São Paulo: dor e esperança na cidade

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24/09/2014 - 00:00

Parabéns, cidade de São Paulo, pelos seus 457 anos de fundação, comemorados neste dia 25 de janeiro de 2011. A memória das origens ainda está lá, no Páteo do Colégio, bem no coração da cidade antiga. A poucos passos de lá, na praça da Sé, padre Anchieta, um dos seus fundadores, continua a lembrar ao povo as bases da criação da aldeia, que virou metrópole: a esperança de que fosse um lugar bom para todos, digno de Deus e de todos os seus filhos, que nela habitariam. Padre Nóbrega, meio esquecido, levado para mais longe pelo metrô, ao lado da Assembleia Legislativa indica aos legisladores do Estado, cuja capital foi por ele fundada, que as mesmas bases valem para todo o Estado também.
    

    No centro da praça da Sé, lá está o apóstolo São Paulo, que emprestou o nome à cidade e ao Estado; olhar voltado para o céu, ainda atordoado pelo que viu no encontro com Jesus às portas de Damasco, decidido e enérgico, ele pergunta ao Mestre: Senhor, que queres que eu faça? A figura do apóstolo, perto do “marco zero” da cidade é um convite a que todos os seus habitantes se perguntem sobre o que fazer para que a metrópole seja edificada, ainda hoje, segundo os ideais dos seus fundadores. Para os cristãos, de maneira especial, é a contínua recordação de que são discípulos missionários de Jesus Cristo, enviados a esta cidade complexa e desafiadora, mas também fascinante e cheia de potencialidades; nela, devem refletir a luz brilhante do Evangelho de Cristo, que deslumbrou Saulo de Tarso e o transformou em Paulo, testemunha corajosa de Cristo.
    

    Enorme aglomerado urbano, São Paulo é o coração econômico do Brasil, centro de irradiação de cultura, informação e serviços. Ao longo de quatro séculos e meio, cada geração deixou aqui suas marcas no bem e no mal; tantos problemas foram se avolumando e pesam hoje sobre seus habitantes, muitos dos quais ainda em condições de vida nada condizentes com as potencialidades da cidade. Já foi dito que a São Paulo traz “a coroa de espinhos de Cristo”, com alusão ao cinturão de favelas e pobreza de sua periferia. A imagem ainda permanece e podemos dizer mais: a cidade traz em todo o seu corpo as marcas da Paixão de Cristo. As chagas aparecem na falta de habitações dignas das periferias, nos cortiços do centro, nos moradores de rua, nas cracolândias, nos nichos do crime organizado e da violência, nas áreas degradantes de prostituição, no trânsito caótico...
    

    Menos mal que na Paixão de Cristo também apareceram o Cirineu e Verônica para se solidarizar com Jesus e para aliviar os seus sofrimentos; e Nossa Senhora das Dores não saía do seu lado... São Paulo é também uma cidade generosa, capaz de imensa solidariedade, como testemunham suas inúmeras iniciativas de voluntariado, obras sociais, ajuda solidária, promoção da dignidade humana, defesa da justiça e do direito. Importa que esse sangue bom aumente e inunde, mais que as ruas pelas chuvas de verão, todas as veias do tecido social, cresça e se desenvolva em cada órgão deste imenso organismo urbano.
    

    As comunidades e organizações da Igreja, de maneira especial, são chamadas a serem células geradoras de vida saudável para a cidade; somos herdeiros dos ideais de Anchieta e de Nóbrega e de tantos que contribuíram para que a convivência paulistana fosse edificada sobre as bases e ideais do Evangelho de Cristo. Membros da Igreja, somos também cidadãos e devemos fazer nossa parte para a edificação da cidade no bem; os cristãos leigos, sobretudo, nas comunidades onde vivem, ou em qualquer lugar em que estejam engajados profissionalmente, têm a missão de colocar o sal e o fermento bom do Evangelho de Cristo.
    

    Como fez São Paulo, é preciso continuar a semear na esperança. Os frutos virão, a seu tempo. A esperança não decepciona. Deus abençoe nossa cidade!
    

 

Publicado em O SÃO PAULO, ed. de 25.01.2011