A presença de Jesus, sinal de amor e comunhão

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08/04/2015 - 14:00

Publicado no Jornal O SÃO PAULO - Edição 3046 - 08 a 14 de abril de 2015

Após a ressurreição, a comunidade apostólica, juntamente com tantos outros discípulos, teve a oportunidade de encontrar-se com o Ressuscitado. Essa experiência foi profunda e marcante, pois, a partir desse encontro, o medo foi dissipado e renasceu a alegria e a esperança, nas palavras anunciadas por Jesus: “Alegrai-vos” (Mt 28, 9).

Ele não é um fantasma nem um estrangeiro que caminha sem saber dos fatos (cf. Lc 24, 13-33), e nem um puro espírito. Ele é o mesmo Jesus que os discípulos conheceram, e é também o que foi crucificado e morto, mas a quem “Deus ressuscitou” (At 2,32). Após a ressurreição, ele caminhou com os discípulos e com eles se entreteve, permitindo que o tocassem (cf. Jo 21, 1-23). Esse Jesus, o Cristo, aos olhos dos discípulos, foi para junto do Pai, onde permanece à sua direita.

A celebração do mistério de Cristo na vida litúrgica da Igreja obedece à lógica da presença e da comunhão. Em cada ato litúrgico, em cada celebração, a Igreja tem sempre a certeza que o seu Senhor se faz presente de maneira sacramental (cf. SC 7).

Do nascimento até a morte na cruz, a presença é física e os discípulos aprenderam a conhecer Jesus, e foi a partir desse contato que aprenderam também a conhecer o Pai: “pois quem me viu, viu o Pai” (Jo 14,9). Entre a ressurreição e a ascensão, a presença de Jesus é real, num corpo glorioso. A partir da ascensão, Jesus permanece com seus discípulos como presença sacramental.

A presença de Jesus entre os discípulos é sempre uma indicação do grande amor de Deus e do seu desejo em fazer comunhão com a humanidade. Um Deus que, por amor, veio ao encontro dos seus, não pode abandoná-los. Isso faz da ascensão uma celebração do amor que aponta para a comunhão.

Vivemos numa realidade que é histórica, ou seja, vivemos neste tempo e com os acontecimentos deste tempo. Aqui, desempenhamos nossas atividades, vivemos nossas vidas, celebramos nossa fé, nos alegramos e, às vezes, nos entristecemos. Cada dia exige de nós a renovação da fé, da esperança e da caridade, frente às dificuldades.

A certeza que nos acompanha é que Deus se faz presente em cada acontecimento. Presença suave e mansa, e que dá sentido à nossa história. A ressurreição e a ascensão não são o tempo do abandono, mas o tempo novo que se abre para que os discípulos possam testemunhar o que aprenderam do seu Senhor, pastor manso e humilde (cf. At 1, 6-11).

A presença de Jesus Cristo, na glória com o Pai e o Espírito, é também uma indicação do grande amor de Deus, e a continuidade de seu desejo de comunhão com o homem. O Deus, que por amor veio ao encontro dos seus e não os abandonou, celebrado como Deus Uno e Trino, mostra que a comunhão aponta para o amor.

Dessa forma, as celebrações litúrgicas da Páscoa, da Ascensão, da Santíssima Trindade vêm expressar a identidade única de Deus, o amor. Ao mesmo tempo, revelam a real intenção de toda a história de salvação, iniciada com a criação e levada à plenitude em Jesus Cristo. O caminho percorrido pelo homem tem uma única direção, que é chegar à comunhão com esse Deus. No mistério da paixão, morte e ressurreição, o homem experimenta a redenção, levantado e conduzido por Cristo, entra na intimidade da Trindade, seu definitivo porto de chegada. 

Dom Devair Araújo da Fonseca

Bispo Auxiliar da Arquidiocese

Vigário Episcopal da Região Brasilândia