Artigo: "Santificado seja o vosso Nome"

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29/07/2014 - 00:00

Se a invocação inicial: “Pai nosso” nos coloca na presença do Pai, “para adorá-lo, amá-lo e bendizê-lo, o espírito filial faz brotar de nossos corações sete pedidos, sete bênçãos. Os três primeiros, mais teologais, nos atraem para a glória do Pai; os quatro últimos, como caminhos para Ele, apresentam nossa miséria à sua graça” (CIC 2803).

 

As três primeiras súplicas “nos levam em direção a Ele, para Ele: vosso nome, vosso reino, vossa vontade! É próprio do amor pensar primeiro naquele que amamos...” (CIC 2804); a segunda série de súplicas “é a apresentação de nossas expectativas (...), sobe de nós e nos diz respeito desde agora, neste mundo (...), o quarto e o quinto pedido dizem respeito à nossa vida, como tal, seja para alimentá-la, seja para curá-la do pecado. Os dois últimos referem-se ao nosso combate pela vitória da vida, o combate da própria oração” (CIC 2805).

 

O primeiro dos pedidos é para que o nome de Deus seja reconhecido e tratado como Santo: “Santificado seja vosso Nome”. Trata-se, porém, de “reconhecer como Santo, de tratar de maneira santa” o nome de Deus (CIC 2807).

 

No seu belíssimo comentário ao Pai nosso, São Cipriano diz: “Quem poderia santificar a Deus, já que é Ele mesmo quem santifica? Mas, nos inspirando nesta palavra: ‘Santificai-vos e sede santos, porque eu sou santo’ (Lv 11,44), nós pedimos que, santificados pelo Batismo, perseveremos naquilo que começamos a ser. Pedimos isto todos os dias, porque cometemos faltas todos os dias e devemos nos purificar dos nossos pecados por uma santificação retomada sem cessar. [...] Recorremos, portanto, à oração para que esta santidade permaneça em nós” (De dominica oratione, 12). 

 

Ao revelar o seu nome, Deus demonstra a vontade de estabelecer uma relação de amizade, de amor conosco. Ele, como diz o papa emérito Bento XVI, “se entrega de algum modo ao nosso mundo humano”. Podendo ser invocado, ele se torna vulnerável, sujeito a ser tratado com desprezo. Diz ainda Bento XVI: “Ele assume o risco da relação, de estar conosco”. 

 

A partir do momento que Jesus entregou-se em nossas mãos e aceitou sobre si a cruz, a Face e o nome de Deus tornaram-se acessíveis à nossa fraqueza. “Quanto mais ele se entrega nas nossas mãos, tanto mais pode a sua luz ser escurecida; quanto mais próximo estiver, tanto mais o nosso abuso pode torná-lo irreconhecível”, afirma o papa Bento XVI.

Pedir, já no início da oração do “Pai nosso”, que “santificado seja o vosso Nome” é suplicar que ele não permita que percamos, apesar da sua proximidade, a consciência do seu mistério e do amor que ele merece, uma vez que é unicamente por amor que ele se aproxima e se dá a nós.

 

Ainda o papa emérito Bento XVI, ao comentar esse pedido do “Pai nosso” nos convida a um exame de consciência, no modo como tratamos o nome de Deus: “como é que eu me relaciono com o santo nome de Deus? Situo-me com respeito diante do mistério da sarça ardente, diante do modo inefável da sua proximidade até a presença da Eucaristia, na qual ele realmente se entrega nas nossas mãos? Preocupo-me com que a presença de Deus no meio de nós não seja jogada na lama, e que nos puxe para cima, para a sua pureza e santidade?”

Dom Milton Kenan Júnior