Os leigos santificam o mundo, irradiando a fé, a esperança e a caridade cristã

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No 4º domingo de agosto, é destacada a vocação daqueles que são a Igreja nos diferentes âmbitos em que estão
Publicado em: 31/08/2023 - 11:45
Créditos: Redação

Certamente, quem está engajado na vida pastoral de uma paróquia ou comunidade já ouviu ou fez a si mesmo esta pergunta: “Qual é o lugar do leigo na Igreja?”. Muitas podem ter sido as respostas que cada um encontrou, mas em essência, como destaca o Catecismo da Igreja Católica, os leigos devem ter “uma consciência cada vez mais clara, não somente de que pertencem à Igreja, mas de que são Igreja” (CIC 899).

No 4º domingo de agosto, é destacada a vocação daqueles que são a Igreja nos diferentes âmbitos em que estão: na família, na escola, no trabalho, nas atividades políticas e demais ações sociais, sempre com a missão de, individualmente ou em grupo, “trabalhar para que a mensagem divina da salvação seja conhecida e recebida por todos os homens e por toda a terra” (CIC 900).

UM APOSTOLADO EM DIFERENTES REALIDADES

A constituição dogmática Lumen gentium (LG), do Concílio Vaticano II, detalha que os leigos, em meio às suas ocupações e atividades cotidianas, “são chamados por Deus para que, aí, exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como o fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade. Portanto, a eles compete especialmente iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão estreitamente ligados, para que elas sejam sempre feitas segundo Cristo e progridam e glorifiquem o Criador e Redentor” (LG 31).

Cada leigo, pelos dons que lhe foram concedidos por Deus e fortalecido pelos sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia, deve ser “ao mesmo tempo, testemunha e instrumento vivo da missão da própria Igreja” (LG 33) e “todos os seus trabalhos, orações e empreendimentos apostólicos, a vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o descanso do espírito e do corpo, se forem feitos no Espírito, e as próprias incomodidades da vida, suportadas com paciência, se tornam em outros tantos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por Jesus Cristo (cf. 1 Pd 2,5)” (LG 34).

CHAMADOS A UMA VIDA SANTA

Na vivência de seu apostolado cristão, aos leigos compete valorizar a dignidade de cada pessoa, ajudando-se mutuamente “a levar uma vida mais santa, para que assim o mundo seja penetrado do espírito de Cristo e, na justiça, na caridade e na paz, atinja mais eficazmente o seu fim (…) Além disso, também pela união das próprias forças, devem os leigos sanear as estruturas e condições do mundo, se elas porventura propendem a levar ao pecado, de tal modo que todas se conformem às normas da justiça e antes ajudem ao exercício das virtudes do que o estorvem. Agindo assim, informarão de valor moral a cultura e as obras humanas. E, por este modo, o campo, isto é, o mundo ficará mais preparado para a semente da palavra divina e abrir-se-ão à Igreja mais amplamente as portas para introduzir no mundo a mensagem da paz” (LG 36).

Também a constituição pastoral Gaudium et spes (GS) indica que os leigos conhecedores das exigências da fé e por ela fortalecidos devem “imprimir a lei divina na vida da cidade terrestre. Dos sacerdotes, esperem os leigos a luz e força espiritual. Mas não pensem que os seus pastores estão sempre de tal modo preparados que tenham uma solução pronta para qualquer questão, mesmo grave, que surja, ou que tal é a sua missão. Antes, esclarecidos pela sabedoria cristã, e atendendo à doutrina do magistério, tomem [os leigos] por si mesmos as próprias responsabilidades” (GS 43).

DUAS TENTAÇÕES

Na exortação apostólica Christifideles laici (CL), São João Paulo II aponta para duas tentações das quais nem sempre os leigos conseguem se desviar: “a tentação de mostrar um exclusivo interesse pelos serviços e tarefas eclesiais, de forma a chegarem frequentemente a uma prática abdicação das suas responsabilidades específicas no mundo profissional, social, econômico, cultural e político; e a tentação de legitimar a indevida separação entre a fé e a vida, entre a aceitação do Evangelho e a ação concreta nas mais variadas realidades temporais e terrenas” (CL 2).

São João Paulo II ressalta que a índole secular é própria ao laicato: “O estar e o agir no mundo são para os fiéis leigos uma realidade, não só antropológica e sociológica, mas também e especificamente teológica e eclesial, pois é na sua situação intramundana que Deus manifesta o Seu plano e comunica a especial vocação de ‘procurar o Reino de Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus’ (cf. Lumen gentium 31)” (CL 15).

A COERÊNCIA DA FÉ PROFESSADA E TESTEMUNHADA

Também o Papa Bento XVI discorreu sobre a índole secular dos fiéis leigos, em um discurso em novembro de 2008, quando lembrou que “cada ambiente, circunstância e atividade na qual se es- pera que possa resplandecer a unidade entre a fé e a vida é confiado à responsabilidade dos fiéis leigos, movidos pelo desejo de comunicar o dom do encontro com Cristo e a certeza da dignidade da pessoa humana. A eles compete encarregar-se do testemunho da caridade especialmente com os mais pobres, sofredores e necessitados, assim como assumir qualquer compromisso cristão destinado a construir condições de justiça e de paz sempre maiores na convivência humana, de modo a abrir novas fronteiras ao Evangelho!”.

Na exortação Evangelii gaudium (EG), o Papa Francisco pondera que apesar de se verificar a maior participação nos ministérios laicais, isto não tem se refletido “na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico; [o leigo] limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um empenhamento real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade. A formação dos leigos e a evangelização das categorias profissionais e intelectuais constituem um importante desafio pastoral”. (EG 102).

Ao discursar aos participantes de um congresso promovido pelo Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, em fevereiro deste ano, o Pontífice destacou que “o apostolado dos leigos é, primariamente, um testemunho. Testemunho da própria experiência, da própria história, testemunho da oração, testemunho do serviço a quem passa necessidade, testemunho da proximidade aos pobres, às pessoas sozinhas, testemunho do acolhimento, sobretudo por parte das famílias”.

UM SÓ POVO DE DEUS

No mesmo encontro, o Pontífice ponderou que, embora os leigos sejam chamados a viver a sua missão nas realidades seculares em que estão imersos, “isto não exclui que tenham também as capacidades, os carismas e as competências destinados a contribuir para a vida da Igreja: na animação litúrgica, na catequese e na formação, nas estruturas de governo, na administração dos bens, no planejamento e implementação dos programas pastorais etc”, uma vez que “não são ‘hóspedes’ na Igreja, estão na casa deles, por isso são chamados a cuidar da própria casa”, em harmonia e respeito com o clero: “pastores e fiéis leigos juntos. Não indivíduos isolados, mas um povo que evangeliza, o santo povo fiel de Deus!”.