Padre Walter Guillén fala sobre Igreja em Honduras e atuação do Cardeal Maradiaga

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Secretário Executivo do arcebispo de Tegucigalpa participou do 24º Congresso Interamericano de Educação Católica, realizado em São Paulo
Publicado em: 29/01/2016 - 12:15
Créditos: Redação

Por Fernando Geronazzo e Vitor Alves Loscalzo

Secretário Executivo do arcebispo de Tegucigalpa, Honduras, Cardeal Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, Padre Walter Guillén participou do 24º Congresso Interamericano de Educação Católica, realizado no Colégio São Luiz, em são Paulo, de 13 a 15 de janeiro, e teve como tema o papel da escola católica no século XXI.

(Na foto: Cardeal Maradiaga e Padre Guillén)

Em entrevista ao Portal ArquiSP, o sacerdote salesiano falou sobre a realidade eclesial hondurenha e a colaboração do Cardeal Maradiaga no pontificado do Papa Francisco. Leia a entrevista:

Como o senhor descreve a Igreja em Honduras?

Como uma Igreja pujante, florescente, em crescimento, inserida na realidade nacional. É um dos filhos fundamentais dentro do tecido fundamental do país neste momento. Uma Igreja presente, uma Igreja que sabe responder às instancias da esperança, da dor, das necessidades do povo. E uma Igreja que participa profundamente da liberdade, da dignidade, e do povo. Pessoas – alguns protestantes- , veem a Igreja como uma força moral equilibrante dentro do país.

O Cardeal Mariadiaga já é bastante conhecido na América latina, mas se tornou mais conhecido ainda pela sua proximidade, pela sua colaboração com o Papa Francisco, já desde o início do Pontificado. Como que é essa relação deste Cardeal com o Papa?

O ponto forte dessa relação, diríamos, foi a partir do encontro de Aparecida, onde trabalhava na mesma comissão, na comissão de redação, mas já era uma amizade que vinha de muitos anos. Simpatia, coincidências, uma relação, diríamos, de muito respeito e afeto entre os dois, que via amadurecendo na situação do Conclave, com tudo o que internamente havia, que não se sabe e, se sabe-se, não se pode dizer. Então, nesse ponto concreto – tão importante para a Igreja – a relação do Cardeal Mariadiga com o Cardeal Bergoglio, se demonstra ante os olhos dos outros cardeais, como uma relação de verdadeira amizade e fraternidade, a ponto de, para muitas pessoas, ser fácil fazer uma linha de comparação e encontrar similitudes profundas entre os dois, por características de personalidades, por nível de inteligência e inteligências e porque se nota um perfil humano e um perfil sacerdotal comum. No mais, os interesses da Igreja da América latina, que olha, sobretudo, para o povo, para a comunhão, para a significativa de uma presença que anima a Fé e que se faz histórica para que os dois pastores, um no centro da América e outro no sul da América, coincidam profundamente. E nesta situação, o fato de o Papa ter escolhido o Cardeal Rodrigíguez Maradiaga – por simpatia ou poro proximidade – faz-nos ver o que o Papa necessita de uma pessoa que seja interlocutora sua, e que possam juntos e com uma equipe dirigir novas trilhas e novos horizontes – alcança-los, transcendê-los e fixá-los como metas e pontos de partida.

Os Salesianos têm uma relação muito próxima com a educação e a juventude. Como que é esse trabalho pastoral do Cardeal em Honduras com a educação, com a juventude, com a catequese?

O Cardeal é fundador da Universidade Católica em Honduras, que têm uns 35 mil alunos, com dez sedes ou campus acadêmicos. Esta obra já conta com dois hospitais e tem uma proximidade muito grande com os jovens, porque existe uma sintonia natural. Porém a grande preocupação do Cardeal neste momento com a juventude de Honduras e do mundo é uma situação que enxergada a partir do ponto de vista humanístico; o valor do sentido da vida. Persigo, conheço seu discurso, conheço seu pensamento e, neste momento, sei que sua Eminencia concentra sua preocupação em devolver aos jovens um horizonte de sentido, que é o que mais se necessita para devolver-lhes a juventude; consistência, força, dar-lhes uma “vertebralidade” à sua vida, porque a nossa juventude se está evaporando.

Em Honduras, ele [Cardeal Maradiaga] segue sendo o professor das aulas de Teologia Moral, faz 24 anos, ele é o Catedrático desta disciplina no Seminário Maior Nacional Nossa Senhora de (6,13). Quer dizer que ele mantém um contato pessoal com todos os futuros sacerdotes do país, há 24 anos contínuos, então, todos os sacerdotes ingressados neste seminário, tiveram um contato pessoal com ele; ele segue sendo o professor. Quer dizer que a sua relação é uma relação muito próxima e uma relação, digamos, profissional, com todos os sacerdotes de uma nova geração, na qual tentou imprimir um selo de pastoralidade, de humanidade muito importante.

