Igreja na Metrópole: a comunidade católica coreana

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05/08/2015 - 10:00

AIgreja de Cristo é uma comunidade de pessoas, de discípulos-missionários da Boa-Nova do Reino de Deus no meio do mundo. Mas não apenas de pessoas isoladas e sem relação entre elas: ela é “comunidade de comunidades”, reunidas em torno de Cristo e que têm em comum a mesma fé, esperança e caridade.

Nas metrópoles, como São Paulo, além das paróquias territoriais, existem as comunidades católicas voltadas para grupos étnicos, como os japoneses, chineses, italianos, hispano-americanos, alemães, franceses... Todas elas têm um forte significado missionário e ajudam a acolher pessoas e a cultivar, expressar e transmitir, de forma inculturada, as riquezas da mesma fé e da vida cristã e eclesial. Nossa fé se expressa com revestimentos culturais e sociais próprios de cada povo.

A paróquia pessoal Nossa Senhora Rainha e Santo André (Kim) Degun, da comunidade coreana em São Paulo, está comemorando os 50 anos do seu início na Metrópole paulistana. Celebrei com essa comunidade no dia 1º de agosto, juntamente com Dom Lázaro You Heung-sik, bispo de Daejeon (Coreia do Sul), de cuja diocese vêm os sacerdotes missionários que assistem a paróquia. Estiveram presentes também vários sacerdotes que já trabalharam na paróquia no passado, além de muito povo, sobretudo crianças e jovens.

A imigração coreana no Brasil já começou na década de 1920, quando algumas famílias coreanas chegaram aqui junto com imigrantes japoneses; naquela época, a Coreia ainda estava sob a dominação do império japonês, que durou de 1910 a 1945. Algumas famílias eram católicas. Um fluxo imigratório mais expressivo iniciou-se após a guerra da Coreia (1945), quando o País reconquistou a sua autonomia.

Na década de 1960, chegaram vários grupos de imigrantes coreanos, que foram encaminhados inicialmente para projetos agrários no interior de São Paulo e do Paraná. Esses projetos, porém, duraram pouco, pois não ofereciam aos imigrados as condições necessárias para trabalharem autonomamente e para progredirem na vida. Foi assim que eles, e os que foram chegando sucessivamente, se estabeleceram, sobretudo, em São Paulo, Campinas e Curitiba.

Os católicos coreanos que, no início, contavam apenas umas poucas famílias, sentiram a necessidade de se organizar em comunidade e de terem a assistência religiosa da Igreja. Em 1965, com as bênçãos do cardeal Agnelo Rossi, então arcebispo de São Paulo, foi celebrada na igreja de São Gonçalo, perto da Catedral da Sé, uma primeira missa para cerca de 40 católicos coreanos; e foi ainda em língua japonesa...

Daí por diante, eles receberam assistência religiosa de missionários americanos e italianos; em 1973, finalmente, chegou um sacerdote coreano. Em 1972, o Cardeal Paulo Evaristo Arns criou a paróquia pessoal Nossa Senhora Rainha, para a comunidade coreana, cuja sede passou por vários bairros, como Ipiranga, Aclimação e Liberdade.

Em 1990, foi iniciada no Bom Retiro a construção da atual igreja e de uma sede paroquial ampla e funcional. Inaugurada e abençoada em 2004 pelo Cardeal Cláudio Hummes, a igreja recebeu o nome de Santo André (Kim) Degun, que foi o primeiro sacerdote mártir da Coreia. Atualmente, a comunidade agrega cerca de 3.600 fiéis de origem coreana e tem ricas e variadas expressões de vida eclesial, social e cultural. Essa comunidade contribui com riquezas próprias para nossa Igreja na Metrópole.

Ela traz as marcas de um ardor missionário original e exemplar: a Igreja na Coreia teve início com leigos, antes mesmo que chegassem os missionários sacerdotes. Em São Paulo, essa história se repetiu; mesmo agora, a paróquia é caracterizada por forte atuação laical. Ela também traz a riqueza de uma fé heroica: na jovem Igreja coreana já são numerosos os mártires reconhecidos pela Igreja. E o Papa Francisco, em sua recente viagem àquele País, acrescentou mais outras centenas de bem-aventurados mártires, quase um milhar, à lista dos testemunhas da fé que deram seu sangue por Cristo.

Publicado no jornal O SÃO PAULO - Edição 3063 - de 5 a 11 de agosto de 2015