Quando a injustiça parece mais forte...

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31/08/2016 - 14:15

Os textos bíblicos estão repletos de belos exemplos que enchem de luz e esperança as realidades mais comuns e corriqueiras de nossa vida. Quem já não se sentiu injustiçado? Quem nunca se sentiu abandonado e sozinho, ou vítima de uma calúnia mentirosa?

No livro de Daniel, no capítulo 13, encontramos a história de Susana, uma bela mulher casada com um homem rico e muito respeitado. Susana teve uma boa família, que a educou nos princípios e na fé do seu povo. Em um determinado momento, a vida de Susana sofre uma reviravolta, quando dois “anciãos do povo” prepararam uma armadilha, tentando induzi-la no pecado de adultério.

Sob acusação, ela foi submetida a um julgamento, tendo como testemunhas os dois anciãos mentirosos. Pela sua fé, Susana não perdeu a confiança nem a esperança na justiça que vem do Senhor. Mas como calar-se diante das injustiças? Susana teria se tornado mais uma vítima da mentira e da calúnia, se não fosse pelas palavras de Daniel, um jovem expectador, cheio da força do espírito de Deus. Com discernimento, Daniel descobriu a mentira e reverteu a situação. No final da história, Susana e todos os que sofreram com ela elevaram a Deus um hino de louvor pela vitória da verdade e da justiça.

A vida de Susana, como a vida de todos os que sofrem alguma injustiça, está ligada ao mistério da cruz. Jesus é o justo perseguido, humilhado e aparentemente vencido na morte de cruz. Mas a Ressurreição é a resposta de Deus e a palavra definitiva que ilumina a história humana. Em Cristo, todas as injustiças encontram a sua derrota.

A certeza dessa verdade de amor é o que anima e enche de esperança os cristãos, que não se cansam de lutar contra todas as formas de injustiça. Por isso, a atitude cristã diante de uma mentira, de uma calúnia ou de uma iniquidade não é a de uma resignação apática nem de um confronto violento. Os cristãos, pela força do Espírito, são envidados para anunciar e testemunhar, com a própria vida, a fé, a esperança e a caridade.

Nesse contexto, a oração é uma “arma” e não uma fuga da realidade, como dizem alguns. É pela oração que os cristãos se mantêm firmes nas suas convicções e na defesa dos mais fracos. Na sua condição, Susana confiou a Deus a sua causa, assim como na cruz Cristo confiou ao Pai a sua vida. Se a vida de Susana foi poupada, Deus não poupou o seu Filho, que se entregou para nossa redenção. Se ainda hoje permanecem as injustiças, é somente porque ainda existem pessoas que rejeitam o amor de Deus, oferecido na cruz. Quando a injustiça parece mais forte, os cristãos dobram os joelhos e se entregam à oração e à súplica, ao mesmo tempo em que elevam a sua voz para proclamar, com clareza e coragem, a verdade do Evangelho que liberta o justo.

Dom Devair Araújo da Fonseca
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Brasilândia;
e vigário episcopal para a pastoral da comunicação

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3117 -31 de agosto a 06 de setembro