Dom Luciano, testemunha da misericórdia

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Região Belém faz memória dos 10 anos do falecimento de Dom Luciano
Publicado em: 02/09/2016 - 14:30
Créditos: Texto: Peterson Prates / Fotos: Grazielli Lima

No último dia 27 de agosto, completou-se dez anos da páscoa do Servo de Deus, Dom Luciano Mendes de Almeida. O primeiro jesuíta brasileiro a chegar ao episcopado, se destacou pelo seu testemunho junto aos mais pobres, às crianças e aos injustiçados. Dom Luciano foi, durante toda a vida, testemunha fiel da misericórdia de Deus.

Para fazer memória da morte de Dom Luciano, a Região Episcopal Belém, em que exerceu seu ministério episcopal de 1976 a 1988, preparou, junto ao Centro Social Nossa Senhora do Bom Parto (BomPar), uma missa celebrada na creche com o seu nome.

A missa foi presidida pelo Coordenador de Pastoral da Região, Pe. Marcelo Maróstica, e concelebrada pelo redentorista Pe. Antonio Carlos Vanin, pelo espiritano Pe. Hugo de Blacam e pelo Pe. Mauro Domesi, do clero secular. O diácono permanente Jorge Luiz também participou da celebração.

O Centro de Educação Infantil Dom Luciano Mendes de Almeida, no Jardim Sinhá, foi fruto do trabalho das irmãs Terezinha Bosco, Marilda Camargo e Lurdinha Toledo, e inaugurado em 19 de Agosto de 1984, com a presença de Dom Luciano.

“O bairro do Sinhá, o CEI Dom Luciano, é a referencia para toda a Pastoral do Menor, não só para o BomPar, não só para a Região Belém, mas para a Pastoral do Menor Nacional. Foi neste chão que nós experimentamos os primeiros sonhos, as primeiras ideias de acreditar que era possível criar um movimento com a criança, o adolescente e a família”, relatou Marilda Lima, supervisora pedagógica do BomPar.


Pe. Maróstica recordou a missa de corpo presente de Dom Luciano, destacando a sensação de orfandade, “nos sentíamos órfãos, porque aquele que foi o pastor, o amigo, o conselheiro, o cuidador, já não estava mais fisicamente no meio de nós”.

Testemunha da Misericórdia

Na missa, crianças entraram com cartazes que recordavam as obras de misericórdia corporais “dar de comer a quem tem fome; “dar de beber a quem tem sede”; “vestir os nus”; dar abrigo aos peregrinos”; “assistir aos enfermos”; “visitar os presos”; “enterrar os mortos”, práticas que marcaram toda a vida de Dom Luciano.


“Ele continua presente naqueles que lutam pela vida, naqueles que lutam pelos pequenos, naqueles que promovem a paz, naqueles que promovem a justiça”, expressou o coordenador de Pastoral da Região.

Deixai vir a mim as criancinhas

“Dom Luciano para o Bom Parto é nosso idealizador, nós nascemos do coração de um pastor. Um pastor com o coração e o olhar voltados para os filhos”, disse Marilda sobre o bispo que sempre apoiou e deu vigor ao trabalho do Centro Social.

Uma das grandes características de Dom Luciano foi o cuidado para com as crianças e adolescentes, o que motivou a Campanha da Fraternidade de 1987, “Quem acolhe o menor, a mim acolhe”

Uma das grandes frases de Dom Luciano, e que virou até letra de mantra, é “Se você ascender uma luz na vida de uma criança, essa criança será a luz da sua vida”.


Rumo aos altares

Quando se completaram cinco anos da morte de Dom Luciano, o arcebispo de Mariana, Dom Geraldo Lyrio enviou ao Vaticano o pedido de abertura do processo de beatificação do bispo, que, em vida, já tinha fama de santidade.

Em 2014, a Congregação para a Causa dos Santos emitiu o “Nihil Obstat”, afirmando que não há nada que impeça o prosseguimento do processo que pode levá-lo às glórias dos altares.

O vigário judicial da causa de beatificação de dom Luciano, Monsenhor Roberto Natali, disse que o processo “está na fase diocesana de conclusão dos depoimentos de testemunhas, já foram ouvidas mais de cinquenta pessoas”, e que faltam poucas testemunhas para que essa fase seja encerrada. Nesta fase, leigos, religiosas e clérigos, da Região Belém foram ouvidas.

O trabalho da comissão histórica, que produzirá um relatório sobre a espiritualidade e personalidade do Servo de Deus, sob a direção do jesuíta Pe. Carlos Alberto Contieri, está em fase de conclusão.

Monsenhor Roberto dá destaque “à vivência muito eloquente de todas as obras de misericórdia”, de modo especial a atenção à situação dos cárceres, que acompanha dom Luciano desde a juventude, em Roma, e também as visitas aos hospitais, durante as madrugadas.

Essa fase diocesana do processo, para atestar as virtudes do Servo de Deus, tem previsão de terminar no fim deste ano, quando, se aprovado, deve ter início a fase Romana, do processo.

“Celebrar esses dez anos é agradecer a Deus por termos, agora, esse Servo de Deus, e daqui algum tempo, torcemos, teremos mais um santo que vai nos ajudar na nossa missão. Para que possamos, buscando a Deus, ir aos mais crucificados e amá-los como Jesus amou, amá-los como Dom Luciano sempre nos pedia para amar, para se aproximar, para cuidar”, encerrou, Pe. Maróstica, a homilia.

Quem foi Dom Luciano?

Luciano Pedro Mendes de Almeida era de família nobre e nasceu no Rio de Janeiro em 1930. Padre jesuíta foi nomeado bispo em 1976, pelo Papa Paulo VI, para ser vigário episcopal de Dom Paulo Evaristo Arns, na Arquidiocese de São Paulo, especificamente na Região Episcopal Belém.

Dom Luciano permaneceu na Arquidiocese de São Paulo até 1988, quando foi nomeado arcebispo de Mariana, onde permaneceu até a sua morte, aos 75 anos, em 2006. Se destacou fortemente na defesa dos direitos humanos, das crianças e adolescentes e de todos os marginalizados.

Foi secretário geral da CNBB (1979-1986) e presidente (1987- 1994) da CNBB, fazendo parte do Conselho Permanente desta entidade de 1987 até sua morte. Fez parte da Pontifícia Comissão Justiça e Paz, do Conselho Episcopal Latino-Americano, e da Comissão Episcopal para a Superação da Miséria e da Fome.


Dom Luciano, testemunha da misericórdia