Mandamento Maior - Raul de Amorim

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24/03/2017 - 00:15

Mc.12,28-34​

“Não se pode generalizar as coisas”é uma frase conhecida e muito importante para os nossos dias. Nem todos os escribas, fariseus e doutores da Lei eram indiferentes aos ensinamentos de Jesus. O evangelho de hoje nos dá um exemplo.

Mc. 12,28: A pergunta do doutor da Lei: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?

Para compreender melhor o texto é importante lembrar que Jesus estava num debate com os saduceus a respeito da fé na ressurreição. Um doutor da Lei, que tinha assistido, gostou da resposta de Jesus e quis aproveitar a ocasião para fazer uma pergunta de esclarecimento: Qual é o maior de todos os mandamentos?

Naquele tempo, os judeus tinham uma grande quantidade de normas para regulamentar na prática a observância dos Dez Mandamentos da Lei de Deus. Alguns diziam: “Todas essas obrigações tem o mesmo valor, pois todas vêm de Deus. Outros diziam: “Algumas leis são mais importantes que as outras e, por isso, obrigam mais”! O doutor quer saber a resposta de Jesus.

Mc. 12,29-31: Jesus respondeu: “O primeiro é: Ouça Israel! O Senhor nosso Deus é o único senhor. Ame o Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com toda a sua mente, com toda a sua força”.

Jesus responde citando um trecho da Bíblia: “Escute Israel! Javé é nosso Deus, Javé é um. Portanto, ame a Javé, o seu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as forças. Que estas palavras, que hoje lhe ordeno, estejam em seu coração. (Dt. 6,4-5) No tempo de Jesus, os judeus piedosos recitavam esta frase três vezes ao dia: de manhã, ao meio dia e à noite. Era tão conhecida entre eles como entre nós, hoje, o Pai-Nosso.

E Jesus acrescenta, citando novamente a Sagrada Escritura: O segundo é este: “Ame o seu próximo como a si mesmo. (Lv. 19,18) Não existe outro mandamento maior do que estes”. Resposta breve e muito profunda! É o resumo de tudo que Jesus ensinou sobre Deus e sobre a vida em outras palavras: a “regra de ouro” “Portanto, façam às pessoas o mesmo que vocês desejam que elas façam a vocês. Esta é, de fato, a Lei e os Profetas”. (Mt.7,12)

Mc. 12,32-33: O doutor da Lei lhe disse: “Muito bem, mestre. Com razão disseste que Deus é o único, e que não existe outro além dele. E que amá-lo com todo o coração, com toda a inteligência e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios”.

O doutor concordou com Jesus e tirou as conclusões. A afirmação dele já vinha desde os profetas. Oséias dizia: Pois eu quero amor e não sacrifício, conhecimento de Deus mais do que holocaustos. (Os. 6,6) O doutor da Lei parece ter entendido e concordado. Em nossos dias diríamos que a prática do amor é mais importante que novenas, promessas, missas, rezas e procissões.

Ficamos longe do Reino de Deus quando manipulamos os ensinamentos do evangelho ao nosso bem querer. Ficamos longe do Reino de Deus quando fazemos uma interpretação equivocada da caridade. Não podemos esquecer o recado que encontramos na segunda carta de João: Se alguém disser: “Eu amo a Deus”, mas odeia seu irmão, esse tal é um mentiroso. Pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus a quem não vê. E este mandamento nós recebemos dele: Quem ama a Deus, ame também o seu irmão. (2Jo,4,20-21)

Mc. 12,34: Vendo que ele tinha respondido com inteligência, Jesus lhe disse: “Você não está longe do Reino de Deus”. E ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.

Jesus confirma a conclusão que o doutor diz e comenta que ele não está longe do Reino. Não está longe porque não basta apenas entender, é necessário comprometer-se com aquilo que se afirma. Se Deus é Pai, nós somos todos irmãos e irmãs e temos que manifestar isto na prática, vivendo em comunidade.

Os discípulos e discípulas de Jesus precisam colocar na memória, na inteligência, no coração, nas mãos e nos pés esta Lei Maior: Não se chega plenamente a Deus a não ser através da doação ao próximo!