O Congresso Eucarístico de 1942 (1)

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22/03/2012 - 00:00

O 4º Congresso Eucarístico Nacional, realizado em São Paulo de 3 a 7 de setembro de 1942, já havia sido assumido ainda pelo primeiro arcebispo de São Paulo, dom Duarte Leopoldo e Silva, mas foi organizado e celebrado pelo seu sucessor, dom José Gaspar d’Affonseca e Silva. Na Europa, a 2ª Grande Guerra fazia estragos; o Brasil, com Getúlio Vargas no poder, vivia em regime de exceção e o clima também já era de insegurança. Mesmo assim, o Congresso foi um grande êxito e conseguiu mobilizar a cidade de São Paulo.

Nomeado Legado Pontifício para o Congresso pelo papa Pio 12, o arcebispo do Rio de Janeiro, dom Sebastião Leme da Silveira Cintra, 2º cardeal do Brasil, partiu de trem com sua comitiva, do Rio, no dia 2 de setembro, parando por 5 minutos em cada cidade do trajeto no Estado de São Paulo, para abençoar o povo. Em Aparecida, foi acolhido calorosamente pelo povo e saudado pelas autoridades; pernoitou e celebrou a missa na Basílica de Nossa Senhora Aparecida, que ainda fazia parte da Arquidiocese de São Paulo.

Chegou a São Paulo na tarde do dia 3, na “Estação do Norte” (Brás); a cidade parou para prestar homenagem ao seu filho ilustre que, além de Legado Pontifício no Congresso, tinha sido o primeiro paulista a receber a púrpura cardinalícia. A avenida Rangel Pestana, por onde passou o cortejo de honra, e a praça da Sé estavam apinhadas de gente! Sinos tocaram festivos à chegada do Legado Pontifício. Na escadaria da Sé, ainda em construção, foi lida a carta de Pio 12, com a nomeação de Legado Papal para o 4º Congresso Eucarístico Nacional. O cardeal Leme recebeu as chaves da cidade, foi saudado pelas autoridades locais e pelo Interventor Federal, que fazia as vezes de governador; ficou hospedado oficialmente no palacete Eduardo Prates, do Governo Paulista, nos Campos Elíseos.

Na noite de 3 de setembro, houve adoração eucarística “nas intenções do Congresso”, na Igreja de Santa Ifigênia, catedral provisória à época; o cônego Manfredo Leite foi o pregador oficial. A abertura do Congresso, no dia 4, foi presidida pelo núncio apostólico no Brasil, dom Bento Aloisi Masella, no Vale do Anhangabaú, onde fora montado um palco enorme, com o altar-monumento, uma cruz muito alta e até um órgão de tubos, ao ar livre. A homilia foi proferida por dom Mário de Miranda Vilasboas, bispo de Garanhuns (PE). Um coral de 300 vozes, regido pelo maestro e compositor Fúrio Franceschini, cantou a Missa Laudate Dominum, de Palestrina.

Durante o Congresso, a missa era celebrada pela manhã, com grupos específicos, para as “comunhões gerais”. As tardes eram dedicadas a estudos, em grupos separados de moços e homens, de moças e senhoras, de militares e de operários. Os padres reuniram-se na basílica do Mosteiro São Bento. À noite, sempre às 20h, havia a “sessão geral”, no Vale do Anhangabaú, presidida pelo Legado Pontifício. Na manhã do dia 5, houve a missa para as crianças, presidida por dom Antônio dos Santos Cabral, arcebispo de Belo Horizonte. No final da missa, também o Cardeal Legado dirigiu uma saudação às crianças.

À tarde, ele recebeu em audiência a Liga das Senhoras Católicas e as associações religiosas e culturais. À noite, na sessão geral, a palavra foi de dom Jaime de Barros Câmara, então, arcebispo de Belém do Pará, e que se tornaria o sucessor do cardeal Leme no Rio de Janeiro, pouco tempo depois. No final da sessão, houve uma grandiosa procissão luminosa com a imagem de Nossa Senhora Aparecida; eram, sobretudo, os homens que deviam participar da procissão, preparando-se para a “comunhão geral dos homens”. Enquanto isso, à tarde e à noite, em todas as igrejas, os padres atendiam à confissão das moças e das senhoras, em preparação à comunhão geral.

 

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 22.05.2012