Termina o Ano Santo da Misericórdia

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“A misericórdia tornou-se protagonista, pelo menos por um ano, do viver cotidiano dos cristãos”
Publicado em: 23/11/2016 - 16:30
Créditos: Jornal O SÃO PAULO

Termina o Ano Santo da Misericórdia

Por pura inspiração divina e sem muitos planos de grandeza, segundo ele mesmo, o Papa Francisco convocou e conduziu o Ano Santo extraordinário da Misericórdia, encerrado no domingo, 20. Porém, no fim das contas, o Jubileu foi uma enorme celebração em todo o mundo. Conforme dados do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização, aproximadamente 21,3 milhões de pessoas peregrinaram a Roma e, nas milhares de dioceses católicas do mundo, 900 milhões passaram por uma porta santa.

Pela primeira vez na história dos jubileus da Igreja, de acordo com o arcebispo Dom Rino Fisichella, presidente do Pontifício Conselho, o Ano Santo teve um caráter realmente universal. Para Dom Fisichella, o desejo do Papa era fazer com que os cristãos pudessem “ter uma experiência da misericórdia para se tornarem eles mesmos instrumentos de misericórdia”. Ou seja, o objetivo era “que a misericórdia se tornasse de novo um elemento extraordinariamente propulsivo e eficaz na vida da Igreja”.

Nos países de maior tradição católica, estima-se que 80% dos fiéis tenham participado de alguma forma do Jubileu. “A misericórdia tornou-se protagonista, pelo menos por um ano, do viver cotidiano dos cristãos”, afirmou Dom Fisichella. “Em todo o mundo, abriram-se portas da misericórdia como testemunho de que o amor de Deus não conhece nenhuma fronteira.”


Francisco fecha a última porta santa


Um Ano Santo que “nos convidou a redescobrir o centro, a retornar ao essencial”. Assim resumiu o Papa Francisco sobre o ano jubilar da misericórdia, que terminou no domingo, 20, com o fechamento da última porta santa, a da Basílica de São Pedro, no Vaticano. “Ainda que se feche a porta santa, permanece sempre escancarada a verdadeira porta da misericórdia, que é o coração de Cristo”, refletiu o Pontífice.
Na solenidade de Cristo Rei, que marcou também a conclusão do ano litúrgico, o Papa fez uma profunda pregação final sobre o tema da misericórdia, associando-o ao amor de Cristo pela humanidade, explícito na sua cruz. “Esse tempo de misericórdia nos chama a olhar o verdadeiro rosto do nosso Rei, aquele que brilha na Páscoa, e a redescobrir o olhar jovem e belo da Igreja, que
brilha quando é acolhedora, livre, fiel, pobre nos meios e rica no amor, missionária”, disse.

“A misericórdia exorta-nos a renunciar a hábitos e costumes que possam ser obstáculo para o serviço ao Reino de Deus”, acrescentou. “Ajuda-nos a encontrar a nossa orientação somente na perene e humilde realeza de Jesus, e não nas precárias realezas e poderes mutáveis de cada época.” Ele se referiu  ao Crucificado, despido e aparentemente sem poder: “Na cruz, parece mais vencido do que vencedor”, observou. “Seu trono é a cruz, sua coroa é de espinhos, porque a grandeza de seu Reino não é o poder segundo o mundo, mas o amor de Deus, um amor capaz de alcançar e curar qualquer coisa. Por esse amor, Cristo se abaixou até nós, habitou a nos sa miséria humana, provou a nossa condição mais ínfima: a injustiça, a traição, o abandono.”

Segundo o Papa, o mistério da misericórdia está em Jesus, porque, diante disso, “não nos condenou e sequer nos conquistou; não violou a nossa liberdade, mas se fez estrada com amor humilde que tudo perdoa, tudo espera, tudo suporta. Só esse amor venceu e continua a vencer os nossos grandes adversários: o pecado, a morte, o medo”.

