Oremos pelos que governam

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09/09/2015 - 10:00

No aniversário da Independência, Dia da Pátria, foram muitas as manifestações pelas ruas e praças do Brasil. A favor ou contra o Governo, cada grupo, a seu modo, tinha em vista o bem do Brasil. Na Igreja, também celebramos a Missa “pela Pátria e pelo povo”, de acordo com o formulário proposto pelo Missal. Embora nem todos creiam ser importante rezar pela Pátria, nós cremos que é.

A Pátria representa o conjunto daquilo que nos une e irmana nesta família grande e muito diversificada, chamada Brasil, onde vivemos nossas relações sociais, nossa cultura e as responsabilidades comuns. Na Pátria, somos parte de um povo, com laços profundos, e somos chamados a expressar nossa solidariedade de maneira concreta. Não se deve confundir Pátria com governantes: estes são representativos e transitórios; aquela permanece e é servida pelos Governos.

Não é de hoje que a Igreja recomenda rezar pela Pátria, pelo povo e também pelos governantes. São Paulo já recomendava a Timóteo que se fizessem “súplicas, orações, intercessões e ação de graças por todas as pessoas, pelos reis e pelas autoridades em geral”, para que todos pudessem ter uma vida calma e tranquila (cf. 1Tm 2, 1-2). Em diversas outras passagens do Novo Testamento recomenda-se rezar pelos governantes. E não era apenas pelos governantes bons e honestos; não devemos esquecer que, nos tempos apostólicos, já havia corrupção e imoralidade entre os governantes; e já havia governantes que perseguiam e martirizavam os cristãos.

Pode parecer estranho que rezemos pelos governantes, mesmo suspeitando que alguns deles possam ser maus, desonestos e corruptos... Entretanto, não rezamos apenas pelos governantes bons, mas também, e mais ainda, por aqueles que não parecem bons, para que se convertam e se tornem bons. É necessário pedir que Deus mova as mentes e os corações dos governantes, para que governem com sabedoria, retidão e justiça e para que assegurem aos governados a dignidade, a liberdade, a justiça e a paz.

Devemos rezar pelos governantes que atuam nos três poderes: Legislativo, Executivo e Judiciário; e nas três esferas do Estado Brasileiro: Municípios, Estados e União. Nossa oração pelos legisladores é para que façam leis justas e sábias, mediante as quais o bem comum seja assegurado de maneira equitativa para todos os cidadãos; pelos governantes do Executivo, que executam as leis e administram o País, para que governem com prudência e honestidade; pelos governantes, que devem interpretar as leis e administrar a Justiça, para que sejam sábios e justos, tenham o reto discernimento e não se deixem corromper. É necessário rezar pelos bons governantes, para que perseverem no bem; e, mais ainda, pelos maus governantes, para que se convertam e cumpram retamente seus deveres.

Quando interrogado pelos fariseus sobre o tributo a César, Jesus respondeu: “devolvei a César o que é de César e, a Deus, o que é de Deus” (Mc 12,17). Essas palavras podem ter vários significados e são uma recomendação para que os deveres cívicos e de solidariedade social sejam cumpridos por todos, e não apenas quando gostamos dos governantes. Mas também significam que César não pode reclamar para si uma submissão que só a Deus é devida; “os Césares”, de fato, recebiam honras divinas e muitos cristãos foram martirizados porque se negavam a prestar culto divino ao imperador romano. Jesus ensina, sobretudo, que governados e governantes devem lembrar sempre que “soli Deo gloria” - somente a Deus são devidas adoração e glória. A Deus, juiz supremo, todos devem prestar contas.

Desnecessário é dizer que os cidadãos também devem fazer a sua parte para o bem da Pátria; por eles também devemos rezar, para que sejam disponíveis e capazes de dar a sua contribuição para a edificação do bem comum; este não depende apenas dos governantes. O Papa Francisco recordou, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, que “todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo melhor” (nº 183). Não é possível ser um bom cristão e um mau cidadão, ao mesmo tempo. O bom cristão deve também ser um bom cidadão.

Publicado no jornal O SÃO PAULO - Edição 3068 - 9 a 15 de setembro de 2015