Sacerdotes: um coração como o de Cristo

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26/09/2014 - 00:00

No próximo dia 19 de junho a Igreja celebra na Liturgia a solenidade do Sagrado Coração de Jesus.  Na simbologia religiosa, o coração é a sede dos sentimentos, do amor e das emoções; de maneira muito especial, do amor, da misericórdia e da compaixão. Se dizemos que alguém tem um coração bom, ou duro, queremos dizer que a própria pessoa é boa, ou dura nas relações com os outros.

A solenidade do Sagrado Coração de Jesus fala, portanto, do próprio Jesus e do seu amor infinito pela humanidade, até ao ponto de entregar sua vida por ela e de deixar que seu coração humano fosse aberto pela lança, deixando saírem dele sangue e água: o sangue da vida, do amor que faz viver; a água do batismo, dos sacramentos e da vida nova, segundo o Espírito de Deus. Nos Padres da Igreja encontramos a afirmação sugestiva de que a Igreja nasceu do lado aberto de Jesus Cristo, “dormente na cruz” e que, dessa fonte salutar, provém toda a vitalidade da Igreja.

Há vários anos, por iniciativa do papa João Paulo II, a solenidade do Sagrado Coração de Jesus é o dia de oração pela santificação do clero; todos os fiéis são convidados a rezar pela santificação dos sacerdotes. A relação entre o Coração de Jesus e o sacerdócio cristão é muito rica e feliz; de fato, os ministros de Cristo não exercem apenas um sacerdócio funcional e ritual, como se fosse uma profissão; pelo sacramento da Ordem, eles são “configurados com Cristo” e trazem em si a “figura” ou imagem de Cristo, Pontífice e Sacerdote da humanidade perante Deus. O padres participam do sacerdócio de Cristo, a quem representam perante o povo e com quem devem se “configurar”, para se parecer sempre mais com ele.

Se todos os cristãos, discípulos do Senhor, devem imitar Jesus Cristo e trazer em si os mesmos sentimentos de Cristo Jesus (cf Fl 2,5), isso se aplica tanto mais aos ministros ordenados. A solenidade do S.Coração nos recorda, portanto, os sentimentos e atitudes de Jesus, solidário com a humanidade e bom samaritano de todos os caídos ao longo dos caminhos da vida; de Jesus, anunciador da  Boa Nova, que tem compaixão das multidões que o seguem, famintas e sedentas da Palavra de Deus, mais ainda que de pão; dos chagados e feridos de todos os tipos de dor e sofrimento, para os quais tem uma compaixão e ternura infinitas; da firmeza e clareza transparente do serviço à verdade, de quem também  se indigna diante dos corações endurecidos e resistentes à luz da verdade, da falsidade e das injustiças contra os irmãos.

O Coração de Jesus recorda-nos ainda o perdão generoso oferecido aos pecadores arrependidos e prontos para acolherem a visita de Deus. Recorda, enfim, o Bom Pastor da humanidade, que vai em busca da ovelha que se perdeu e não poupa cuidados para que as ovelhas estejam bem; ele conduz a todas com segurança para pastos verdes e águas límpidas e, finalmente, entrega a vida para defender e salvar as ovelhas... Por isso, toda a Igreja é convidada a fazer orações e elevar preces a Cristo Sacerdote pela santificação dos seus sacerdotes, a fim de que tenham um coração sempre mais semelhante ao dele: “fazei o nosso coração semelhante ao Vosso”. Incentivo, portanto, que em todas as paróquias e comunidades da nossa Igreja, em São Paulo, a organizarem momentos comunitários de oração pela santificação dos sacerdotes e pelas vocações sacerdotais.

No mesmo dia 19, em Roma, o Papa Bento XVI abrirá para toda a Igreja o Ano Sacerdotal; estamos recordando os 150 anos da morte de um zeloso e santo sacerdote: S.João Maria Vianney, o Cura de Ars. Muitas iniciativas serão levadas avante neste ano; de fato, não se trata de um ano “dos padres”, mas dedicado ao sacerdócio, que interessa a toda a comunidade eclesial. Entre outras metas, serão incentivadas as iniciativas de valorização da vocação sacerdotal e da apresentação de uma imagem positiva do sacerdócio na Igreja. O Ano Sacerdotal se estenderá até junho de 2010.

Também no dia 19 de junho, ainda no contexto do Ano Paulino, o clero das 9 dioceses da província eclesiástica de São Paulo estará fazendo a sua peregrinação paulina à Catedral da Sé. Será um momento muito bonito para nossa Igreja! Juntamente com os bispos de suas dioceses, os padres e diáconos das 9 dioceses da nossa província eclesiástica estarão reunidos em torno do Apóstolo São Paulo; ele, que foi perseguidor da Igreja e do próprio Cristo, deixou-se “conquistar” pelo seu Senhor; a partir daí, dedicou sua vida inteiramente a Cristo e ao anúncio do Evangelho, para levar ao maior número de pessoas e povos o conhecimento da salvação realizada por Deus através de Cristo.

Paulo é um grande exemplo de discípulo e missionário para o clero, sobretudo pela sua fiel e generosa dedicação a Cristo e pela sua ardorosa e dinâmica ação missionária. Que a figura de São Paulo possa levar sempre mais jovens vocacionados a doarem sua vida a Deus e à Igreja, como ele fez: “o meu viver é Cristo!”

Artigo publicado em O SÃO PAULO, ed, de 16.06.2009