vários argumentos sobre questões de seminários, porque também estaremos examinando a nova Ratio Fundamentalis, que são as novas diretrizes da Igreja para formação sacerdotal. Estaremos analisando questões relativas também aos padres que deixaram o ministério, as dispensas sacerdotais. Depois, veremos alguma coisa em relação à promoção vocacional.”

Já sobre o momento político brasileiro, Dom Odilo esclareceu que “palavra da Igreja, nós já demos no final da Assembleia Geral da CNBB, no início de maio. Foi uma palavra consistente. Depois disso, a presidência da CNBB se manifestou mais uma vez, também com a palavra muito forte, quando foram aparecendo mais e mais os fatos de corrupção.”

O Cardeal comentou que “o problema, é que nós descobrimos agora o que já vinha acontecendo há muito tempo. Então, nos assustamos muito, porque constatamos que é verdade aquilo que se suspeitava. Isto nos assusta e deixa bastante desorientados.” Porém, em sua visão, é preciso olhar para todas essas questões com esperança.

Comparando a crise a uma ferida, um tumor ou furúnculo, disse que só se é capaz de “ser curado quando ele aparece. Quando ele é descoberto e quando se abre, para limpar. Assim, um pouco, a corrupção pode ser comparada a esses males terríveis. Tumores que estão dentro da sociedade, dentro da cultura. E que se eles não são abertos, não são tradados, não são limpados, esses tumores continuam a fazer muito mal e a estragar a saúde do corpo social, do corpo político, da própria cultura. Então, o que de bom nós podemos ver é que hoje existe um projeto, um processo bastante sereno da Justiça fazer o seu trabalho, o que não acontecia muito no passado. E nós estamos vendo que hoje alguns fatos novos estão acontecendo dentro da norma: que a lei deve ser respeitada, o direito de defesa deve ser respeitado, a presunção de inocência deve ser respeitada; porém, o processo deve ser feito para as devidas verificações. E isso tem aparecido ultimamente, de modo que também personagens ilustres e grandes empresários, grandes políticos etc. acabam sendo presos e vão para cadeia para pagar as suas dívidas. Por outro lado, o dinheiro público desviado e roubado está sendo devolvido”, completou.

Segundo Dom Odilo, há "uma grande interrogação quanto ao futuro político, o futuro próximo" e o Brasil passa por um momento delicado: "não está bom e nós temos mesmo que torcer para que haja suficiente serenidade e lucideis para as próximas escolhas políticas que deverão acontecer daqui por diante".

Por fim, questionado sobre novas eleições, o Cardeal lembrou que se acontecer a queda do governo Temer, a lei prevê a realização de novas eleições. “Eu diria dentro da confusão geral que agora estamos vivendo que novas eleições não chegam num momento muito oportuno. Mas novas eleições trazem também novas possibilidades, temos que olhar aquilo que a lei prevê.  Vamos confiar que dessa disposição legal saiam possibilidades que sejam boas. Embora o quadro no momento não seja bom. Mas vamos confiar que possa haver alguma novidade boa.”

Com informações de Rádio Vaticano