Para acolher a realeza de Cristo, explicou o Pontífice, é preciso evitar duas tentações. A primeira, daqueles que veem o sofrimento de Jesus e não fazem nada. “Também nós, nas circunstâncias da vida e com nossas expectativas não realizadas, podemos ter a tentação de tomar distância à realeza de Cristo.” A segunda é a dos que diziam a Ele “salve a si mesmo!”. Segundo o Papa, essa é uma  das piores tentações. “É um ataque direto ao amor. Não salve aos outros, mas a si mesmo. Prevaleça o eu com sua força, sua glória, seu sucesso. É a tentação mais terrível!”, exortou. “Mas, diante desse ataque, Jesus não fala, não reage. Continua a amar, perdoa.”

A terceira reação possível, e a correta, é a do bom ladrão, crucificado ao lado de Cristo. “Jesus, lembre-se de mim quando entrar no teu Reino!”, diz o bom ladrão. Para Francisco, “essa pessoa, simplesmente olhando Jesus, acreditou em seu Reino. E não se fechou em si mesmo, mas com seus erros, seus pecados, voltou-se a Jesus, pediu para ser lembrado e experimentou a misericórdia de Deus”, afirmou, recordando a resposta de Cristo: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso!” E, continuou o Papa, “quando damos a oportunidade, Deus se lembra de nós. Está pronto para apagar completamente e para sempre o pecado. Deus não tem memória do pecado, mas de nós, seus filhos amados”.
 

Papa confirma medidas que facilitam acesso ao sacramento da Reconciliação

“O perdão é o sinal mais visível do amor do Pai”, afirmou o Papa Francisco em sua carta apostólica Misericordia et misera (Misericórdia e mísera), publicada na segunda-feira, 21. “Ninguém pode pôr condições à misericórdia. Ela permanece sempre um ato de gratuidade do Pai celeste, um amor incondicional e imerecido.” Por esse motivo, o Pontífice decidiu prorrogar por tempo indeterminado as provisões que criou no jubileu extraordinário. Os mil sacerdotes que atuam como “missionários da misericórdia”, autorizados a absolver pecados que via de regra só a Sé Apostólica poderia reter, continuarão rodando pelo mundo para confissões. Entre os casos possíveis, que elevam à excomunhão, estão a profanação da Eucaristia, a quebra do sigilo de confissão, a violência contra o Papa e a consagração de bispos sem mandato pontifício, entre outros.

Daqui por diante, o pecado do aborto poderá ser absolvido por qualquer sacerdote católico, “por força de seu ministério” no sacramento da Reconciliação, sempre que encontrar um fiel verdadeiramente arrependido. “Quero repetir com todas as minhas forças que o aborto é um grave pecado, porque coloca fim a uma vida inocente”, ponderou o Pontífice. “Com a mesma força, no entanto, posso e devo afirmar que não existe nenhum pecado que a misericórdia de Deus não possa alcançar e destruir quando encontra um coração arrependido, que pede para se reconciliar com o Pai.”

Além disso, os padres da Fraternidade São Pio X, que se encontra em comunhão parcial com a Igreja Católica, podem continuar atendendo confissões de forma válida. O Papa decidiu dessa forma “para que a ninguém venha a faltar o sinal do sacramento da Reconciliação por meio do perdão da Igreja”.


Em resumo, “não há lei nem preceito que possa impedir a Deus de reabraçar o filho que volta a Ele reconhecendo ter errado, mas decidido a recomeçar do início”, escreveu o Bispo de Roma. “Parar somente na lei equivale a frustrar a fé e a misericórdia divina.” Além disso, para celebrar o caráter social do Ano Santo extraordinário da Misericórdia, o Papa Francisco instituiu a Jornada Mundial dos Pobres, que será comemorada por toda a Igreja no 33º Domingo do Tempo Comum de cada ano. O objetivo é “ajudar cada batizado a refletir sobre como a pobreza está no coração do Evangelho”.