Esse também é um dos motivos de o senhor estar aqui participando deste encontro de educação católica?

Sim, porque, precisamente ao Cardeal, lhe interessa muitíssimo que a educação siga sendo um bastião. Sabemos que a educação é um reservatório de valores, sobretudo se implicamos na educação a família. Não podemos separar a família da educação e a educação da família. Por tanto lhe interessa (ao Cardeal) muitíssimo não só a atualização do termo educação, mas também a atuação da Igreja na educação, porque é um campo que não se pode – por nada – esquecer e nem descuidar. Muito menos desprezar.

Para nós, a escola é uma paróquia. Entendemos a escola como estado permanente de pastoral. Sua Eminência explica a escola como um favo de mel, de abelhas trabalhadoras que estão em estado permanente de zumbido, onde, se à escola se interpreta como o campo que favorece a missão e a pastoral, funcionam dentro das escolas todas as missões e todas as pastorais, que são eco da vida da paroquia. Por isso falar de educação católica e falar de paroquia, em algum momento forte e profundo, vemos que são termos completamente compatíveis e coincidentes. E para Sua Eminência é realmente uma preocupação a qualidade educativa e a qualidade católica da educação.

O Cardeal, junto ao Papa, tem um trabalho muito especifico de participar daquele Conselhos dos Cardeais, que tem uma missão muito importante, que é a reforma da cúria, a restauração da cúria...por vezes ele concede entrevista falando sobre esse processo, sobre essa caminhada. O que se pode dizer sobre a participação do cardeal neste Conselho dos Cardeais?

Como se conhece no mundo inteiro, este Conselho é representativo dos cinco continentes; o Santo Padre queria ter uma ambição e um pulso constante dos signos vitais de toda a Igreja, para desconcentrar a pressão “europeizante” e “italianizante” da Igreja que se preservava nos tempos do Papa Bento XVI. E por isso, uma visão de conjunto desses tópicos e elementos suficientes para o universo católico – não somente a Europa era fundamental. Ele é um homem vindo do sul - muito do sul - que quer compreender o globo completo e não somente uma parte do globo. Como se a gente separasse uma laranja e a cortássemos por fatias. Ele quer ter uma visão completa da laranja, e por isso se assessora destes cardeais que proveem de diferentes lugares do mundo; para ter uma visão equilibrada, objetiva. Para escutar a todos os cristãos e a toas as igrejas do mundo. E ter uma ótica que favoreça com muito mais universalidade o sentido e o sentir da Igreja. Então o Cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga coordena – dirige - o trabalho interno desta comissão, sabendo que o resultado do esforço que eles fazem enquanto equipe de trabalho passa à

uez Maradiagasecretario do Cardial OScar m sua Eminiencao esta disposicao., para perguntas, para comecar s mãos, passa ao coração do Papa; o Papa filtra e, como ele decida, faz, depois de ter escutado a esse Conselho, faz segundo ele, o que o Espirito Santo o corresponda fazer. Algumas coisas são eminentemente consultivas, alguns temas são deliberativos e o Papa está sempre presente nestas sessões de trabalho. Com pequenas ausências às vezes, mesmo porque não é suspensa toda sua agenda. Mas até 90% do tempo o Papa está presente nestas reuniões, com o interesse de dar uma reciprocidade ao trabalho, de forma que não haja um corte entre o que a equipe faz e o que o Papa recebe da equipe, porque em determinados momentos o Papa é parte da equipe e a equipe trabalha para o Papa.

E para o senhor, pessoalmente, como é esta experiência de poder colaborar com um cardeal que tem um trabalho tão grande e para o ministério?

Para mim é uma experiência que abre meu coração a novas expectavas constantemente, porque a personalidade de sua Eminência o Cardeal Rodríguez Maradiaga, que é um homem receptivo, próximo, sabe escutar, sabe compreender, usa muito a empatia então acontece que em diversos lugares do mundo ele é buscado, constantemente solicitado, para consultas, para perguntas, para começar algum tipo de processo, para entender alguma situação que acontece na Igreja. Isso fez-me também emergir-me no mundo da Igreja. Era um princípio de Dom Bosco, que dizia: todo o sacrifício é pouco se se trata do Papa e da Igreja. E eu vejo em sua Eminência esta disposição. Todos o sacrifício é pouco para ele quando se trata do papado e quando se trata da Igreja.