Relacionamento: mulher e homem - Raul de Amorim

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20/05/2016 - 00:15

Mc. 10,1-12

O evangelho de ontem trazia conselhos de Jesus sobre o relacionamento entre adultos e crianças, entre os grandes e pequenos da sociedade. A leitura de hoje traz orientações sobre como deve ser o relacionamento entre homem e mulher, entre marido e mulher.

No ano 70, diante das muitas dificuldades que as comunidades enfrentavam, Marcos procura ajudá-las a não desanimar e a levar a sério a opção pelo seguimento de Jesus. O texto de hoje toca num assunto importante na vida das pessoas. O assunto também está presente na vida de irmãos e irmãs de nossas comunidades. Vamos aprofundar?

Mc. 10,1-2: “É permitido ao marido divorciar-se de sua mulher?” A pergunta é maliciosa. Ela pretende colocar Jesus à prova. Sinal de que Jesus tinha uma opinião diferente, pois do contrário os fariseus não iriam interrogá-lo sobre o assunto. Não perguntam se a esposa pode mandar o marido embora. Isso nem passava pela cabeça deles. Prova da forte dominação machista e da marginalização da mulher na sociedade daquele tempo.

Mc. 10,3-9: “O que Moisés lhes ordenou”? Responderam: “Moisés permitiu escrever a carta de divórcio e mandá-la embora...” E agora como sair dessa?!  Jesus não cai na armadilha dos fariseus. Não responde de imediato. Ele responde a pergunta deles com outra pergunta: “O que Moisés lhes ordenou”? Jesus queria aprofundar o assunto. A lei permitia ao homem escrever uma carta e dispensar a mulher.

Jesus denuncia a dureza dos corações que entorta a Palavra de Deus em benefício próprio. Os fariseus não estavam preocupados em entender a vontade de Deus, mas só pensavam em preservar o domínio que tinham sobre as mulheres. Jesus os questiona: O que Deus tinha em mente quando os criou homem e mulher? Ele retoma a Bíblia: “Por isso, o homem deve deixar pai e mãe, para unir-se à sua mulher e se tornarem uma só carne” (Gn. 2,24).

A verdadeira aliança se realiza no corpo e no espírito e uma coisa não pode estar separada da outra. Tem que ser em espírito e verdade e não apenas de fachada e aparência. Não é fácil.

Mc. 10,10-12: “Em casa, os discípulos fizeram de novo perguntas sobre isso...” O assunto despertava muito interesse. Jesus tira as conclusões e reafirma a igualdade de direitos e deveres entre o homem e mulher. Jesus é contra os direitos exclusivistas que a sociedade da época dava aos homens em relação às mulheres. Ele defende a igualdade de ambos para criar uma comunidade de vida e amor na família.

 Não é fácil viver num ambiente em que as brigas e a falta de compromisso são constantes... Com relação a isso quero lembrar as palavras do Papa Francisco em uma Audiência Geral no dia 24 de junho de 2015: “há casos em que a separação é inevitável; às vezes, pode-se tornar até moralmente necessária”.

A mídia chegou a comentar: “Foi mais um sinal de abertura para as famílias modernas”. Mas não foi. O Papa Francisco não estava introduzindo nenhuma doutrina nova na Igreja. Ele nada mais fez do que relembrar o que o atual Código de Direito Canônico já prevê, desde 1983. Será que a exemplo do evangelho eles queriam confundir a nossa cabeça?! Se tivessem consultado encontrariam:

Cân. 1153-1. “Se um dos cônjuges provocar grave perigo da alma ou do corpo para o outro ou para os filhos, ou de algum modo tornar a vida comum demasiado dura, proporciona ao outro causa legítima de separação...”