Paróquias irmãs!

A A
01/10/2013 - 00:00

        A Palavra de Deus proclamada neste último domingo (cf. Am 6, 1a.4-7; Lc 16, 19-31) deixou-me pessoalmente inquieto. Diria que provocou uma santa inquietação; o que me levou a redigir rapidamente estas linhas.

          Chamou-nos a atenção, certamente, as duras palavras do profeta Amós aqueles que no seu tempo viviam “despreocupadamente em Sião”, os que se sentiam “seguros nas alturas da Samaria” (6,1ª). Não menos graves foram as palavras de Abraão ao rico epulão que gemia no fogo ansiando por uma gota d´água que pudesse aliviar a sua sede: “Filho, lembra-te que tu recebeste teus bens durante a vida e Lázaro, por sua vez, os males.” ((v.25)

          Sem deixar de pensar na escandalosa desigualdade entre ricos e pobres que fere a face da terra, estas palavras me fizeram pensar naquelas paróquias e comunidades que parecem gozar da condição do “rico” da parábola; e das muitas paróquias e comunidades que se encontram na condição do pobre Lázaro.

          Não podemos negar que há comunidades, mesmo na nossa Arquidiocese, que vivem “confortavelmente”; como não podemos deixar de pensar naquelas outras que lutam por sobreviver, sofrendo por causa da falta de recursos materiais, de espaço físico, de colaboração pastoral; tendo que enfrentar e arcar, às custas de pesadas multas, a intolerância do poder público que apela para a lei para lacrar e interditar pobres comunidades na periferia da nossa cidade.

          Nós que pregamos aos outros, e muitas vezes chamamos a sociedade à pratica da justiça e da solidariedade, deveríamos pensar que um bonito testemunho, da nossa parte, seria criar uma rede de paroquias e comunidades, onde as mais “confortáveis” destinassem uma porcentagem para ajudar as paroquias mais pobres; mais do que isso, criássemos uma rede missionária onde as comunidades mais estruturadas e organizadas, formassem e disponibilizassem leigos e leigas missionários para socorrer as comunidades mais sofridas, onde a formação é tão precária e o numero de agentes limitado.

          O 11º Plano de Pastoral prevê esta ação: “Favorecer e estimular, de forma organizada e integrada, a experiência das paróquias irmãs em toda a Arquidiocese, para promover a partilha e a comunhão dos recursos entre comunidades já estabelecidas e as mais novas, ou carentes de recursos.” (pag. 35)

          De forma inédita, Jesus, nesta parábola (Lc 16,19-31) dá nome a um dos personagens; justamente o pobre chamado Lázaro, que significa “Deus ajuda”. Aqueles com quem ninguém se importa, Deus se importa; aquilo que lhe fazemos, Deus leva a sério.

Oxalá esta inquietação possa tocar muitos corações e possamos ver despontar entre nós o testemunho da solidariedade.

 

Dom Milton Kenan Júnior

 

Publicado no Jornal O SÃO PAULO 01/10/2013