Papa Francisco visita Assis

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‘Como Deus nos perdoa, também devemos perdoar’, lembrou o Pontífice
Publicado em: 10/08/2016 - 16:30
Créditos: Redação com Jornal O SÃO PAULO

Por Filipe Domingues

Peregrino entre os peregrinos, o Papa Francisco visitou a cidade natal de São Francisco na quinta-feira, 4, para o chamado “Perdão de Assis”. Trata-se de uma tradição italiana que começou em 1216, quando São Francisco de Assis pediu ao Papa Onório III o perdão de todas as culpas dos fiéis que, arrependidos e confessados, visitassem a sua igrejinha, a Porciúncula. Na ocasião, o Papa concedeu a indulgência plenária somente para o dia 1º de agosto, mas hoje se estende para todas as paróquias franciscanas, nos dias 1 e 2 de agosto. De qualquer forma, permaneceu a tradição de se peregrinar até Assis, o que o Papa Francisco quis fazer neste Ano Jubilar da Misericórdia

O pontífice recordou as palavras de São Francisco, quando dizia “Quero levá -los todos ao Paraíso!”, e comentou: “Talvez, quando pediu ao Papa Onório III o dom da indulgência para quem vinha à Porciúncula, São Francisco tivesse em mente aquelas palavras de Jesus aos discípulos: ‘Na casa do meu Pai há muitas moradas’”. O Papa explicou que o perdão é “certamente a estrada mestra a seguir para alcançar aquele lugar no paraíso!” “É difícil perdoar!”, disse. “Quanto nos custa perdoar os outros!” Porém, Jesus nos ensinou a ser misericordiosos com todos e “pelo menos ter a vontade de perdoar, para fazer-se tocar com a mão da misericórdia do Pai”. Papa Francisco pediu para que cada pessoa pensasse nas “coisas feias” que já fez na vida e em como Deus sempre esteve disposto a perdoar. “Como Deus nos perdoa, assim também nós devemos perdoar a quem nos faz mal”, completou, lembrando a oração do Pai Nosso. Quando nos colocamos de joelhos no confessionário, observou o sucessor de São Pedro, no fundo estamos pedindo: “Senhor, tenha paciência comigo!”, afirmou. “E já pensaram alguma vez na paciência de Deus? Ele tem tanta paci- ência. Sabemos bem, de fato, que temos tantos defeitos e caímos frequentemente nos mesmos pecados. E ainda assim Deus não se cansa de oferecer sempre o seu perdão toda vez que o pedimos.” Em sua visita à Porciúncula, o Papa rezou na igrejinha reconstruída por São Francisco 800 anos atrás, que hoje está dentro de uma igreja maior, a Basílica de Santa Maria dos Anjos.

Ao final da reflexão, rezou o terço com os fiéis e convidou todos os bispos e sacerdotes presentes a ouvir confissões. A Porciúncula foi o principal objeto de uma visão que São Francisco de Assis teve em sua juventude: rezando diante do crucifixo de São Damião, em 1206, viu Jesus dizer “Francisco! Francisco! Vai e reforma a minha casa, que, como você pode ver, está caindo em ruínas”. Na ocasião, o santo interpretou a visão como se Jesus se referisse à igrejinha abandonada, que reconstruiu. Interpretações posteriores de artistas e autoridades da Igreja, no entanto, indicaram que a visão do “pobrezinho de Assis” se referia também a toda a Igreja Católica, que São Francisco ajudou a reformar, promovendo mais simplicidade e uma aten- ção especial aos pobres na Idade Média.

 

Encontro com dominicanos

No mesmo dia da viagem a Assis, o Papa teve uma reunião com os participantes do Capítulo Geral dos Dominicanos. O Papa brincou que aquele dia poderia ser resumido como “um jesuíta entre os frades”, referindo-se aos dominicanos e franciscanos. Em discurso aos frades dominicanos, destacou três pontos principais, conforme informou a Rádio Vaticano: Pregação, testemunho e caridade. Para o Papa Francisco, são esses os três pilares fundamentais para o carisma da Ordem dos Pregadores (OP).

São Domingos, o fundador da congregação, afirmava: “Primeiro contemplar, depois ensinar”, lembrou o pontífice. “Evangelizados por Deus para, depois, evangelizar.” Papa Francisco acrescentou que, além do estudo dedicado à Palavra de Deus e às questões teológicas, é preciso “aproximar-se da realidade e dar ouvidos ao povo de Deus”. O encontro também recordou os 800 anos da fundação da Ordem, que foi reconhecida pelo Papa Onório III. A celebração, recordou o atual pontífice, “nos leva a fazer memória de homens e mulheres de fé e de letras, contemplativos e missionários, mártires e apóstolos da caridade, que levaram o carinho e a ternura de Deus a todo o mundo, enriquecendo a Igreja e mostrando novas possibilidades de encarnar o Evangelho por meio da pregação, do testemunho e da caridade.”​

Publicado no Jornal O SÃO PAULO ,Edição 3114/ 10  a  16 de agosto de 2016