Artigo: "Venha a nós o vosso Reino"

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13/08/2014 - 00:00

As três primeiras preces que se sucedem na Oração do Pai-nosso parecem insistir na mesma realidade: santificar o nome, a vinda do Reino e a vontade do Pai indicam a mesma realidade, vista, porém, por ângulos diferentes: a soberania de Deus, o reconhecimento do Absoluto que é unicamente Deus, e a disposição em viver na dependência dele.

 

Quando suplicamos: “Venha a nós o vosso Reino”, reconhecemos, por primeiro, que o Reino de Deus se antecipa ao nosso pedido, ele já está presente entre nós.

 

São Cipriano, no seu belíssimo comentário ao Pai-nosso, diz que “O Reino de Deus pode até significar o Cristo em pessoa, a quem invocamos com nossas súplicas todos os dias e cuja vinda queremos apressar por nossa espera. Assim como Ele é nossa Ressurreição, pois nele nós ressuscitamos, assim também pode ser o Reino de Deus, pois nele nós reinaremos” (ibid).

 

Sem prescindir de todas essas considerações, “na Oração do Senhor, trata-se principalmente da vinda final do Reinado de Deus mediante o retorno de Cristo”, afirma o Catecismo (n. 2.818); o que não desincumbe, mas, ao contrário empenha ainda mais a Igreja na sua missão nesta terra de restaurar todas as coisas em Cristo!

 

O Catecismo ainda afirma, citando a constituição  Gaudium et Spes : “A vocação do homem para a vida eterna não suprime, antes reforça, seu dever de acionar as energias e os meios recebidos do Criador para servir neste mundo à justiça e à paz” (n. 2.820).

 

Belíssimo, enfim, o trecho do teólogo alemão Schneider, citado pelo Papa Bento XVI, quando comenta essa  invocação do Pai-nosso: “A vida deste Reino é Cristo, que continua a viver nos seus; no coração que já não for alimentado pela força de vida de Cristo, termina o Reino; no coração que for por ela tocado e transformado, ele começa nas raízes da árvore que não pode ser destruída procuram penetrar em semelhante coração.

 

Empenhados na transformação das realidades terrestres, não percamos de vista de que o Reino é dom e graça, que germinou neste mundo pela morte e ressurreição de Jesus, mas que alcançará sua plenitude quando Deus for tudo em todos!

Dom Milton Kenan Júnior