Igreja em saída!

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15/10/2014 - 00:00

Diversas vezes, o Papa Francisco tem desafiado a Igreja a colocar-se numa atitude de “saída” e não de “espera”. Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, Francisco diz que “fiel ao modelo do Mestre, é vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém...” (n.23).

À luz dessa afirmação do Bispo de Roma, quero partilhar com vocês o testemunho de Rita Valladares, da Paróquia São Francisco de Assis (Setor Cântaros), na Região Episcopal Brasilândia, da nossa Arquidiocese de São Paulo. É o testemunho de uma mulher que compreendeu o apelo de Francisco e, com criatividade e determinação, está colocando-o em prática:

“Meu nome é Rita Valladares, e em janeiro de 2013, a convite do Padre Jorge Feltrin, convidei alguns jovens do grupo da Crisma para visitar algumas famílias no bairro, e começamos a rezar o terço nas casas. Em março deste ano, celebramos a primeira missa, em uma garagem... foi maravilhoso ver tantas pessoas reunidas. Hoje, temos um grupo de Crisma com 16 jovens, um grupo bem ativo na comunidade. Descemos as vielas e batemos nas portas em busca de crianças para a Catequese e hoje temos três catequistas e 31 crianças. A Catequese acontece aos sábados em cima da laje cedida por uma família da comunidade. Os encontros de Crisma e a missa acontecem numa garagem cedida por outra família. Confesso que não é fácil competir com o barulho da rua, mas a vontade de levar Jesus para aquelas famílias é muito maior. Foram formadas também seis ministras da Eucaristia. São mulheres sofridas, todavia muito alegres e cheias de vontade de caminhar... Ouvimos a voz do Papa que nos encoraja a sair da Igreja e ir ao encontro dos irmãos e é o que temos feito com muita alegria”.

Conhecendo a realidade do Jardim Guarani e as condições que a comunidade Santa Rita de Cassia, da Paróquia São Francisco se encontra, a carta da Rita me encheu de emoção! Trata-se do testemunho de alguém que descobriu o essencial para a Igreja e para cada batizado hoje: conhecer Jesus e fazê-lo conhecido ou “amar Jesus e fazê-lo amado”, como dizia Santa Teresinha do Menino Jesus, a Patrona das Missões.

Ao aproximar-nos da celebração do Dia Mundial das Missões, que ocorre no próximo domingo, o testemunho da Rita transforma-se num forte apelo, não só a um despertar da consciência missionária, mas à solidariedade entre as comunidades na tarefa de evangelizar. 

Seria um gesto muito significativo da Igreja em saída, se comunidades em condições mais estáveis assumissem o compromisso de ajudar as comunidades em condições precárias, não só com recursos financeiros, mas com colaboração pastoral, disponibilizando agentes para assumir tarefas mais urgentes para as comunidades carentes, que não as realizam por falta de recurso humano, como, por exemplo, na preparação de ministros, na formação de lideranças, financiamento de obras sociais, construção de igrejas e outras iniciativas que atendam ou diminuam o drama dos que vivem em paróquias mais pobres da nossa Arquidiocese.

O Papa Francisco reforça esse apelo quando diz: “Cada cristão e cada comunidade há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar esta chamada: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” (n.20).

Sejamos sensíveis ao que o Espírito de Deus nos diz pelos lábios da Rita, que faz eco ao apelo do Papa Francisco. Uma “Igreja em saída” é hoje a única “saída” para a Igreja num mundo globalizado e indiferente aos valores do Evangelho. O testemunho de coragem e solidariedade da Igreja é que levará muitos a se interrogarem sobre a força do Evangelho e a buscar o compartilhar da alegria dos cristãos!