Cardeal Scherer

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‘Esse caminho todo foi marcado por muitas oportunidades que Deus me deu e sou grato por isso’, disse o arcebispo de São Paulo
Publicado em: 09/12/2016 - 17:00
Créditos: Fernando Geronazzo/ Jornal O SÃO PAULO


Ao comemorar 40 anos de ordenação sacerdotal, na quarta-feira, 7, o Cardeal Odilo Pedro Scherer, arcebispo de São Paulo, recordou com exclusividade ao O SÃO PAULO o início de sua caminhada ministerial e falou sobre a realidade vocacional nos dias de hoje. De padre no interior do Paraná a arcebispo da maior arquidiocese do Brasil, Dom Odilo descreveu as quatro décadas de sacerdócio como um “caminho longo”, marcado por muitas oportunidades pelas quais é grato a Deus.

Embora gaúcho de Cerro Largo (RS), Dom Odilo cresceu no Paraná, onde iniciou sua caminhada vocacional e foi sa-
cerdote na Diocese de Toledo (PR). Após 14 anos de formação no Seminário de Curitiba (PR), ele foi ordenado presbítero por Dom Armando Cirio, então bispo de Toledo, em 7 de dezembro de 1976.

“Meu bispo me confiou logo o trabalho da formação dos seminaristas, como reitor, do seminário menor e do seminário de Filosofia. Enquanto isso, eu ajudava no trabalho paroquial, sobretudo nos fins de semana”, contou o Cardeal.

Em 1982, ele foi enviado para estudar em Roma, na Pontifícia Universidade Gregoriana, onde fez mestrado e encaminhou o doutorado em Teologia Dogmática. “Voltando ao Brasil, continuei a colaborar na formação dos seminaristas, mas também me foi confiado o cuidado pastoral da Catedral Diocesana de Tole-
do. Voltando a Roma em 1989, concluí o doutorado em Teologia, na Pontifícia Universidade Gregoriana, em 1991”, recordou.

Após o doutorado, Dom Odilo foi encarregado de dar início ao seminário maior de Teologia e ao Instituto de Teologia de Cascavel (PR), onde atuou até 1994, quando voltou a Roma para trabalhar na Congregação para os Bispos, por oito anos. “Ao todo, passei 13 anos em Roma, entre estudos e trabalho na Santa Sé”, relatou.

Dom Odilo estava em Roma quando em 27 de novembro de 2001 foi nomeado bispo auxiliar de São Paulo por São João Paulo II. “Foi um longo caminho de estudos, trabalhos e experiências diversas, antes de ser nomeado arcebispo em São Paulo, em 2007. Reconheço que esse caminho todo foi marcado por muitas oportunidades que Deus me deu e sou grato por isso”, afirmou.

Consagração a Deus e à Igreja

Sobre o ministério presbiteral, o Cardeal Scherer destacou que o padre é uma pessoa consagrada a Deus e à Igreja e, por isso, para viver bem tal ministério, “não lhe podem faltar fé firme e profunda, desapego de projetos pessoais e grande disponibilidade para servir a Deus e ao povo”, além das virtudes humanas e cristãs e a boa formação do caráter, que o ajudarão muito para viver de forma serena e eficaz o sacerdócio. “Mas também é imprescindível que o próprio sacerdote tenha consciência clara do dom que recebeu, profunda união com Deus e comunhão com a Igreja, e que goste de ser padre”, acrescentou.

Desafios de hoje

Ao falar dos desafios atuais que os jovens enfrentam para abraçar o sacerdócio, Dom Odilo salientou que cada época da história apresenta condições favoráveis e desfavoráveis para viver o ministério. Tais desafios nem sempre são os mesmos em toda parte e podem ser de ordem pessoal ou relativos à missão que deve exercer. “A meu ver, os desafios de ordem pessoal que o padre enfrenta vão na linha do relativismo moral, que também pode se tornar um problema para o padre; outro desafio pode ser a perda das motivações de fé sobrenatural para o sacerdócio e a sua redução a uma profissão qualquer e da missão, a uma carreira na busca do sucesso humano”, enfatizou.

Já os desafios na missão, segundo o Arcebispo, podem ser a enormidade do trabalho, a indiferença religiosa, a crise generalizada de fé e da moral no ambiente cultural e a transformação da religião num produto de mercado. “No ambiente interno da Igreja, o sacerdote encontra desafios especiais para renovar a vida e a ação da Igreja e para realizar, por exemplo, o que o Papa Francisco pede: ser uma Igreja ‘em saída’ e ‘em estado permanente de missão’. A isso devo acrescentar que desde a pregação dos apóstolos e em todas as épocas da história da Igreja, houve grandes desafios a enfrentar”, disse.

Aos vocacionados

Referindo-se aos que se decidem pelo sacerdócio, Dom Odilo lembrou que a vocação sacerdotal se manifesta nas circunstâncias normais da vida “e, geralmente, se expressa, mais ou menos, por essas palavras: ‘eu gostaria de ser padre’...”. Ele aconselhou, ainda, que se algum adolescente ou jovem pensa em ser padre, procure rezar bastante, pedindo a Deus a ajuda necessária para acolher e conhecer melhor a graça da vocação. “Procure falar com o catequista, a mãe, o padre ou com alguma pessoa da Igreja que o ajude a esclarecer melhor o chamado de Deus, que sente no seu coração”, afirmou, completando que a vocação desabrocha, cresce e amadurece num clima de fé pessoal e eclesial. “Por isso, os ‘vocacionados’ procurem aprofundar sua vivência cristã e a participação na vida da Igreja. O sacerdócio é uma grande graça de Deus e uma consagração de vida que promete uma grande recompensa de Deus já neste mundo; mais ainda, na vida eterna, conforme Jesus mesmo prometeu.”

Família promotora de vocações

O Cardeal Scherer também chamou a atenção para a importância da família na história vocacional dos padres, podendo oferecer um ambiente favorável ao despertar da vocação no filho. “A vocação sacerdotal de algum filho é uma grande bênção também para a família e um ambiente de fé. A prática da vida cristã e a união da família com a Igreja podem ajudar muito para despertar e amadurecer vocações sacerdotais.” Quando esse papel da família não existe, no caso de vocacionados mais adultos, é maior o papel da comunidade católica do candidato. Mesmo assim, a família católica fervorosa e bem ligada à Igreja é o ambiente favorável para o despertar das vocações sacerdotais.”