Creio em Deus Criador do Céu e da Terra

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02/09/2015 - 16:00

Por causa da riqueza de seu conteúdo, a criação do mundo visível e do homem ocupam um lugar de destaque na profissão de fé. Criar, enquanto ação própria e exclusiva de Deus, significa: fazer a partir do nada, chamar à existência, formar um ser do nada, produzir algo não de coisas preexistentes. Na Bíblia, o termo hebraico “bará” (=criar) exprime essa ação extraordinária e potente, cujo único sujeito é Deus.

Enquanto criador, Deus está de certo modo “fora” da criação (ou seja, é transcendente a ela), e a criação está “fora” de Deus (porque não é Deus e não se confunde com Ele).

Deus criou o mundo por amor. Criou porque quis comunicar à criação a sua bondade, a sua verdade, a sua beleza e a sua felicidade. Criando todos os seres do nada, os chamou a participar de suas perfeições divinas em medida diversa e conforme o lugar que os diversos seres ocupam na hierarquia dos seres.

É notável o otimismo da fé na criação: Deus criou todas as coisas porque as ama e as ordenou em uma graduação que vai do mais ínfimo até o mais elevado dos bens.

Não existe nada que não participe, em seu modo e grau, do Sumo Bem que é Deus. Por isso, a cada criatura lhe compete um lugar correspondente na hierarquia dos seres e, consequentemente, em tudo há um grau de bondade, que varia de acordo com o lugar que o Criador assinalou em tal hierarquia.

Ao mesmo tempo, essa participarão gradual das criaturas de Deus coloca a possibilidade de a criatura humana e angélica se distanciar da plenitude do ser, passando a um nível inferior que lhe conviria por criação, sem, contudo, sair totalmente de sua bondade. Assim, o pecado não tem o poder de destruir totalmente a obra de Deus.

Certamente, pelo seu pecado, o homem se separou de Deus, mas não colocou fim ao amor que Deus tinha por ele, pois esse amor precede a criação e subsiste a todas as revoltas do homem. Em seu amor imutável, Deus ama aquilo que é sua obra e odeia o pecado, que Ele não fez. Se Ele tivesse odiado algo, não teria criado porque não seria objeto de sua vontade. Nada poderia subsistir se o Onipotente não tivesse chamado à existência; nem mesmo o pecador existiria se nele não subsistisse algo que Deus pudesse amar.

Com efeito, sempre devemos distinguir entre a criatura como obra de Deus e o pecado como fruto de uma escolha errada. Deus não odeia nada daquilo que criou, mas como autor da natureza, não do pecado, odeia o mal que Ele não criou. À diferença do maniqueísmo, a doutrina católica não separa bondade e onipotência divinas. Deus é bom e onipotente, de tal modo que pode tirar proveito também do mal que Ele permite e condena; Ele é o autor do bem que tira do mal, seja sanando com a misericórdia, seja fazendo-o servir aos seus planos.

Vontade criadora exclui necessidade e constrição, por outro lado, não significa arbitrariedade nem capricho. Por causa de seu poder, Deus pode fazer o que quer, mas tal liberdade corresponde ao seu amor, ou melhor, a vontade de Deus se compreende pelo seu amor. Vontade e bondade se interpenetram, se completam, animadas pela superabundância do amor divino. Por esse motivo, as criaturas são produto de um puro dom.

Dom Julio Endi Akamine
Bispo auxiliar da Arquidiocese na Região Lapa;
nomeado arcebispo de Sorocaba (SP)

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - edição 3067 – 02 a 08 de setembro