“Dou graças a Deus por tantos momentos bonitos e enriquecedores com que Ele me presenteou”; “Que todos os que creem em Deus e em seu Filho Jesus Cristo trabalhem pelo bem de todos, busquem sempre a conciliação, o amor fraterno, a tolerância às diversidades e a paz”; “Sejamos sempre um bom samaritano que se compadece do irmão que sofre no desconforto de qualquer dor e do esquecimento da sociedade desumanizada”.

Os trechos acima são do testamento espiritual do Cardeal Geraldo Majella Agnelo, por ele escrito em 6 de agosto de 2016, e lido em sua missa exequial, na manhã da segunda-feira, 28, na Catedral de Londrina (PR), cidade onde o Prelado faleceu no sábado, 26, aos 89 anos de idade.

Dom Geraldo vivia nesta cidade paranaense desde 2014, três anos após renunciar, em razão da idade, à Arquidiocese de Salvador (BA), onde foi Arcebispo e Primaz do Brasil, entre 1999 e 2011.

A saúde de Dom Geraldo se agravou em dezembro do ano passado, quando sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Ele estava em internamento domiciliar e, após piora de saúde, faleceu.

O corpo de Dom Geraldo foi sepultado na manhã da segunda-feira na cripta da Catedral, após a missa de exéquias, presidida pelo Cardeal Sergio da Rocha, Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, tendo entre os concelebrantes os Cardeais Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo; e Orani João Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro; Dom Ricardo Hoepers, Bispo Auxiliar de Brasília e Secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); e Dom Geremias Steinmetz, Arcebispo de Londrina. O velório havia começado na manhã anterior na mesma Catedral, com missas a cada duas horas.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

TRAJETÓRIA ECLESIAL

O Cardeal Majella Agnelo nasceu em Juiz de Fora (MG), em 19 de outubro de 1933, onde fez seus estudos iniciais. Ainda criança, veio para a cidade de São Paulo.

Após ter cursado Filosofia e Teologia no Seminário Central do Ipiranga, foi ordenado sacerdote em 29 de junho de 1957, na Catedral Metropolitana de São Paulo, incardinando-se no clero da Arquidiocese, onde desempenhou os encargos pastorais de Assistente da Juventude Estudantil Católica Feminina; Diretor Espiritual e Professor no Seminário Santo Cura d’Ars, no Seminário Filosófico de Aparecida (SP) e no Seminário Teológico de São Paulo. Foi ainda Secretário do Cardeal Carlos Carmelo de Vasconcellos Motta, então Arcebispo de São Paulo; Coordenador da Pastoral da Arquidiocese; Professor e Diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção; e Cônego do Cabido Metropolitano de São Paulo.

Em 13 de maio de 1978, foi nomeado Bispo da Diocese de Toledo (PR) por São Paulo VI, recebendo a ordenação episcopal em 6 de agosto do mesmo ano, na Catedral Metropolitana de São Paulo, pela imposição das mãos do Cardeal Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo Metropolitano.

Em 1982, São João Paulo II nomeou Dom Geraldo como Arcebispo de Londrina (PR), onde permaneceu até 1991, quando recebeu do Pontífice o encargo de Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, no Vaticano. Em 1999, o Santo Padre o nomeou como Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, onde permaneceu até 2011, quando renunciou em razão da idade.

Dom Geraldo foi criado Cardeal da Igreja por São João Paulo II no Consistório de 21 de abril de 2001, com o Título presbiteral de São Gregório Magno alla Magliana Nuova.

Luciney Martins/O SÃO PAULO

SERVIDOR DA IGREJA E DO MAIS FRÁGEIS

Entre os muitos encargos episcopais que desempenhou estiveram o de Presidente da Comissão de Liturgia da CNBB (1983-1987); Vice-Presidente do Regional Sul 2 da CNBB e membro da Comissão Episcopal Pastoral (1983- 1987); 2º Vice-Presidente do Conselho Episcopal Latino Americano e Caribenho (Celam); membro do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes; do Pontifício Conselho dos Bens Culturais da Igreja; e Presidente da CNBB (de 2003 a 2007).

Dom Geraldo publicou vários livros sobre Liturgia e Pastoral dos Sacramentos, além de numerosos artigos em revistas especializadas e em jornais.

Em 1983, a lado da médica Zilda Arns, criou a Pastoral da Criança. Na época, Dom Geraldo era Arcebispo de Londrina. O trabalho da pastoral foi iniciado em Florestópolis, município que tinha o maior índice de mortalidade infantil do Paraná, 127 mortes para cada mil nascidos vivos. Em um ano, o indicador de mortes de crianças naquela cidade caiu para 28 por mil nascidos. O sucesso da iniciativa se espalhou pelo Brasil. “As crianças, a quem sempre amei de modo particular, quero recomendar a todos que as amem, respeitem e cuidem bem para crescerem com amor e temor a Deus e ao próximo”, escreveu Dom Geraldo em seu testamento espiritual.

CONDOLÊNCIAS

Dom Geraldo Majella Agnelo tinha com lema episcopal “Caritas cum Fide” (Caridade com Fé), e a ele foi fiel servindo a Igreja e os irmãos, conforme se percebe nas notas de pesar pelo seu falecimento. Reproduzimos abaixo trechos de algumas delas:

“Quero assegurar-lhe dos sufrágios que elevo ao Altíssimo pelo eterno descanso do venerável prelado. Minhas orações são também de gratidão a Deus pelos longos anos de seu serviço dedicado à santa mãe Igreja, sempre guiado pelo zelo apostólico, nas várias missões que lhe foram confiadas como Bispo de Toledo, Arcebispo de Londrina, Secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e, por fim, Arcebispo Primaz do Brasil e Presidente da Conferência episcopal”.

Papa Francisco – *Em telegrama enviado ao Cardeal Sergio da Rocha, Arcebispo de Salvador (BA)

“Quem teve a oportunidade de conhecer e conviver de perto com Dom Geraldo conheceu sua afabilidade e bondade e a capacidade de criar laços de amizade e comunhão entre as pessoas. Por onde passou, ele deixou amigos que lhe queriam muito bem. Ele sempre teve grande zelo pela Liturgia, pela boa formação dos sacerdotes e do povo católico e pela irrestrita fidelidade ao Papa e à Igreja. A Arquidiocese de São Paulo oferece suas orações e súplicas pelo Cardeal Geraldo Majella Agnelo, pedindo a Deus que conceda o prêmio da vida eterna a esse seu bom e fiel servidor”.

Cardeal Odilo Pedro Scherer, Arcebispo de São Paulo

“Damos graças a Deus pela doação deste irmão no episcopado que entregou sua vida à Igreja no Brasil e no mundo. Dom Geraldo foi destacado, nos lugares onde serviu como padre e bispo, por sua afabilidade e pela virtude de criar laços de amizade e comunhão entre as pessoas. Sua vida foi marcada por um grande amor à Igreja e uma contínua dedicação às coisas da Igreja, a serviço da fé e ao testemunho da vida cristã”.

Presidência da CNBB

“A Pastoral da Criança gostaria de, mais uma vez, agradecer o apoio constante e incessante e por todos os anos dedicados por Dom Geraldo à missão de levar vida em abundância para as crianças e famílias pobres e se solidariza com os familiares, rogando a Deus para que sejam confortados na certeza da Ressurreição em Cristo e do retorno à casa do Pai”

Coordenação nacional da Pastoral da Criança