Como é grande a misericórdia do Pai!

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17/12/2015 - 10:15

Neste ano, o Natal acontece dentro do Jubileu extraordinário da Misericórdia: uma bela ocasião para compreendermos o nascimento de Jesus a partir de uma ótica diferente: a misericórdia de Deus.

No seu Evangelho e nas suas cartas, o apóstolo São João não descreve os fatos relativos ao nascimento de Jesus, como fazem São Mateus e, principalmente, São Lucas. Não é que João ignore ou negue esses fatos, mas não os narra e vai diretamente à interpretação do seu significado: por trás dos fatos, o que se passou com o nascimento de Jesus?

No Prólogo do seu Evangelho, ele ensina que, no menino, nascido de maneira maravilhosa da Virgem Maria, foi a própria “sabedoria eterna” de Deus que assumiu “carne”, ou seja, nossa real condição humana. “O Verbo de Deus se fez carne e veio habitar no meio de nós. E nós vimos a sua glória...” (Jo 1,14). Veio para revelar humanamente a sabedoria eterna de Deus e dar condição para que todos pudéssemos participar dessa “sabedoria eterna”.

Dessa maneira, por meio de Jesus, Deus mesmo deu-se a conhecer a nós: “ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi ele quem o deu a conhecer” (Jo 1,18). Em Jesus, nós também conhecemos o desígnio eterno de Deus a nosso respeito: desígnio de amor misericordioso, de vida e salvação. Por isso, o Papa Francisco ensina, na Bula de proclamação do Ano extraordinário da Misericórdia, que Jesus é “misericordiae vultus” – o “rosto da misericórdia do Pai”.

O Filho eterno de Deus veio ao mundo e nasceu, pequenina criança humana; por meio da Virgem Maria, assumiu nossa frágil condição para uni-la à sua sublime existência e elevá-la a uma dignidade jamais alcançável pelo esforço humano. Deus o fez por pura graça e misericórdia, para que os homens pudessem tornar-se “filhos de Deus”: todos aqueles que o receberem com fé e humildade (cf. Jo 1, 12-13).

Não é pouco o que está em jogo no nascimento de Jesus! Nas festas do Natal, seria importante ficar em silêncio por alguns instantes, contemplando o “Mistério do amor misericordioso de Deus”. Infelizmente, somos levados a ficar nos aspectos mais periféricos do Natal: luzes coloridas, músicas, árvores enfeitadas, presentes, Papai Noel, ceia de Natal... Nossa atenção se fixa no embrulho, mais que no próprio presente! O que a cultura produziu para festejar o Natal pode ser bonito e interessante, mas nunca deveria desviar nossa atenção do foco dessa festa bonita: o amor e a ternura de Deus para conosco, o próprio Jesus Cristo Salvador e seu nascimento maravilhoso.

No diálogo com Nicodemos, o próprio Jesus interpreta o motivo do seu nascimento: “tanto Deus amou o mundo, que lhe entregou seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna!” (Jo 3,16). O Filho Eterno de Deus veio ao mundo para manifestar o seu amor por todos os homens e nenhum pecador, por grande que seja, fica excluído da salvação trazida por Cristo Jesus.

No início de sua 1ª Carta, São João retoma algo do Prólogo do seu Evangelho: em Jesus, manifestou-se a vida eterna; ele é a “Palavra da Vida”, por meio da qual todos podem ter comunhão com Deus Pai (cf. 1 Jo 1, 1-4). E vai ainda mais longe, ao falar do amor misericordioso de Deus Pai: “vede que grande presente de amor o Pai nos deu: somos chamados filhos de Deus! E nós o somos!” (1 Jo 3,1). São Paulo vai dizer que “quando se completou o tempo, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher (...), para que todos recebêssemos por meio dele a dignidade de filhos” (Gl 4, 4-5). Somos “filhos no Filho de Deus”!

É essa a maravilha do Natal! Foi isso que os autores sagrados quiseram nos transmitir sobre Jesus, desde o início, com suas narrações e interpretações sobre o nascimento de Jesus: “Deus enviou seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que todos pudessem encontrar a salvação e a vida eterna por meio dele (Jo 3,17).

Foi também isso que os artistas tentaram dizer através de suas telas, que hoje reproduzimos nos cartões de Natal... Foi que os músicos e cantores transformaram em sons e cânticos melodiosos, que convidam a mergulhar no mistério profundo do Natal. É isso o que a Igreja professa com fé e celebra da Liturgia da Igreja. Feliz e santo Natal!

Veja as felicitações de Natal do Cardeal Odilo Scherer


Publicado no jornal O SÃO PAULO - edição 3082 - 17 de dezembro de 2015 a 5 de janeiro de 2016