“Pai!”

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03/07/2014 - 00:00

Ao chamar de Pai, é preciso, antes de tudo, uma atitude de humildade que nos leva a reconhecer que “ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,27), ou seja, “os pequeninos” (Mt 11,25).

 

Seria um engano nosso projetar em “Deus-Pai” as imagens que herdamos de nossa história pessoal e cultural a respeito do “pai”. “Deus, nosso Pai transcende as categorias do mundo criado. Transpor para ele, ou contra ele, nossas ideias neste campo seria fabricar ídolos, para adorar ou para destruir” (CIC 2779).

 

Invocamos a Deus como Pai, “porque ele nos foi revelado por seu Filho feito homem e porque seu Espírito nos leva a conhecê-lo” (CIC 2780).

 

Um dos melhores comentários a respeito do termo “Pai”, dá-nos Santa Teresa: “Ó Senhor meu, como pareceis Pai de tal Filho, e ele como parece Filho de tal Pai! Bendito sejais para sempre, eternamente. Já não seria excessivo, Senhor, no final da oração, conceder-nos a graça de chamar-vos nosso Pai? Mas vós nos encheis as mãos e fazeis logo no começo tão grande favor [...] Ó Filho de Deus e Senhor meu! Quantos bens juntos nos dais, logo à primeira palavra!

 

Como tão grandes extremos vos humilhais, a ponto de vos unirdes a nós para pedir conosco, fazendo-vos irmão de criaturas tão vis e miseráveis! Querendo que vosso Pai nos tenha por filhos, em nome de vosso Pai, dais tudo o que se pode dar. Como vossa palavra não pode faltar, obrigais vosso Pai a cumpri-la e a nos atender” (S. Teresa, Caminho de perfeição 27,1.2).

 

O Catecismo nos diz que “a primeira palavra da Oração do Senhor é uma benção de adoração, antes de ser uma súplica, pois a Glória de Deus é, que nós o reconheçamos como “Pai”, Deus verdadeiro. A ele rendemos graças por nos ter revelado seu nome, por nos ter concedido crer nele e por sermos habitados por sua presença” (n. 2782).

 

Ao mesmo tempo, o Catecismo nos lembra que “Rezar a nosso Pai deve desenvolver em nós, duas disposições fundamentais: O desejo e a vontade de nos assemelharmos a ele [...] Um coração humilde e confiante nos faz nos tornarmos “como crianças” (Nt 18,3).

 

“Levanta, pois, os olhos para o Pai que te resgatou por seu Filho e dize: Pai nosso! [...] Mas não exijas nenhum privilégio. Somente de Cristo ele é o Pai, de modo especial; para nós é Pai em comum, porque gerou somente a ele; a nós, ao invés, ele nos criou. Dize, portanto, também tu, pela graça: ‘Pai nosso’ a fim de mereceres ser seu filho” (Santo Ambrósio).

Dom Milton Kenan Júnior