Quantos são os católicos?

A A
12/07/2012 - 00:00

A publicação de resultados do Censo de 2010 sobre a situação religiosa no Brasil está dando ocasião para comentários de vários tipos. Quero fazer o meu também. Os católicos apostólicos romanos seriam “ainda” cerca de 65% da população brasileira, com algumas diferenças sensíveis de região para região. Em dez anos, teriam encolhido em cerca de 8%? Será isso mesmo?

Na época do Censo, teci minhas considerações sobre o que me pareciam falhas evidentes no método e na forma da pesquisa. O entrevistado católico, que respondesse à pergunta – “qual é sua religião?” –, era colocado diante de uma lista de nada menos que 27 tipos de católicos, ou de “religiões católicas”, supostamente diferentes, para indicar a sua própria opção. De fato, porém, pelo menos 12 dessas opções não eram referentes a outras Igrejas ou “religiões católicas”, mas a grupos, associações ou ritos de nossa própria Igreja Católica Apostólica Romana. Além disso, algumas outras opções punham claramente as pessoas menos esclarecidas em dúvida sobre qual a resposta a dar. Uma pesquisa mal empostada leva a resultados confusos e faz aparecer uma realidade distorcida. Continua no ar a pergunta sobre os reais motivos da formulação da citada pesquisa sobre a situação religiosa no Brasil.

Aceitando ou não a confiabilidade dos resultados da pesquisa sobre a realidade religiosa brasileira, nós católicos apostólicos romanos somos interpelados e nos questionamos sobre os motivos da evasão continuada de fiéis da nossa Igreja. Não podemos permanecer tranquilos, como se nada estivesse acontecendo; cabe-nos perguntar, se estamos fazendo bem a nossa parte para que a fé da Igreja seja vivida e testemunhada ao mundo de maneira alegre e convincente... É certo que já existe um esforço para promover uma “nova evangelização”; provavelmente, ainda não seja suficiente e bastante profundo, devendo mobilizar muito mais a inteira comunidade dos fiéis.

No entanto, fico perplexo diante de análises sobre o fenômeno, aparecidas na mídia e feitas a toque de caixa, que apontam para aquilo que seriam as supostas causas e saídas para a Igreja Católica: seria preciso mudar sua doutrina, sua moral, sua liturgia, sua pregação, pois não seriam mais adequadas à cultura atual e à mentalidade do homem de hoje; a opção preferencial pelos pobres, o celibato dos padres, o voto de castidade das religiosas e a “proibição” do uso de preservativos seriam outras tantas causas...; a pregação deveria ser voltada para o encantamento das massas, a solução para os problemas cotidianos e para promover a prosperidade...

Nesse modo pragmático de apontar soluções, a Igreja Católica deveria deixar de lado o seu Credo e o Catecismo, os Dez Mandamentos, a Liturgia (“demasiado formal”...) e o próprio Evangelho; deveria tornar-se uma espécie de agência de milagres, adotando soluções mágicas para a solução de todos os males, sem mexer mais com as consciências nem chamar à conversão, escondendo a cruz de Cristo, incentivando todos a entrarem pela “porta larga” e a seguirem pelo “caminho espaçoso”... Deveria a Igreja negar a sua missão e deixar de testemunhar no mundo o Reino de Deus, dando, simplesmente, bênçãos aos projetos humanos, mesmo se eles fossem contrários aos mandamentos de Deus?

Nesse momento, somos pressionados de muitos modos, a fazer autocrítica, a dar explicações ou a encontrar soluções; a tentação para a autoflagelação poderia ser grande e também perigosa, pois, aquilo que se despreza, facilmente também se abandona. Mas vamos com calma, a solução não é essa. O momento, certamente, não é para pânico, para apontar culpados, para linchar a mãe... É hora de autocrítica e avaliação, mas também de confiança em Deus e de esforço redobrado de conversão e vivência autêntica da fé e do testemunho cristão católico no mundo. O Ano da Fé e o chamado à nova evangelização nos estimulam a isso. Em tempos de crise, a Igreja sempre viveu momentos de renovado dinamismo e santidade. A hora pode ser esta e chama em causa a todos nós.

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 03.07.2012