“Estais nos Céus”

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23/07/2014 - 00:00

Imediatamente depois de invocar a Deus como “Pai nosso”, Jesus acrescenta “que estais nos céus”, não tanto para indicar um lugar, mas para revelar a maneira de ser de Deus que ultrapassa nosso entendimento e vai muito além das nossas medidas. “Nosso Pai não está ‘em outro lugar’, Ele está ‘para além de tudo’ quanto possamos conceber a respeito de sua santidade, porque ele é três vezes Santo, está bem próximo do coração humilde e contrito” (CIC, n. 2794).

 

O papa emérito Bento XVI, quando comenta a Oração do Senhor, na sua obra “Jesus de Nazaré” (Primeira Parte), afirma que, ao repetir as palavras “Pai nosso, que estais nos céus”, nós “não deslocamos Deus Pai para uma constelação situada muito longe, mas afirmamos que nós, que temos tão diferentes pais terrenos, viemos todos, no entanto, de um único Pai, o qual é a medida e a origem de toda a paternidade. “Eu dobro os meus joelhos diante do Pai, do qual deriva toda a paternidade no céu e na terra”, diz São Paulo (Ef 3,14s). É como se ouvíssemos ao fundo a Palavra do Senhor: Não chameis a ninguém sobre a terra vosso Pai, porque um só é o vosso Pai, o que está nos céus” (Mt 23,9).”

 

E completa Bento XVI: “céu, significa, portanto aquela outra elevação de Deus, de onde todos nós viemos e para onde todos nós devemos ir. A paternidade “nos céus” remete-nos para aquele “nós” maior, que ultrapassa todas as fronteiras, abate todos os muros e cria a paz.”

 

O Catecismo frisa ainda que “o símbolo dos céus nos remete ao mistério da Aliança que vivemos, quando rezamos ao nosso Pai. Ele está nos céus que são a sua morada; a casa do Pai é, portanto, nossa “pátria”. Foi da terra da Aliança que o pecado nos exilou e é para o Pai, para o céu, que a conversão do coração nos faz voltar” (n. 2795).

 

A palavra de Santa Teresa de Jesus, no comentário ao Pai nosso, no seu livro “Caminho de Perfeição” nos ajuda a entrar neste mistério: “Deus está em toda parte. Onde está Deus, aí está o céu... Será de pouca importância para uma alma dissipada compreender esta verdade e ver que, para falar a seu Pai eterno e alegrar-se com sua companhia, não tem necessidade de ir ao céu, nem de clamar em altas vozes?

 

Por baixinho que fale, está ele tão perto que sempre nos ouvirá. Para ir buscá-lo não precisa de asas: basta pôr-se em solidão e olhá-lo dentro de si mesma. Não estranhe tão bom hóspede. Fale-lhe como a um pai, com grande humildade.

 

Peça-lhe como a um pai. Conte-lhe seus sofrimentos e implore remédio para eles, entendendo que não é digna de ser sua filha” (Caminho de Perfeição 28,2).

 

Chamando a Deus de Pai, que nos lembremos que “nele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17,28). Embora sua Presença transcenda infinitamente nossas medidas, ele habita em nós e nos convida a viver em comunhão com ele, participando da sua vida. 

 

Dom Milton Kenan Júnior