Frutos do Concílio Vaticano II

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15/04/2015 - 00:00

Durante a Assembleia Geral da CNBB deste ano, aberta em Aparecida no dia 15 de abril, haverá uma sessão comemorativa dos 50 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II. Será para destacar os frutos mais relevantes do Concílio na vida e na missão da Igreja, nestes 50 anos, e para dar graças a Deus pelo bem que o Concílio já trouxe.

Primeiro fruto foi, sem dúvida, o clima novo de interesse, entusiasmo e confiança despertado na Igreja, o entrosamento do episcopado e sua comunhão com o Sucessor de Pedro. Fruto amadurecido os 16 preciosos documentos conciliares: quatro Constituições, nove Decretos e três Declarações, que representam um trabalho imenso da Igreja e o esforço dos seus Pastores para dar orientações para a Igreja, conforme as circunstâncias novas.

Fruto importante foi o Sínodo dos Bispos, organismo instituído pelo Beato Paulo VI já em 1965, no final do Concílio. O Sínodo é expressão da colegialidade e da comunhão com o Papa, do episcopado inteiro e da sua solicitude por todas as Igrejas, como quis o Concílio. Nas suas 13 assembleias ordinárias, três extraordinárias e numerosas assembleias regionais ou continentais, o Sínodo vem retomando os grandes temas do Concílio, atualizando sua reflexão e dando novas orientações à Igreja. As Exortações Apostólicas pós-sinodais são a explicitação das orientações do Concílio. 

É inegável que o sopro renovador do Espírito Santo levou a uma grande movimentação para renovar e atualizar a vida da Igreja, em todos os seus aspectos: na liturgia, na teologia, na organização pastoral, na catequese, na formação dos ministros da Igreja e do povo de Deus, nas diversas formas de fomentar o diálogo com o mundo. Os efeitos dessa renovação foram mais perceptíveis nas dioceses.

Mas as Conferências Episcopais também se fortaleceram e muitas novas foram instituídas; da mesma forma, os Conselhos Continentais do Episcopado. Na América Latina, em especial, o Conselho Episcopal Latino-Americano (CELAM) teve um novo dinamismo a partir do Concílio, como testemunham as Conferências Gerais Continentais do Episcopado de Medellin, Puebla, Santo Domingo e Aparecida.

Cada Documento do Concílio produziu apreciáveis frutos na vida da Igreja: A Dei Verbum, sobre a Divina Revelação, levou a uma renovação bíblica; a Lumen Gentium foi trazendo uma nova impostação da vida eclesial, onde aparece melhor que ela é testemunha e servidora do Reino de Deus; é o povo de Deus, povo de batizados, com dignidade comum e vocação universal à santidade; povo de discípulos missionários, com dons e carismas diversos, a serviço do Evangelho. Belo fruto da eclesiologia do Vaticano II é a participação mais expressiva dos leigos na vida e na missão da Igreja.

A renovação litúrgica suscitada pela Sacrosanctum Concilium ajudou a participação, com mais fruto, do povo na celebração dos divinos mistérios. Foram enormes os esforços para formar o clero para os novos tempos da Igreja; quanta transformação nos Seminários! Quantas mudanças no modo de os padres exercerem sua missão pastoral! Também o rosto da Vida Consagrada foi profundamente transformado.

Não foram poucos os frutos suscitados pela Constituição Pastoral Gaudium et Spes, na busca de uma nova relação da Igreja com o mundo, para ser presença profética e solidária nas alegrias e esperanças, nos sofrimentos e angústias dos homens e mulheres do nosso tempo. As diversas encíclicas sociais publicadas no pós-Concílio trazem sempre a marca da Gaudium et Spes.

O Concílio também já suscitou muitos frutos no ecumenismo; era este um dos propósitos do início do Concílio. Muito já se avançou nesses 50 anos, embora ainda reste um longo caminho a percorrer. Houve igualmente um esforço significativo no diálogo com as religiões não cristãs.

São frutos expressivos do Concílio o novo Código de Direito Canônico, o Catecismo da Igreja Católica e a renovação dos Rituais dos Sacramentos, do Missal, do Lecionário e da Liturgia das Horas. Frutos do Concílio também são os grandes Papas de Concílio e do pós-Concílio e a nova forma de exercer a missão do Sucessor de Pedro, dando à Igreja um rosto sempre mais universal.

A Igreja de Cristo permanece a mesma na sua essência, antes e depois do Concílio. Mas é inegável que, 50 anos após o Concílio, ela se apresenta com um rosto mudado e renovado. Na hermenêutica da continuidade, e não da ruptura, a recepção e aplicação do Concílio continuam dando vitalidade nova à Igreja e uma nova presença no mundo.

As árvores mudam de aspecto ao longo das estações do ano, sem deixarem de ser elas mesmas. Assim também acontece com a Igreja de Cristo: o Concílio trouxe uma nova primavera: alguns frutos já amadureceram; outros ainda são esperados e vão aparecer com o passar do tempo, contando com a graça de Deus, nosso cultivo perseverante e com a paciência da fé e da esperança.

Artigo publicado no Jornal O SÃO PAULO - Edição 3047 - 15  a 22 de abril de 2015